Reportagem. Ideação suicida e suicídio nos médicos. “Senti na pele a desesperança e a vontade de desaparecer permanentemente” (parte I)

por Maria Moreira Rato,    26 Janeiro, 2025
Reportagem. Ideação suicida e suicídio nos médicos. “Senti na pele a desesperança e a vontade de desaparecer permanentemente” (parte I)
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Esta reportagem está dividida em duas partes. A segunda parte pode ser lida aqui.

Cada vez mais médicos em Portugal e no resto do mundo enfrentam a ideação suicida e, algumas vezes, o suicídio. Uma profissão marcada pela dedicação à vida, mas que muitas vezes se esquece de cuidar de quem a salva. Na primeira parte desta reportagem, entendemos que a realidade dos profissionais de saúde é alarmante e, infelizmente, o estigma ainda impede que procurem ajuda.

Mariana (nome fictício) está na casa dos 30 anos e iniciou a sua carreira, oficialmente, há já alguns anos. Foi interna de formação geral, escolheu a especialidade e, se tudo correr bem, tornar-se-á especialista numa área que não pretende revelar para proteger ao máximo a identidade. Mas, como revela à Comunidade Cultura e Arte (CCA), está a realizar o seu sonho. No entanto, até há pouco tempo, tal parecia-lhe completamente impossível. “O stress constante, o esgotamento e a sensação de não ser capaz de cumprir os padrões exigidos pelos outros e por mim fizeram-me recorrer a comportamentos autolesivos como uma forma de lidar com a dor emocional”, começa por explicar. “A sensação de estar sobrecarregada, sem apoio e incapaz de pedir ajuda por medo de ser vista como fraca ou incompetente destruíram-me”, confessa, adiantando que “a sensação de alienação que muitos médicos sentem, que é exacerbada quando se tornam doentes, especialmente no contexto de uma profissão que tende a marginalizar ou minimizar o sofrimento emocional dos próprios profissionais, é extremamente complexa”, afirma.

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“Os médicos enfrentam um estigma único quando se trata de procurar ajuda para problemas emocionais, especialmente comportamentos autolesivos. Num ambiente altamente competitivo, onde a vulnerabilidade é vista com desconfiança, o medo de ser julgado pode ser avassalador. E, no meu caso, foi mesmo”, sublinha a jovem médica. “Há falta de apoio estruturado nas faculdades de medicina e nos hospitais, onde a pressão para ‘manter a compostura’ é extrema, e isto, claramente, contribui para o agravamento dos problemas psicológicos”, realça. “Dada a minha experiência pessoal, defendo uma mudança imediata na cultura médica e a importância da criação de espaços seguros para médicos, onde possam falar abertamente sobre as suas dificuldades sem medo de represálias”, avança. “Sugiro que, além de programas de saúde mental, deveria haver acompanhamento específico para comportamentos autolesivos e crises de saúde mental, com acesso fácil a terapeutas e psiquiatras que compreendem as necessidades e desafios da profissão médica”, partilha.

“Esta minha luta contra os comportamentos autolesivos fez-me reconhecer a importância de procurar ajuda e quebrar o ciclo de autossabotagem. Por ter pedido ajuda no momento certo, encorajo os meus colegas, especialmente estudantes e jovens profissionais, a não esconderem as suas dificuldades e a procurarem suporte. Enquanto profissionais de saúde, devemos desestigmatizar o sofrimento emocional, mas também ajudar a criar um modelo de comportamento mais saudável para a próxima geração de médicos”, adiciona Mariana, que defende a ideia de que uma mudança cultural dentro da medicina é fundamental para melhorar o apoio à saúde mental dos profissionais. Na sua perspetiva, tal incluiria “a implementação de políticas mais flexíveis que permitam aos médicos tirar licenças para tratamento de saúde mental sem medo de repercussões”. E, para além disso, frisa que as faculdades “devem incorporar estratégias de autocuidado e resiliência desde os primeiros anos de formação, além de promover mais recursos para saúde mental, como suporte psicológico acessível”.

Avança ainda que “a ideação suicida não é apenas o reflexo de uma crise individual, mas muitas vezes um subproduto de um sistema que desumaniza os médicos. A pressão para ser impecável, tanto no atendimento aos doentes quanto no desempenho académico e profissional, pode criar um círculo vicioso onde o médico sente que não pode falhar ou expressar vulnerabilidade”, aponta. “A sensação de estar preso nesse ciclo pode aumentar os pensamentos suicidas, uma vez que a pessoa pode ver o suicídio como uma forma de escapar de uma dor que parece insuportável e irreversível. Sei disto porque, além de sempre ter estudado estas temáticas por nutrir um genuíno interesse pela saúde mental, senti na pele a desesperança e a vontade de desaparecer permanentemente”, frisa. “Só com a ajuda de um colega psiquiatra e de um psicólogo é que, neste momento, começo a ficar estável psicologicamente. Temos de falar sobre a ideação suicida, tanto para quebrar o estigma quanto para incentivar a procura de ajuda”, menciona.

