Festival Imaterial regressa a Évora em maio. Mísia, emmy Curl, Ustad Noor Bakhsh e Cocanha entre as primeiras confirmações
A nova edição do Festival Imaterial é anunciada num contexto especial uma vez que o evento acaba de ser distinguido com o Prémio “Contribution to Equality” (Contribuição para a Igualdade), na mais recente edição dos Iberian Festivals Awards.
O esforço que os organizadores do Festival Imaterial e toda a equipa têm realizado no sentido de criar e honrar essa igualdade, prolonga-se por mais um ano, sendo hoje anunciada a sua 4ª edição que se concretiza de 17 a 25 de maio, em Évora.
Carlos Pinto de Sá, Presidente da Câmara Municipal de Évora, partindo das mesmas referências associadas à Liberdade, Igualdade e príncipios humanistas, resume a programação do evento planeada para este ano da seguinte forma: “Imaterial, cumprindo Abril, promove a inclusão e a paz e transforma pela Cultura!”
A programação desta edição volta a realizar-se dentro e fora das muralhas da cidade e inclui propostas de áreas culturais diversificadas como música, cinema, conversas, conferências, visitas a lugares de memória e património e atividades dirigidas a crianças e famílias. Em 2024, o Festival Imaterial reforça, também, a parceria com a IN2PAST que, nesta edição, vai coincidir com a primeira Escola Doutoral/ Boot Camp In2Future de 18 a 24 de maio.
As primeiras confirmações desta edição estão associadas à programação musical do evento e incluem artistas nacionais e internacionais que, de alguma forma, se relacionam com o tema da Liberdade e o interpretam nas suas obras.
Pode parecer insólito visto do presente, mas há 30 anos, quando Mísia iniciou a sua carreira musical, o fado estava muito longe de ser um género que gozasse de popularidade. Menos ainda estava preparado para uma mulher pouco interessada em pedir a bênção a um meio, na altura, muito fechado e conservador. Sempre na vanguarda, em 2022, Mísia celebrou as três décadas de carreira com um tríptico intitulado Animal Sentimental: um novo álbum; um livro da sua autoria, em que conta episódios da sua vida profissional e pessoal; e um concerto, que a cantora trará ao Imaterial, em que essas histórias se cruzam com a música, encenado por Tiago Torres da Silva.
De uma outra geração, emmy Curl, Catarina Miranda (de seu verdadeiro nome), dedica-se a uma pop feérica que, com os anos, se tem aproximado cada vez mais das raízes do folclore português. Sem qualquer romantização da ancestralidade ou do interior, esta é uma música que junta, com naturalidade, a vontade de proximidade com a natureza, a gramática de uma música indie global e uma voz que é de todo o lado sem ver nisso qualquer motivo de embaraço. Se há coisa que emmy Curl aprendeu, desde cedo, é que a liberdade está aí para ser usada.
De outros pontos do globo, chegam a Évora artistas como Ustad Noor Bakhsh (Paquistão), músico que quase aos 80 anos realizou a sua primeira digressão internacional. Editou o seu primeiro álbum, Jingul, em 2022, e o súbito sucesso levou a que, no ano passado, actuasse em festivais como Roskilde e Le Guess Who?, e na maior feira profissional dedicada às músicas do mundo, a Womex.
Depois dos San Salvador e dos Barrut, o Imaterial volta a receber em 2024 uma das mais fascinantes formações da riquíssima música da Ocitânia. Se a tradição da região do sul de França assenta sobretudo na relação entre cantos polifónicos e percussões com uma energia capaz de levantar os mortos, não acontece de forma diversa com as Cocanha. Com a particularidade, no entanto, de tudo acontecer em torno das vozes inebriantes de Caroline Dufau e Lila Fravsse, a que as duas juntam todo o tipo de elementos rítmicos, os pés castigando o chão, as palmas impulsionando o andamento.
O primeiro grupo de confirmações do Festival Imaterial inclui Emel (Tunísia), uma das vozes da Primavera Árabe e diretamente ligada à luta pela Liberdade. Em Janeiro de 2011, no meio de uma manifestação na Avenida Bourguiba, rodeada de milhares de outros protestantes, Emel levantou-se e começou a cantar a cappella “Kelmti Horra” (a minha palavra é livre), no centro da capital tunisina. Os telemóveis e as câmaras por perto não deixaram que o momento se perdesse e, num ápice, a canção tornou-se um hino da Primavera Árabe e Emel passou a ser uma das vozes mais importantes de uma juventude revoltosa e disposta a lutar nas ruas por regimes mais democráticos no mundo árabe. Em 2023, em Nova Iorque, voltou a fazer da sua música um acto político, ao gravar MRA, um álbum 100% feminino e uma ode às mulheres.
Nas palavras de Francisco Madelino, Presidente do Conselho de Administração da Fundação INATEL, entidade que em 2024 renova a sua parceria com o Município de Évora, na coorganização do IMATERIAL, “No ano em que se celebram os 50 anos da Revolução dos Cravos e do estabelecimento sonoro das liberdades de expressão e em que Évora inicia o seu caminho para assumir o compromisso de ser Capital Europeia da Cultura em 2027, urge desenhar este mapa identitário que nos acolhe e conforta, mas que nos diferencia e estabelece diálogos e encontros entre povos e culturas em prol de um diálogo livre, aberto e esclarecido e do respeito pelo outro e da sua forma de ser e estar no mundo”.
Este ano o Festival volta a apostar numa nova imagem para a 4ª edição, que será apresentada com a programação completa e anúncio de todo o cartaz fechado muito em breve.
O Festival Imaterial na passada edição contou com mais de 6 mil espectadores. Este ano é objetivo crescer em visitantes e participantes nas diversas secções do festival, reafirmando o Imaterial como um ponto de encontro, neste que é um dos eventos inscritos no programa geral da candidatura vencedora de Évora a Capital Europeia da Cultura em 2027, no ano em que se comemoram os 50 Anos do 25 de Abril.
O Festival Imaterial é uma organização do Município de Évora e da Fundação Inatel, com produção executiva da Gindungo e direção artística de Carlos Seixas.