“I am Easy to Find”, dos The National: continua o imaginário a que nos habituámos da banda

por João Jacinto,    2 Junho, 2019
“I am Easy to Find”, dos The National: continua o imaginário a que nos habituámos da banda
Capa do disco
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No oitavo álbum de estúdio os The National continuam a ser relevantes. Com vinte anos de existência têm sobrevivido a modas passageiras da indústria musical e desenvolveram um estilo imaginário próprio facilmente identificável.

I am Easy to Find, com pouco mais de uma hora, é até à data o seu trabalho mais longo. Co-produzido por, e também na qualidade de diretor artístico, Mike Mills foi também encarregue de realizar a curta-metragem homónima ao álbum. Esta foi protagonizada por Alicia Vikander, que em menos de 30 minutos vive toda uma vida, do nascimento à morte, com tudo o que se encontra pelo meio, ao som de parte das 16 diferentes faixas deste álbum. Esta curta é contudo independente do álbum e vice-versa. Tanto que durante a sua execução a banda não tinha conhecimento do conteúdo da mesma, tendo sido proferido por Mills à banda “I don’t know what we’re making—it might be Lemonade for depressed white people.”

The National / Fotografia de Graham MacIndoe

Como seria de esperar nestes 63 minutos encontramos tudo o que esperaríamos da banda e ao qual estamos habituados. O som expansivo e orquestral que tem acompanhado os últimos álbuns e obviamente as letras que poderiam ser parte de uma obra literária. Contudo desta vez a banda inovou e o vocalista, para muitos sinónimo da banda, Matt Berninger deu espaço a artistas, exclusivamente mulheres, para também cantarem neste último trabalho. Esta pequena mudança de rumo e crescimento deveu-se  em muito, segundo a banda, à presença de Mills.

Temos na primeira faixa “You Had Your Song With You” bem como em “Hey Rosey” Gail Ann Dorsey, membro integrante da antiga banda de David Bowie. Lisa Hannigan participa em “The Pull of You” onde, com Berninger, conseguem um dos momentos altos do álbum ao cantarem sobre uma relação na iminência de acabar. “Quiet Light” conta com duas orquestras de cordas e um hipnótico fade out.  Numa música sobre amor “Roman Holiday”, inspirada em Patti Smith e Robert Mapplethorpe, e com o verso da letra “Please think the best of him.” retirado diretamente do instagram de Patti Smith em que esta, através da rede social, consolou alguém que perdeu outrem num suicídio.

Existe um conjunto variado de faixas em que as letras foram escritas pela esposa do vocalista, Carin Besser. Talvez por isso a presença muitas vezes de diálogos ao longo das faixas com as diversas convidadas. Em “So Far So Fast” temos a voz grave de Lisa Hannigan, que começou a sua carreira com Damien Rice, a narrar-nos um dissabor amoroso de forma poética e cheia de metáforas característica da banda. Esta faixa de quase 7 minutos tem direito a sintetizadores, cordas e coro, resultando de forma ímpar. “Oblivious” é também ela sublime. Sobre uma relação de longa data e os anseios que daí derivam, cantada por Pauline de Lassus, mulher de Bryce Dessner o guitarrista da banda. Os vários interlúdios do álbum, “Her Father in the Pool”, “Dust Swirls in Strange Light” e “Underwater” ficaram a cargo do Brooklyn Youth Chorus. Estes segmentos são novidade no repertório de The National e dada a extensão do álbum resultam de sobremaneira. Kate Stables destaca-se positivamente nas faixas em que participa “I Am Easy To Find”, “Not In Kansas”, “Rylan”. A primeira, uma balada calma em que Berninger apenas acompanha a verdadeira protagonista. A segunda deriva do sabor dos tempos com várias referências à atualidade americana. Por fim “Rylan”, que se destaca por ser a faixa que, já quase no final do álbum, e fugindo ao registo mais melancólico, acaba por dar mais energia ao álbum. Este trabalho finaliza em “Light Years”, com Aaron Dessner ao piano, numa introspeção emotiva, depois de uma viagem onde quase acreditamos que fizemos parte de todos os hipotéticos previamente entoados.

I Am Easy to Find é um trabalho exploratório do grupo, com direito a segmento cinematográfico, com colaborações incontáveis, e sem nunca sair do imaginário a que nos habituámos da banda. O trabalho dos The National é consistente e temos mais uma vez neste último álbum uma banda sonora para, tal como na curta homónima, nos acompanhar nos dias passados e nos que virão.

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