Festival Internacional de Cinema de Santarém celebra 50 anos da Reforma Agrária

por Lusa,    13 Março, 2025
Festival Internacional de Cinema de Santarém celebra 50 anos da Reforma Agrária
“Além da Terra” (1977), filme de Nordlund e Seixas Santos
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A 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Santarém, que decorre de 21 a 26 de maio, terá como tema central os 50 anos da Reforma Agrária em Portugal, segundo a programação apresentada.

O festival, dedicado ao cinema de temática agrícola, rural e ambiental, promete uma programação diversificada, entre estreias nacionais, debates, exposições e iniciativas educativas.
Como eixo temático, o festival homenageia o cinquentenário da Reforma Agrária com a exibição do filme “Além da Terra”, do Grupo Zero, marcado para 15 de março na sessão Warm Up (ciclo preparatório que antecede o festival).

“O tema é os 50 anos da Reforma Agrária em Portugal, e teremos o filme ‘Além da Terra’ que foi produzido imediatamente após esse momento histórico. É um filme bastante acessível para contextualizar o que foi esse fenómeno no nosso país e serve como porta de entrada para a nossa programação”, afirmou à Lusa, Francisco Noras, co-diretor do festival.

O Grupo Zero Cooperativa de Produção, liderada pelos cineastas por Alberto Seixas Santos e Solveig Nordlund, foi uma das estruturas resultantes da fragmentação do antigo Centro Português de Cinema, após o 25 de Abril.

“Além da Terra”, concluído por Nordlund e Seixas Santos em 1977, acompanha o processo da reforma agrária no Alentejo “através de uma análise das estruturas sociais e da luta de classes, culminando com a ocupação de terras pelos camponeses e pela tentativa de criação de novas relações laborais e de propriedade”, sgundo a sinopse da obra.

Acompanha casos de sabotagem económica, a organização de trabalhadores em sindicatos, cooperativas e unidades coletivas de produção, reivindicações de emprego e salários, e a afirmação da palavra de ordem “A terra a quem a trabalha”.

Patente no filme, também a reação de agrários expropriados, intermediários, latifundiários do Norte e de seareiros do Sul.

Os 50 anos da Reforma Agrária será ainda assinalada com uma mesa-redonda organizada pela Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril e uma exposição curada pelo arquivo Ephemera, de José Pacheco Pereira, com o objetivo de transportar o público para o contexto histórico e social da época.
Um dos destaques do festival é a rubrica “Cinema à Mesa”, iniciativa que alia gastronomia e sétima arte, desafiando ‘chefs’ a criarem menus inspirados em curtas-metragens.

No âmbito desta iniciativa, será exibido, no Teatro Sá da Bandeira, o filme “Pão”, de Manoel de Oliveira, seguido de dois ‘workshops’ sobre fabrico de pão.

A sessão de encerramento contará com a estreia nacional de “Mulheres”, da realizadora catalã Marta Lallana, filme que, segundo Francisco Noras, demonstra o crescimento internacional que o festival tem tido nos últimos anos.

“Conseguir trazer títulos inéditos que dialogam bem com a nossa programação é uma grande vitória. Isso deve-se à presença internacional que temos vindo a consolidar ao longo das últimas edições”, reforçou o co-diretor do festival.

Em 2024, o festival registou 1900 espetadores e tem vindo a ganhar visibilidade nacional e internacional como evento dedicado ao cinema de temática agrícola, rural e ambiental.

“Temos sido uma plataforma para um tipo de cinema diferente”, destacou.

A crescente visibilidade levou o festival a receber um convite do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) para marcar presença no Festival de Cinema de Berlim e no European Film Market.
“Isso permitiu-nos não só promover o festival, mas também trazer os melhores filmes contemporâneos para a nossa programação”, sublinhou Francisco Noras.

Para a edição deste ano, foi estabelecida uma parceria com a Castelo Lopes, com o objetivo de descentralizar o festival e alargá-lo a públicos mais vastos, através de uma sessão especial, no dia 26, às 09:30, com a exibição dos filmes vencedores.

“Achámos que fazia todo o sentido abrir o festival a um público mais comercial, habituado a outro tipo de sala”, explicou.

O projeto educativo do festival, à semelhança no ano passado, mantém-se como um dos pilares da programação, através da realização de iniciativas em várias escolas nos concelhos de Santarém, Almeirim, Alpiarça e Rio Maior, em parceria com a Escola Superior Agrária.

Segundo os responsáveis, a programação ainda está a ser trabalhada e irá incluir ‘workshops’ para várias faixas etárias.

Este ano, o festival recebeu 320 submissões de filmes, um aumento face às 250 do ano passado.
“O festival está cada vez mais reconhecido lá fora. Crescemos porque nos diferenciamos pela temática e pela ligação à região, e isso tem impacto internacional”, concluiu Francisco Noras.

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