Há uma morada específica para a inclusão?

por Cronista convidado,    10 Abril, 2025
Há uma morada específica para a inclusão?
Fotografia de Taylor Flowe / Unsplash
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No final de uma apresentação sobre a intervenção desenvolvida num Colégio de Educação Especial, o presidente de uma importante Associação verbalizou o seguinte comentário: Agora sim parece-me que estamos a falar de inclusão.

A propósito deste comentário, bastante expressivo, que num tom provocatório coloca o dedo na ferida sobre a importância de evitar fundamentalismos e ampliar respostas possíveis, pensei o quão limitativo é endereçar a inclusão, única e exclusivamente, a uma morada.

Reconhecer os avanços positivos e conhecidos da escola nesta viagem sobre o respeito pela diversidade é uma evidência. Reconhecer os desafios ainda por dar resposta e as fragilidades é uma necessidade e uma prioridade.

Já se tornou redundante falar em falta de recursos, assim como endereçar os “meninos especiais” para unidades mascaradas de valências. A falta de respostas, especialmente depois dos 18 anos (final da escolaridade obrigatória), tem-se refletido no discurso de muitos pais. A palavra já não inclusão (sendo esta secundária) é a necessidade de ter um espaço para que o seu filho possa estar enquanto estão a trabalhar. A inclusão servida em decreto tornou-se obsoleta e criou uma expetativa de que é possível cumprir artigos, como se existisse um banco de alíneas capazes de resolver os constrangimentos educativos, sociais e médicos só por estar integrado na escola regular.

Não quero de todo ser alarmista, nem facilmente acusada de estar do outro lado da barricada (recuso essa dicotomia bacoca). Mas sejamos francos e honestos, salvo algumas exceções (felizmente) a escola, que sofreu modificações ao longo do tempo, ainda não acompanha o ritmo. Há sempre um passo um pouco atrás, às vezes a par e passo (quero acreditar que sim), mas ainda em esforço. De uma forma geral tem atualmente trabalhado em esforço e no limite. Todos conhecemos as razões: falta de professores, pouco atrativo, desafiante, burocrático, difícil. Longe da utopia de cumprir a palavra “Sonha” que vi há pouco tempo em forma de grafiti na parede de uma escola.

A máxima do aluno no centro de aprendizagem (como referido em tantos congressos e colóquios) está barricada nesta realidade. E os que apresentam constrangimentos intelectuais mais desafiantes aguardam no centro de apoio aprendizagem que alínea do artigo o possa incluir.

Custa-me que as escolas se tornem espaços fechados em grelhas de Excel onde a palavra “sonha” vive numa folha de cálculo. É por isso que perpetuar um lirismo que afirma que minha ilha é melhor do que a tua (deturpando realidades e conceitos) cria um fundamentalismo perigoso.

O respeito pela diversidade não pode ter uma morada, nem se lhe pode forçar uma morada. Quer seja num colégio de educação especial ou na escola regular, o desígnio deverá ser (sempre) ampliar o potencial emocional das crianças e jovens com escuta ativa e disponibilidade palpável.

Crónica de Maria Joana Almeida, Professora de Educação Especial e Formadora na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

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