Grupo de jornalistas chineses de Macau denunciam “grave deterioração” de liberdade de imprensa
A Associação dos Jornalistas de Macau denunciou a “grave deterioração” da liberdade de imprensa no território e pediu às autoridades para porem termo às “excessivas restrições” impostas aos trabalhadores dos ‘media’, nomeadamente o acesso a conferências de imprensa.
O grupo de jornalistas chineses de Macau está “profundamente preocupado” com “vários casos recentes que revelam sinais de uma grave deterioração da liberdade de imprensa”, indicou num comunicado divulgado na quinta-feira nas redes sociais.
“Um número crescente de atividades recentes promovidas por departamentos do Governo local impediu o direito a informar de uma série de ‘media’, através da utilização de um sistema de registo de presenças ou ao convidar apenas um grupo de meios selecionados para os eventos que organizaram”, apontou a associação.
Ações que “são claramente contrárias à ‘liberdade de acesso às fontes de informação’ dos jornalistas, um direito consagrado na Lei de Imprensa de Macau”, sublinhou.
Desde meados de outubro, indicou a associação, as autoridades começaram a “impedir uma série de meios de comunicação social de noticiar eventos que organizam”, nomeadamente a abertura do ano judiciário, conferências de imprensa do Conselho Executivo ou atividades com o chefe do executivo eleito, Sam Hou Fai.
“A justificação oficial do Governo limitou-se a afirmar que ‘devido à crescente procura por parte dos órgãos de comunicação social fora de Macau’, nem todos os órgãos podem cobrir o evento devido aos ‘recursos e lugares limitados’ que podem ser atribuídos aos jornalistas no local do evento”, lê-se no comunicado.
A prática, cada vez mais comum, “não tem precedentes desde a transferência de soberania de Macau” para a China, notou a associação.
Numa outra queixa, os jornalistas chamaram a atenção para “um crescente número de casos” em que foi pedido a meios de comunicação social para “retirarem peças devido a pressões políticas, incluindo um artigo de opinião” publicado durante a campanha de Sam Hou Fai.
Mas há outras “tendências preocupantes”, observaram, nomeadamente a divulgação de comunicados de imprensa em vez da organização de eventos com a presença de jornalistas, “especialmente no caso de atividades em que o chefe do executivo ou altos funcionários estejam presentes”.
“Nessas atividades – mesmo em ocasiões que estão abertas à cobertura da imprensa – a oportunidade de trabalhar só é extensível a um número selecionado de meios de comunicação social que têm relações estreitas com o Governo”, referiu.
Além de dificuldades em chegar à fala com membros das autoridades, a associação criticou ainda o desempenho dos assessores de comunicação do Governo, que ou “não respondem, ou respondem pouco ou com atraso”.
Práticas que “reduzem os jornalistas a instrumentos de propaganda” e “pouco contribuíram para o estabelecimento de uma comunicação adequada entre o Governo e o público de Macau”.
O comunicado da Associação de Jornalistas de Macau vem ao encontro de uma interpelação enviada, no final de outubro, pelo deputado à Assembleia Legislativa Ron Lam ao Governo local, e que apontou para a imposição de “restrições desnecessárias e pouco razoáveis” à participação dos meios de comunicação social em conferências e de imprensa e eventos governamentais.
Além da Associação dos Jornalistas de Macau, existem outros grupos de jornalistas no território, incluindo a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau, que representa, entre outros, profissionais de língua portuguesa.