Frankie Cosmos mantém-se fiel às suas origens em ‘Vessel’

por Sara Miguel Dias,    9 Abril, 2018
Frankie Cosmos mantém-se fiel às suas origens em ‘Vessel’
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É complicado descrever a carreira de Greta Kline com brevidade; actualmente de 24 anos, tem desde 2010 enriquecido o seu portefólio musical com exclusivos à plataforma Bandcamp sob uma enorme quantidade de alias. Pela sua própria mão, independentemente e em casa, como bem pede o estilo em que se insere, Kline, com apenas uma guitarra ou um cavaquinho, começou a escrever pequenas histórias de vida ou observações mundanas, muitas vezes do quotidiano da sua cidade, Nova Iorque. A sua voz, dócil e infantil, conectou não só com um público jovial, continuamente à procura de inspiração na expressão artística, como também com críticos de música. E se Ingrid Superstar foi um projecto que começou com curtos temas gravados num quarto enquanto Kline superava uma gripe, a cantautora apresenta agora o seu terceiro full length, “Vessel” com o seu heterónimo de maior visibilidade, Frankie Cosmos.

Frankie Cosmos / Fotografia de Jatnna Nuñez, Fuse

Desde o inicio que a musica de Kline reflecte a sua personalidade, honestidade e vulnerabilidade enquanto jovem adulta, priorizando a observação sobre a poetização dos momentos que vive, recorrentemente referindo-se a sujeitos de passada afeição, remoendo sobre essas mesmas magoas, por vezes recordando o seu falecido cão Jojo, ao qual dedicou a maioria das faixas no seu primeiro álbum de estúdio “Zentropy”, espécie animal que persiste em celebrar, desta na capa de “Vessel”. Sonicamente, este surge como uma continuação, um encorpar e fortificar melódico, particularmente da secção rítmica, com as percussões a fazerem-se denotar como um dos principais elementos instrumentais, o que é bem audível na progressão de “Jesse”, completando uma trilogia de álbuns que, ainda que simples, personificam a essência do que se quer do indie pop e do lo-fi de hoje. Liricamente, Kline abraça mais a abstracção neste projecto do que em qualquer outro, nunca revogando contudo a sua primordial matéria de conteúdo. Começando com “The light in the world is dull / It’s hard / Light empties space through the darkness / Close my eyes and they start to sting” em “Caramelize”,  em “This Stuff” retoma a retórica cénica e visual dos predecessores – “I’m living in a condo / It replaced your favorite movie theater though”. A conexão entre ser e o mundo é também foco de preocupação, particularmente na primeira metade deste LP, com “Accommodate”, “Apathy” e “Hereby” a sintetizarem bem o estado de espírito de Greta e a maturidade que os anos lhe têm trazido.

Na segunda metade deste álbum Kline salvaguarda mais então as ditas características líricas passadas. Começa com melodias de tempo mais acelerado (“Being Alive”), o que faz este segundo lado do álbum parecer ter sido inicialmente concebido durante uma urgente corrente de consciência, mas que acalma com a progressão das faixas, culminando em “The End” e “Vessel”.

“Vessels” é um álbum de gratificação por algumas coisas se manterem fiéis a si próprias. O conforto vem pela simplicidade e naturalidade da expressão da autora, que, ainda nova, é já uma veterana inspiração aos seus contemporâneos – inegável a influencia que exerce no trabalho de Waxahatchee ou Adult Mom. Greta Kline permite-nos visualizar um universo real com as suas palavras, tornando as suas composições quase curtas metragens cinematográficas, transportando-nos para um mundo que, ainda que tangível, é nosso só em imaginação.

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