“Final Fantasy VII Remake”: uma das obras primas dos últimos anos

por João Miguel Fernandes,    24 Abril, 2020
“Final Fantasy VII Remake”: uma das obras primas dos últimos anos
“Final Fantasy VII Remake”
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Este artigo contém spoilers

Introdução à história e contexto

23 anos separam o lançamento de Final Fantasy VII  na velhinha Playstation 1 e o lançamento de Final Fantasy VII Remake (FF7 Remake) agora na Playstation 4. Muito mudou na indústria dos videojogos nos últimos 23 anos, mas de que forma é que este renovado jogo está realmente diferente?

Final Fantasy VII foi lançado pela Square em 1997. O jogo atingiu rapidamente o topo, vendendo milhões de unidades e sendo descrito como um dos melhores jogos de sempre, muito graças ao seu enredo original, personagens complexas e cativantes e jogabilidade estratégica. Tal como na maioria dos jogos da saga Final Fantasy, a história e personagens são o ponto forte do jogo.

Final Fantasy VII conta a história do mercenário Cloud Strife, contratado pelo grupo eco-terrorista AVALANCHE – liderado por Barret Wallace – para ajudar a combater a mega corporação Shinra Electric Power Company, que tenta drenar a força vital do planeta como fonte de energia para promover os seus lucros. Pelo meio há algum romance, muita tragédia, personagens incríveis, histórias ainda mais incríveis e muito combate.

Estamos portanto perante um dos jogos mais esperados da história dos videojogos, com uma expectativa bem acima do normal e que pode gerar a revolta total nos fãs da Square Enix ou trazê-los de volta, após muitos terem ficado decepcionados com Final Fantasy XV.

Jogabilidade/Combate

Estamos perante o melhor sistema de combate alguma vez criado num Japanese Role-Playing Game (JRPG). Esta afirmação pode ter um certo peso, mas existem inúmeras razões para acreditar nisto. Ao longo dos anos a Square tem testado mudanças minúsculas no seu sistema de combate. Na sua essência a maioria dos JRPGs funcionam por turnos, sendo que os personagens ficam estáticos à espera que chegue o seu momento de acção. Esta função foi alterada com os JRPGs mais modernos, passando agora a existir liberdade de movimento associado a essas mesmas decisões. Ou seja, continuamos a ter que esperar alguns segundos até decidirmos uma acção, mas podemos movimentar-nos e até mesmo usar ataques de menor impacto. Esperava-se um salto qualitativo no sistema de combate de Final Fantasy XV, mas a verdade é que isso não aconteceu. Apesar de conseguir realmente criar um sistema fluído misto entre um RPG de acção e um JRPG mais clássico, esses sistema tinha demasiadas falhas para ser levado como exemplo futuro (demasiado fácil, demasiado repetitivo e com pouco uso de estratégia).

Final Fantasy VII Remake pegou nos ensinamentos dos JRPGs clássicos, em detalhes de Final Fantasy XIII e no sistema de combate do Final Fantasy XV e uniu-os de forma coesa. Não conseguimos derrotar grande parte dos inimigos a carregar sistematicamente nos botões de ataque. Não conseguimos derrotar bosses ou inimigos mais complexos sem usar estratégia, sem pensar em todas as próximas acções, quem vai usar itens e quando, quem vai curar os outros personagens, quando usar um Summon, quando usar um determinado ataque especial (e caso falhemos o timing perdemos não só essa acção como também parte dos nossos magic points). Final Fantasy VII Remake conseguiu unir a estratégia dos JRPGs clássicos com o melhor dos RPGs de acção, sem prejudicar nenhum dos dois. O combate é também variado: combater com um robô é bastante diferente de derrotar Sephiroth ou lutar contra Rufus, Reno ou um inimigo voador.

“Final Fantasy VII Remake”

Além destes detalhes ainda temos que considerar o que cada personagem tem para oferecer a nível de jogabilidade. Cada um dos quatro personagens jogáveis são bastante diferentes, o que altera completamente a forma como devemos abordar um combate. Existem ocasiões em que precisamos rapidamente de algum deles e temos que alternar entre os personagens enquanto seleccionamos outras acções. A jogabilidade ou combate não é propriamente difícil, mas tem algum desafio em determinados momentos. Aliás, a saga Final Fantasy nunca foi considerada extremamente dificil, excepto certos casos específicos de bosses alternativos.

As lutas de realidade virtual num dos capítulos finais são um desafio, principalmente a luta contra todos os Summons. Além disso, assim que se completa o jogo fica disponível o acesso ao modo de dificuldade acrescida, o que permite não só revisitar cada capítulo do jogo à vossa escolha, como completar o jogo a 100%.

