FlorCaveira fazem 20 anos e reeditam 20 discos
“Em 2020 a FlorCaveira desenterra 20 clássicos para celebrar o seu 20.º aniversário”, lê-se no comunicado de imprensa da editora discográfica FlorCaveira, uma das mais importantes no panorama da música independente portuguesa, que nos deu a conhecer grandes músicos nacionais. A transição da adolescência para a vida adulta traz novas responsabilidades à editora: a partir do dia 16 de janeiro, passa a ser também agência.
Para já, a agência FlorCaveira tem seis músicos sob a sua égide. São eles Tiago Cavaco, o grande responsável por esta editora/agência; O Martim, que para além de ter composto verdadeiros clássicos como ‘A Cinderela do Cais’, oferece-nos, no seu canal de YouTube, alguns dos melhores telediscos nacionais; Lipe (ex)-vocalista dos Pontos Negros, que ingressa agora numa carreira a solo; Manel Ferreira, autor de belo folk, já com três discos no currículo; Jacinto Manupela, escritor e ex-integrante d’Os Quais, que detêm o prémio do melhor Meio Disco da música portuguesa; e José Camilo, um verdadeiro punk rocker, “voz tabágica” incluída.
“Religião e Panque Roque desde 1999”
Fundada por Tiago Cavaco – ou Guillul, que é Cavaco em hebraico – em 1999, a editora começou de uma maneira bastante informal, a partir de um website onde o “núcleo duro” partilhava textos, crítica musical e bandas desenhadas, gravando canções paralelamente. Entre 1999 e 2002, a FlorCaveira viveu a sua “pré-história”, com a gravação de canções não catalogadas que viriam a dar origem ao disco “8 canções de Tiago Guillul”, com participações de Samuel Úria e Bruno Morgado. Abriu-se, assim, o precedente para a gravação de muitos outros mais, tanto das várias bandas de Guillul e dos primeiros florcaveiras, como de vários outros artistas que se foram juntando posteriormente.
A FlorCaveira nasceu no seio da Igreja Protestante, onde Guillul é pastor. Da família fazem parte nomes como Samuel Úria, Os Pontos Negros, João Coração, Alex D’Alva Teixeira, João Eleutério, o herege B Fachada (o primeiro a lançar um disco com palavrões, rotulado com o aviso “Este objeto fonográfico não contém ortodoxia cristã”, como nos conta Guillul na série documental da Antena 3, I Love My Label) e Jorge Cruz. A renovada paixão de Cruz pelo rock’n’roll cantado em português fez nascer os Diabo na Cruz, banda que formou juntamente com Bernardo Barata, João Gil, João Pinheiro e B Fachada, e cujo primeiro EP, Dona Ligeirinha, foi editado pela FlorCaveira.
A editora surge enquanto contra-movimento à grande epidemia dos anos 1990 – músicos portugueses a cantarem em inglês. Na sua apresentação, a FlorCaveira manifesta-se enquanto “gente a sério, a tocar a sério, cantando palavras a sério.” Aqui, os artistas cantam em português, e no álbum IV, de Guillul, podemos encontrar uma música-manifesto contra a “saloiice” de se cantar em inglês quando se tem uma língua tão rica para explorar.
Louvação aos 20 anos de FlorCaveira
A última grande celebração pública da família FlorCaveira deu-se com o décimo aniversário e consequente reedição do disco IV, de Tiago Guillul. O original foi um dos discos que marcou 2008 como um dos melhores anos da música portuguesa da década de 2000, e a reedição conta com a participação de vários nomes importantes para a história da editora. Para além dos habituais, podemos encontrar parcerias com Luís Severo, HMB, Benjamim, Filipe Sambado, Tiago Bettencourt e Manuel Fúria. A grande festa de aniversário deu-se a 29 de novembro de 2018 num animadíssimo concerto no B.Leza.
A mini-residência de Samuel Úria no Musicbox “Pés de Roque Enrole” foi também um exercício carregado de revivalismo dos primeiros anos de FlorCaveira, onde tirou do baú músicas transpiradas de “panque-roque do Senhor” de Samuel Úria e as Velhas Glórias (Samuel, Guillul e Eleutério) e d’Os Ninivitas.
A continuação da celebração da FlorCaveira dá-se com a reedição digital de 20 discos, que acontecerá ao longo dos próximos meses. De quinze em quinze dias, serão relançados discos que marcaram a história da editora. O primeiro ficará disponível para o público já no dia 17 de janeiro.
Este artigo foi escrito por Kenia Sampaio Nunes e originalmente publicado em Espalho Factos.