Huggs: o desamor e o indie rock

por Daniel Dias,    26 Setembro, 2018
Huggs: o desamor e o indie rock
Huggs / Maus Hábitos.
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Há um conflito quase constante entre vulnerabilidade e irreverência no universo dos Huggs. As suas letras sobre os amores perdidos e os relacionamentos impossíveis ou as oportunidades desperdiçadas e os conflitos existenciais casam sempre bem com o estilo de indie rock apaixonado e pulsante que tocam. E a forte simbiose entre os seus dois membros fundadores ajuda muito a que este seja um projecto especial: o guitarrista/vocalista Duarte Queiroz e o baterista Jantónio complementam-se bem porque as melodias pop rasgadas e contagiantes que o primeiro adora convocar elevam-se quando colocadas frente a frente com a sonoridade punk trazida pelo último. Já os seus vídeos criativos e declaradamente lo-fi – que tiram belo proveito da mentalidade “menos é mais” – permitem que o duo comunique visualmente de uma forma muito interessante ao mesmo tempo que encarnam a sua ética DIY. E a simplicidade com que se apresentam em palco só os torna ainda mais cativantes.

Ouve-se o EP de estreia Did I Cut These Too Short? – lançado pelo Cão da Garagem – e em pouco tempo se percebe de onde vem o charme que a banda lisboeta possui. Há quase um pouco dos The Strokes ou dos Arctic Monkeys em várias das suas faixas mais perspicazes e é simplesmente fácil relacionar-se com as estórias que Duarte canta. Isto é música para a Gen. Z – sempre indecisa mas também (quase) sempre esperançosa. O lançamento do EP foi celebrado na passada sexta-feira (21) com um concerto nos Maus Hábitos cuja primeira parte ficou por conta do duo espanhol Yawners: Elena (guitarrista/vocalista) e Martín (baterista) despertaram os primeiros aplausos da noite com o seu power pop caloroso e anteciparam um pouco do que a ementa principal mais tarde traria.

Ver os Huggs ao vivo implica cumprir uma regra comportamental muito simples: nada de arrogâncias e nada de posturas à “rockstar”. Quem está ali a cantar é o Duarte mas passa-se a ideia de que podia ser qualquer um de nós. E é em parte por isso que se torna fácil gostar do grupo. Eles partilham com o público um lugar-comum e dessa forma instala-se uma sintonia quase total em concerto.

Sabe-se bem que uma das mais-valias dos recintos pequenos é justamente o encurtamento de distâncias que eles proporcionam. O artista está apenas a uns dois metros do rapaz entusiasmado na primeira fileira. Isto na música indie é tudo e os Huggs sabem-no. E é verdade que eles mereciam uma casa mais cheia do que aquela que na realidade os recebeu… mas a sintonia de que ainda agora se falava ia sempre sentir-se de qualquer maneira. E fez-se notar nos pequenos momentos: os corpos em movimento sincronizado ao som das belas “Find Out” e “Take My Hand”, ou os casais a dançar perante “Cocaine”, fizeram valer o muito acessível preço de entrada. Era o mínimo que uma banda que canta as estórias do desamor com tanto amor merecia.

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