Hoje à noite n’O Sótão. Nostalgia e auto-reflexão no jazz de Kiefer

por Francisco Espregueira,    25 Agosto, 2021
Hoje à noite n’O Sótão. Nostalgia e auto-reflexão no jazz de Kiefer
Capa do disco
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Desde o lançamento do seu aclamado disco de estreia, Kickinit Alone, que Kiefer Shackelford é um nome absolutamente obrigatório para os fãs de jazz contemporâneo. O pianista, beatmaker e compositor baseado em Los Angeles é, porventura, um dos músicos do nosso tempo, apesar da sua marca influenciadora não ser ainda visível — ou, melhor dizendo, audível. O novo álbum, When There’s Love Around, é um projecto repleto de nostalgia e auto-reflexão, evidente na melancólica paz que transmite. É possível ouvir Kiefer no topo das suas imensas capacidades, desta vez soberbamente acompanhado por uma banda que conta com gente talentosa como DJ Harrison, Andy McCauley, Josh Johnson, Will Logan ou Sam Wilkes. Trata-se de um contraste interessante com o trabalho maioritariamente a solo que marcou a sua discografia até agora.

When There’s Love Around é um álbum dividido em duas partes. A primeira aborda uma atitude interior de irrelevância e de insignificância para com as dificuldades, quando analisadas a partir de uma perspectiva cósmica. A segunda metade do álbum é mais reflexiva e espiritual. Traz consigo uma aura catártica, causada pela perda da sua amada avó. Embora o luto e a perda sejam os temas principais, o tom é, ainda assim, amplamente positivo, dando espaço e tempo suficientes para que as melodias tragam paz e aceitação. Junto com alguns dos seus músicos favoritos, Kiefer produz este álbum em três conjuntos de sessões, que decorreram ao longo de 2020 — incluindo uma passagem pelo estúdio de Jazzy Jeff depois de o lendário DJ o ter convidado. Várias das músicas presentes em When There’s Love Around foram gravadas em um ou dois takes, algo que se nota nas texturas orgânicas que o álbum proporciona. Trazendo a energia dos seus concertos para o estúdio, Kiefer abraça com sucesso o espírito comunitário que buscava no seu trabalho, produzindo um álbum de jazz excepcional. Disponível em vinil a partir da próxima sexta feira, via Stones Throw Records.

E ainda…

A qualidade dos artistas que participam na compilação Global Sounds, editada pela Boomerang Records, é quase inacreditável. Em nove faixas, a editora londrina conecta artistas de todo o mundo, contando com um espírito de colaboração e a experimentação como ideias principais para o álbum. O resultado é uma junção bem conseguida de vários géneros, abrangendo o jazz, o broken beat, o neo-soul e outras abordagens electrónicas.

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