“Procurar apoio foi um passo difícil, mas essencial. Tive de admitir que precisava de ajuda e confesso que convencer o meu próprio cérebro disso foi o passo mais complicado porque queria mostrar que sou forte, competente, quase inabalável”, observa. “Apelo a que os outros médicos, especialmente os mais jovens e em início de carreira, procurem ajuda para que não se sintam sozinhos na sua luta. Muitos de nós estamos completamente arrasados psicologicamente e fechamo-nos na nossa concha, digamos assim, porque pensamos que somos os únicos que não aguentam determinados aspectos desta profissão. Mas tal não é verdade, de todo! Quero mesmo que tanto a minha classe profissional como a população em geral saibam que o reconhecimento de que até mesmo os médicos precisam de ajuda pode salvar vidas e ajudar a prevenir tragédias evitáveis”, conclui.

A questão do suicídio entre os médicos é um desafio complexo e multifacetado que tem atraído cada vez mais atenção nos últimos anos. Em todo o mundo, as taxas de suicídio e ideação suicida entre profissionais médicos são desproporcionalmente altas em comparação com a população em geral. Esta realidade preocupante sublinha a necessidade de uma compreensão abrangente dos fatores que contribuem para esta tendência alarmante e do desenvolvimento de intervenções eficazes para a resolver.

Em Portugal, o problema do suicídio médico não está bem documentado, mas a investigação existente sugere que a questão não é exclusiva do nosso país. Relativamente ao nosso país, encontramos poucos resultados quando pesquisamos sobre o tema. Mas, pelo contrário, o suicídio noutras profissões começa a ser extensivamente estudado. A título de exemplo, entre os médicos veterinários. Já internacionalmente, há estudos que demonstram consistentemente que as taxas de suicídio entre os médicos são significativamente mais elevadas do que na população em geral, com estimativas a indicar que o risco de suicídio é, no mínimo, duas vezes mais elevado para os médicos. O impacto nos sistemas de saúde é significativo, com o esgotamento médico associado a um risco aumentado de depressão, abuso de substâncias e pensamentos suicidas.

Por exemplo, os investigadores brasileiros têm vindo a debruçar-se de forma bastante considerável sobre estas temáticas. Em Burnout e Pensamentos Suicidas em Médicos Residentes de Hospital Universitário, os investigadores exploraram a relação entre a síndrome de burnout e os pensamentos suicidas em médicos residentes (em Portugal, internos de formação geral e específica). Dos participantes com alto risco de burnout, 70,58% relataram ter tido algum tipo de pensamento suicida. A investigação destacou a necessidade de se prestar atenção à saúde mental dos médicos mais jovens, considerando a alta prevalência de burnout e a sua associação com a ideação suicida.

Por outro lado, em Síndrome de Burnout, transtornos mentais e suicídio em médicos: uma revisão de literatura, os investigadores analisaram a prevalência da síndrome de burnout, transtornos (perturbações, em português de Portugal) mentais e suicídio entre médicos. As conclusões indicam que fatores como uma elevada carga de trabalho e o contacto constante com doenças e morte contribuem para o desenvolvimento de burnout, depressão e ansiedade. O estudo enfatiza a necessidade de assistência à saúde mental dos médicos para prevenir complicações graves, incluindo o suicídio.

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Em A Saúde Física e Mental do Profissional Médico: Uma Revisão Sistemática, os investigadores dedicaram-se ao estudo das condições de saúde física e mental dos médicos. Os resultados destacam que a desvalorização da própria saúde pelos médicos pode afetar negativamente os seus alunos (quando lecionam no Ensino Superior) e colegas. Além disso, há uma forte relação entre ideação suicida, sintomas depressivos, síndrome de burnout e erros médicos, sugerindo que a recuperação do burnout pode reduzir o risco de suicídio.

As causas subjacentes desta crise são multifacetadas, com uma interação complexa de fatores pessoais, organizacionais e sociais. Como podemos constatar, a cultura stressante da medicina, as preocupações financeiras e os níveis elevados de sofrimento entre os estudantes de medicina foram todos identificados como fatores que contribuem para este panorama em variados estudos. A título de exemplo, em Burnout and Suicidal Ideation among U.S. Medical Students, foi avaliada a prevalência de burnout e ideação suicida entre estudantes de medicina nos Estados Unidos. Os resultados indicaram que uma proporção significativa dos estudantes experiencia burnout e há uma associação entre burnout e pensamentos suicidas. O estudo destaca a necessidade de intervenções para melhorar o bem-estar dos estudantes de medicina.

