‘Future’, esperava-se mais de um dos mais importantes artistas da música trap

por Miguel de Almeida Santos,    28 Fevereiro, 2017
‘Future’, esperava-se mais de um dos mais importantes artistas da música trap
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A música trap tem vindo a ganhar popularidade desde a sua separação do crunk no início da primeira década de 2000. Familiarizado pelas mãos de rappers como T.I. ou Gucci Mane, este estilo musical tem aumentado a sua influência na cultura musical desde então. Os instrumentais são facilmente reconhecíveis: melodias digitais de sintetizadores acompanhadas de pratos de bateria efervescentes. As letras abordam a dureza da trap, um local de pobreza, crime e violência e glorificam a cultura da rua de carros, armas e mulheres. No início da actual década a música trap ganhou força e hoje em dia a sua expansão é clara: mais recentemente vemos os instrumentais característicos replicados por Beyoncé no aclamado Lemonade e em Starboy de The Weeknd . E sendo a música pop um dos géneros que mais alcance musical tem é notória a evolução da música trap, com uma sonoridade cada vez mais mainstream.

Uma das principais estrelas deste género de hip-hop é Future, um rapper oriundo de Atlanta nos Estados Unidos, uma cidade intimamente associada com a música trap. Future usa extensivamente a ferramente de auto-tune, o que lhe confere um timbre vertiginoso e electronicamente arranhando, sendo que o rapper alterna frequentemente entre o canto e o rap, criando uma junção à sua maneira pessoal. O seu maior contributo musical é Dirty Sprite 2 (DS2), um álbum que revela os diferentes lados de Future com instrumentais fiéis a este género de música e temas líricos com negrume, sobre a perdição do artista num universo rico que não o satisfaz. DS2 é talvez o álbum mais pessoal de Future e sem dúvida o seu melhor trabalho. Depois de Evol no ano passado chega-nos Future, o primeiro em título próprio.

Depois do sucesso que Future alcançou e do seu papel preponderante em aumentar a visibilidade da música trap, seria de esperar que o artista continuasse a explorar a sua sonoridade e progredisse na sua abordagem musical. Mas este novo álbum mostra que não é esse o caso. Future estica três ou quatro ideias musicais durante uma hora dolorosa na sua maioria. É um álbum genérico e banal, composto por dezassete faixas munidas do flow ofegante de Future (e sem participações de mais artistas) e letras na sua maioria de provocar o bocejo acompanhadas por batidas que se confundem entre si porque não têm elementos que as distingam. Os seus momentos mais reconhecíveis dividem-se entre duas categorias: a primeira é composta por músicas mais sentimentais como a faixa final “Feds Did a Sweep”, um dos momentos mais contidos do álbum em que Future relembra com tristeza um amigo morto numa busca policial, ou “When I Was Broke”, um tema mais profundo com uma melodia expressiva de piano e um sintetizador que escorrega com distorção, que acompanham um flow mais entusiasmante de Future. Mas a repetição incessante de temas e batidas tira muito do valor que estes momentos mais emocionantes transmitem.

Na outra categoria de músicas do álbum temos momentos a que Future já nos habitou, com a pujança trap já conhecida de outros tempos. A faixa de abertura “Rent Money” é extremamente eficaz nesse aspecto, é uma daquelas músicas de Future para ouvir bem alto e abanar a cabeça ao som da batida intoxicante e a voz reconhecível do artista. “Poppin’ Tags” também se inclui nesta categoria, com o seu instrumental possante e sempre “em alerta” e “Zoom” dá andamento ao rap de Future com um instrumental rápido e dilacerante. Em Future a maioria dos momentos de destaque são a nível instrumental: além das músicas já referidas, a tradicional flauta em “Mask Off” ou “Feds Did a Sweep” ajuda a criar uma atmosfera mais intimista nas músicas que adorna e “Might as Well” também invoca essa mesma atmosfera, com pequenos acordes de piano que vão acompanhando a batida de trap semelhante a tantas outras no álbum mas que difere por causa desse elemento.

A música trap não é a mais eloquente das expressões artísticas mas esperava-se mais de um dos seus mais importantes artistas neste momento. Apesar da “futilidade” das letras e a especificidade deste género musical os pares de Future mostram qualidade nos seus novos lançamentos, não parecendo deixar esses factores influenciarem a sua prestação musical: Culture de Migos lançado no mês de Janeiro mostra um trabalho consistente e bem constituído e a mixtape Jeffery deYoung Thug lançada no ano passado continua a caminhada unicamente curiosa deste rapper com um lançamento interessante. No caso de Future, nos poucos momentos de alguma qualidade vemos músicas que são adequadas para pôr a bombar bem alto no carro mas sem grande valor como arte musical. São músicas para não pensar muito no que se está a ouvir, música de fundo de um artista que já mostrou ser capaz de melhor neste género musical em crescimento constante.

Músicas preferidas: “Might as Well”; “Feds Did a Sweep”; “Mask Off”
Músicas menos apelativas: “Scrape”; “I’m so Groovy”; “Massage in My Room”

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