Não há dúvida que esta jogabilidade tem tudo para criar a base do futuro dos JRPGs, mesmo que esse futuro seja numa nova geração de consolas.

História/Personagens

É importante referir que Final Fantasy VII Remake não é um remake a 100%, é uma nova abordagem ao jogo original. Não esperem que todos os detalhes sejam iguais, há diferenças significativas, principalmente no final. Existem realidades alternativas, personagens novos, caminhos novos, embora a essência se mantenha a mesma.

As missões secundárias são interessantes para quebrar a rotina da história principal, mas acrescentam muito pouco e podiam ser mais exigentes. Torna-se um pouco ridículo procurar gatos ou crianças num mapa pequeno sem tempo limite,  mas esse não é um problema grave do jogo, é apenas algo que poderia ter sido feito de outra forma. Os mini jogos estão excelentes e por norma têm algum desafio (aqueles pull-ups deram cabo da minha mão).

A relação entre personagens está a um nível incrivel, os momentos dramáticos são dignos do topo de momentos da Playstation 4. Existe muito mais sentimento entre os personagens do que no Final Fantasy VII original. Os momentos entre Cloud e Barret são quase tocantes na forma como subtilmente vão ficando cada vez mais amigos, mas é na relação com os personagens femininos e principalmente com Aerith que o jogo prima. Os momentos entre Cloud e Aerith são tudo aquilo que sonhámos e ainda mais. O facto do jogo ser algo limitado a nível de exploração faz com que nos foquemos mais na história e nos seus personagens, algo que Final Fantasy XV deveria ter feito melhor.

“Final Fantasy VII Remake”

É certo que por vezes é ridículo que exista uma barreira invisível que não nos deixa explorar mais o mapa, mas no contexto geral faz sentido e nunca chateia verdadeiramente. A nova abordagem com universos paralelos, Whispers, um Sephiroth que sabe bem mais do que anteriormente e a possibilidade de Zack Fair estar vivo noutra realidade alternativa vão dividir muitas opiniões. Por um lado poderá ser um truque da Square para nos manter atentos e interessados para o novo capítulo, por outro poderá significar uma abordagem completamente diferente para a segunda parte, com momentos ainda mais diferentes do jogo original. Uma coisa é claro, para o bem ou para o mal há uma certa influência de Kingdom Hearts neste jogo, assim como do filme Advent Children, o que é natural já que o responsável por todas essas obras e este Final Fantasy VII Remake é o mesmo, Tetsuya Nomura.

A história principal do Final Fantasy VII original mantém-se praticamente inalterada, mas existem muitas diferenças significativas que podem sugerir uma segunda parte bem diferente do que o jogo original nos ofereceu. Uma coisa é certa, a forma como aprofundaram personagens como Jessie, Aerith, Tifa e Barret já vale todo o nosso dinheiro (o capítulo da história da Jessie é dos melhores do jogo). Também Reno, Rude, Rufus, Hojo e outros novos personagens estão a um nível excelente.

“Final Fantasy VII Remake”

Banda Sonora/Visuais/Aspectos Técnicos

A nível técnico, Final Fantasy VII Remake é um regalo para os olhos e ouvidos. A banda sonora original de Nobuo Uematsu, aqui reinterpretada por Masashi Hamauzu e Mitsuto Suzuki é das melhores que ouvimos nos últimos anos; a realização e montagem das sequências de video estão incríveis e bastante intensas; os gráficos são uma prova de que visualmente a PS4 é ainda bastante forte, embora mais limitada em jogos maiores.

“Final Fantasy VII Remake”

Os personagens continuam, obviamente, a ter um aspecto de anime, mas desta vez as suas expressões estão assustadoramente reais. As expressões de Cloud e Aerith dizem tanto sobre as suas personalidades que quase nos catapultam para as suas mentes. Os tempos de loading foram inteligentemente disfarçados, existindo muito poucos ao longo do jogo, ou pelo menos que nos façam perder a paciência.

Opinião geral

Final Fantasy VII Remake é um dos melhores jogos feitos para a Playstation 4 e a prova de que a Square ainda consegue criar obras primas. O seu sistema de combate é algo do mais inovador que vimos nos últimos anos em videojogos e os personagens estão ainda mais impressionantes, tanto visualmente como a nível da sua história e humanismo. A profundidade emocional de cada personagem é soberba e deixa-nos de água na boca para a segunda parte.

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