Ganso desvendam no Musicbox um mundo musical caricato

por Miguel de Almeida Santos,    14 Abril, 2017
Ganso desvendam no Musicbox um mundo musical caricato
PUB

Os Ganso passaram ontem pelo Musicbox para apresentar o seu primeiro álbum Pá Pá Pá numa sala esgotada por amigos, familiares e sobretudo fãs deste grupo. Os jovens de Lisboa têm conquistado corações desde que “Pistoleira” invadiu as rádios, com tanta pinta como a da personagem dessa música. A sua mistura de rock psicadélico com a sonoridade vintage que lembra bandas de outros tempos transpareceu durante uma actuação em que também se ouviram temas do primeiro EP da banda, Costela Ofendida.

Desde o momento inicial que a pequena multidão entrou num mundo da banda, introduzido por uma cena do filme Who Framed Roger Rabbit, em que o detective Eddie Valiant entra pela primeira vez em Toontown, a cidade dos desenhos animados. Após a cena acabar, os Ganso entram em palco. “Gostaram do filme? Já tinham visto a fita? Nós gostamos muito de desenhos animados”, diz a certa altura o vocalista João Sala, de cara comicamente pintada de branco. “Conversas Repetidas” abriu a actuação com todo o seu ímpeto tribal, e com um solo à The Doors, um tema com uma melodia cantada que lembra qualquer coisa dos Capitão Fausto, parceiros de Ganso na editora Cuca Monga e amigos do grupo na vida além da música.

A atmosfera foi de descontracção e leveza ao longo de toda a actuação, com uma força constante do público a acompanhar as músicas de Ganso. O alinhamento flutuou entre Pá Pá Pá e Costela Ofendida com toda a destreza e ímpeto que a música destes jovens transmite. “Brad Pintas” espalhou a sua ginga com a voz “fanfarrona” de Sala e o baixo a carregarem o tema, seguida de “Idalina”, de versos marcados por uma guitarra seca munida de reverb antes de uma parte mais possante no final com direito a crowd surf, algo que se viu várias vezes no concerto. Em músicas como “Grilo do Nilo”,  a melodia apelativa e reconhecível do refrão encheu a sala ao ser entoada em uníssono pelo público, que aproveitou a atmosfera para mais um crowd surf.

Em “Quando a Maldita” os Ganso chamaram a palco um músico para tocar a bela melodia de clarinete desta música pintalgada de blues. Esse mesmo intérprete encheu a parte instrumental de “Salamandra” ao soprar um solo de harmónica seguro e atmosférico, adequado à sonoridade da música que escorregou suavemente, meio “misteriosa”, tornada espacial pelos sintetizadores que adornam o seu início. Depois de o instrumental “Gansão” servir quase como uma reflexão a meio desta entusiasmante actuação, “Tanto Faz” deixou muita gente a mexer-se ao som da mesma, que convida a isso, descontraída e sem se levar muito a sério, com um falsete brincalhão complementado por umas teclas frenéticas.

“Vamos tocar mais uma música do álbum que viemos apresentar, Pá Pá Pá!”, disse João Sala, exclamando o nome do álbum antes de “Domingueira”. No final desta música, um frenesim disfarçado de solo com direito a luzes intermitentes encerrou o instrumental vintage e atmosférico e introduziu “Dança de Sabão” com uma abordagem meio “carnavalesca” que soa a um carrossel psicadélico, a invocar mais uma vez o mundo cartoon adorado pelos membros da banda. Para terminar, a já conhecida “Pistoleira” ditou o final estrondoso e encantou mais uma vez com o seu tom convidativo e meio sedutor. A parte acelerada foi acompanhada por um fã a “flutuar” por cima da multidão em mais um crowd surf glorioso.

O concerto acabou com a cena final de Who Framed Roger Rabbit a ser projectada, mostrando os desenhos animados a voltarem para Toontown. Um “That’s all, folks!” final conduziu à saída de palco e estava feito o exercício musical de Ganso no Musicbox. Conseguiram transmitir fielmente a sua pujança artística, a força de uma banda que é jovem em idade, mas que parece já ter muito para contar.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados