Festival Internacional de Cinema de Santarém celebra 50 anos da Reforma Agrária

A 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Santarém, que decorre de 21 a 26 de maio, terá como tema central os 50 anos da Reforma Agrária em Portugal, segundo a programação apresentada.
O festival, dedicado ao cinema de temática agrícola, rural e ambiental, promete uma programação diversificada, entre estreias nacionais, debates, exposições e iniciativas educativas.
Como eixo temático, o festival homenageia o cinquentenário da Reforma Agrária com a exibição do filme “Além da Terra”, do Grupo Zero, marcado para 15 de março na sessão Warm Up (ciclo preparatório que antecede o festival).
“O tema é os 50 anos da Reforma Agrária em Portugal, e teremos o filme ‘Além da Terra’ que foi produzido imediatamente após esse momento histórico. É um filme bastante acessível para contextualizar o que foi esse fenómeno no nosso país e serve como porta de entrada para a nossa programação”, afirmou à Lusa, Francisco Noras, co-diretor do festival.
O Grupo Zero Cooperativa de Produção, liderada pelos cineastas por Alberto Seixas Santos e Solveig Nordlund, foi uma das estruturas resultantes da fragmentação do antigo Centro Português de Cinema, após o 25 de Abril.
“Além da Terra”, concluído por Nordlund e Seixas Santos em 1977, acompanha o processo da reforma agrária no Alentejo “através de uma análise das estruturas sociais e da luta de classes, culminando com a ocupação de terras pelos camponeses e pela tentativa de criação de novas relações laborais e de propriedade”, sgundo a sinopse da obra.
Acompanha casos de sabotagem económica, a organização de trabalhadores em sindicatos, cooperativas e unidades coletivas de produção, reivindicações de emprego e salários, e a afirmação da palavra de ordem “A terra a quem a trabalha”.
Patente no filme, também a reação de agrários expropriados, intermediários, latifundiários do Norte e de seareiros do Sul.
Os 50 anos da Reforma Agrária será ainda assinalada com uma mesa-redonda organizada pela Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril e uma exposição curada pelo arquivo Ephemera, de José Pacheco Pereira, com o objetivo de transportar o público para o contexto histórico e social da época.
Um dos destaques do festival é a rubrica “Cinema à Mesa”, iniciativa que alia gastronomia e sétima arte, desafiando ‘chefs’ a criarem menus inspirados em curtas-metragens.
No âmbito desta iniciativa, será exibido, no Teatro Sá da Bandeira, o filme “Pão”, de Manoel de Oliveira, seguido de dois ‘workshops’ sobre fabrico de pão.
A sessão de encerramento contará com a estreia nacional de “Mulheres”, da realizadora catalã Marta Lallana, filme que, segundo Francisco Noras, demonstra o crescimento internacional que o festival tem tido nos últimos anos.
“Conseguir trazer títulos inéditos que dialogam bem com a nossa programação é uma grande vitória. Isso deve-se à presença internacional que temos vindo a consolidar ao longo das últimas edições”, reforçou o co-diretor do festival.
Em 2024, o festival registou 1900 espetadores e tem vindo a ganhar visibilidade nacional e internacional como evento dedicado ao cinema de temática agrícola, rural e ambiental.
“Temos sido uma plataforma para um tipo de cinema diferente”, destacou.
A crescente visibilidade levou o festival a receber um convite do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) para marcar presença no Festival de Cinema de Berlim e no European Film Market.
“Isso permitiu-nos não só promover o festival, mas também trazer os melhores filmes contemporâneos para a nossa programação”, sublinhou Francisco Noras.
Para a edição deste ano, foi estabelecida uma parceria com a Castelo Lopes, com o objetivo de descentralizar o festival e alargá-lo a públicos mais vastos, através de uma sessão especial, no dia 26, às 09:30, com a exibição dos filmes vencedores.
“Achámos que fazia todo o sentido abrir o festival a um público mais comercial, habituado a outro tipo de sala”, explicou.
O projeto educativo do festival, à semelhança no ano passado, mantém-se como um dos pilares da programação, através da realização de iniciativas em várias escolas nos concelhos de Santarém, Almeirim, Alpiarça e Rio Maior, em parceria com a Escola Superior Agrária.
Segundo os responsáveis, a programação ainda está a ser trabalhada e irá incluir ‘workshops’ para várias faixas etárias.
Este ano, o festival recebeu 320 submissões de filmes, um aumento face às 250 do ano passado.
“O festival está cada vez mais reconhecido lá fora. Crescemos porque nos diferenciamos pela temática e pela ligação à região, e isso tem impacto internacional”, concluiu Francisco Noras.