Halloween português

por Ricardo Couto,    1 Novembro, 2019
Halloween português
Nosferatu (1922)
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Ontem foi dia de Halloween ou, como os pais de crianças preferem chamar, Dia de Reciclar a roupa de Carnaval.

Imagino que para os miúdos a ideia do Halloween seja muito engraçada porque eles começam a pensar no melhor disfarce e em quem se vai vestir de forma mais original. Contudo, a realidade é muito mais triste. O que começa por ser um vestido de múmia todo muito bem intencionado, acaba por ser um monte de papel higiénico de marca branca enrolado à volta do corpo. E pior! Fica papel higiénico ensopado porque está sempre a chover no Halloween.

Este é o meu problema com o Halloween: está sempre a chover! Isto calha sempre numa altura em que é muito provável que caiam baldes de água do céu. Daí não entender minimamente as pessoas que tentam ser sexys com as suas fantasias. O que é que há de sedutor numa enfermeira com hipotermia? Ou num Frankestein vestido com um kispo?

Nós fantasiamos que esta noite vai ser como a que vemos nos filmes americanos. Os amigos juntam-se e vão, de porta em porta, pedir doces ou lançar uma travessura. Nada disso. O dia de Halloween em Portugal é muito mais triste.

Se fores criança, o Halloween começa uns dias antes. Começa contigo a chateares os teus pais para te comprar um disfarce muito fixe e na moda. Este ano, imagino que seja o Joker por causa do filme. Então o que começa por ser um palhaço assustador com uma roupa bastante colorida acaba por ser um palhaço com roupa velha e tingida que sobrou de umas obras que o pai fez lá em casa.

Este palhaço desengonçado junta-se a um Super-Homem com uma manga mais curta do que a outra e a uma Bruxa com um chapéu amarrado com fita-cola porque o elástico, comprado nos chineses, já deu de si.

O gang dos totós depois segue para bater à porta de pessoas e pedir doces. E das duas uma: ou apanham uma velhinha simpática para quem o conceito de doçura é um doce de champange recesso ou apanham uma pessoa tipo a minha mãe que, depois de ver que é um grupo de miúdos à porta, vai dizer “Apaga a luz que é para ninguém ver que estamos em casa”.

As crianças só percebem o verdadeiro sentido do Halloween no dia seguinte. Depois de passarem uma noite ao relento, apanham um resfriado e precisam de algo quente para comer. E o que vão comer? Uma sopa… de abóbora.

Se fores adulto, o Halloween também consegue ser muito assustador porque hás-de ter algum amigo demasiado entusiasmado com esta data e que te vai obrigar a ir a uma festa. Tu vais mas, ao contrário da malta que leva esta data demasiado a sério, vais acabar com um chapéu de bruxa e roupa da Zara. O mínimo dos mínimos.

Na minha opinião, o Halloween só serve para perceber qual a tua idade mental. Se olhas para o Halloween com entusiasmo por causa dos disfarces, parabéns, és um espírito jovem. Se olhas para o Hallowen com muito entusiasmo porque no dia seguinte é feriado, lamento, mas és oficialmente um velho.

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