As conclusões são semelhantes às do estudo Prevalence of Depression, Depressive Symptoms, and Suicidal Ideation Among Medical Students, sendo esta uma meta-análise que examinou a prevalência de depressão e ideação suicida entre estudantes de medicina globalmente. Os investigadores concluíram que aproximadamente 27% dos estudantes de medicina relataram sintomas depressivos e 11% ideação suicida durante a formação médica. O estudo enfatiza a necessidade de programas de apoio à saúde mental para estudantes de medicina.

Além disso, os desafios únicos enfrentados pelos médicos, como a natureza de alto risco do seu ofício, as longas horas de trabalho – a título de exemplo, segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) enviados ao Público, em março de 2024 já mais de mil médicos tinham atingido o limite anual de horas extraordinárias – e a pressão para manter uma fachada de invulnerabilidade podem exacerbar o risco de ideação e comportamento suicida.

Quem conhece bem esta questão é Dominic Corrigan (pseudónimo), um defensor da saúde mental dos médicos, que em entrevista à CCA reflete sobre a sua experiência pessoal e profissional ao lidar com esta crise. O antigo profissional de saúde explica que a profissão médica, especialmente em países ocidentais como os EUA, impõe uma cultura de desempenho incessante. “A medicina moderna desencoraja a vulnerabilidade em vários níveis”, afirma. “Faltar ao trabalho por motivo de doença é visto como fraqueza; sentimos que não podemos dececionar doentes ou colegas”, frisa. “Os médicos são treinados para tomar decisões críticas sob enorme pressão, mas, paradoxalmente, muitos interpretam lutas mentais como falhas pessoais. “Equacionamos falsamente os nossos desafios mentais com fraqueza. Na verdade, somos humanos”, diz.

De acordo com os estudos anteriormente mencionados, os médicos apresentam taxas mais altas de depressão e ansiedade do que a população em geral. O burnout atinge mais de metade dos médicos norte americanos. Além disso, a obrigação de reportar histórico de saúde mental em alguns estados para fins de licenciamento pode ser um obstáculo para procurar ajuda. “Muitos evitam procurar ajuda por medo de repercussões na carreira”, observa Corrigan. As mulheres médicas enfrentam riscos ainda maiores, influenciados por fatores culturais, familiares e profissionais. Especialidades como cirurgia ou medicina de emergência são especialmente desafiadoras devido à carga extrema de trabalho e expectativas de invencibilidade.

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A exposição contínua a traumas no trabalho pode deixar marcas profundas. “Enfrentamos microtraumas diários – desde a crueldade humana até ao impacto de doenças incuráveis em crianças. Não é saudável para ninguém”, declara. O sistema também contribui para esse fardo. “Nos EUA, o impacto de decisões como a negação de tratamentos por seguradoras pode ser devastador. Em contrapartida, sistemas de saúde como os europeus oferecem uma rede de segurança”, indica. Corrigan defende uma transformação profunda na formação médica, começando no primeiro dia de faculdade. “Temos de normalizar conversas sobre saúde mental, lembrar aos médicos que são humanos e podem cometer erros”, explicita, sugerindo mudanças para reduzir a cultura de sobrecarga, mitigar as causas de lesão moral e incorporar cuidados psicológicos preventivos.

A questão do equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é crucial. “Encontrar equilíbrio é uma habilidade de sobrevivência, não um luxo”, afirma. “A vida deve vir antes do trabalho. Nunca recuperaremos o tempo perdido com os nossos filhos, família e amigos”, salienta. Para Corrigan, mentores e coaches desempenham um papel vital na normalização da vulnerabilidade. “Partilhar experiências vividas ajuda a quebrar o silêncio”, diz, destacando o impacto positivo de grupos de apoio como o Physicians Anonymous (PA), que cofundou. “Estes espaços seguros são incrivelmente curativos”, realça. Corrigan também recomenda programas de 12 passos para médicos que enfrentam adições, ressaltando a importância da conexão e da responsabilidade.

A PA constitui uma organização de apoio voltada exclusivamente para médicos que enfrentam desafios relacionados com a saúde mental, adições ou outras dificuldades emocionais e psicológicas. Inspirada em parte pelo modelo dos programas de 12 passos, fornece um espaço seguro e confidencial para os médicos partilharem as suas experiências, procurarem ajuda e conectarem-se com outros que enfrentam desafios semelhantes. Sendo diferente de muitos programas tradicionais, não mantém registos médicos ou relatórios oficiais. Tal é fundamental para médicos que temem represálias ou estigmatização nas suas carreiras por admitir problemas de saúde mental. A organização oferece reuniões regulares de apoio entre pares, tanto online quanto presenciais, onde os participantes podem partilhar as suas histórias e receber suporte emocional.

A PA reconhece os desafios únicos enfrentados pelos médicos, como stress extremo, exposição constante a traumas e as exigências culturais. Além de grupos de suporte, a PA oferece coaching e mentoria para ajudar os médicos a desenvolverem estratégias para lidar com o stress, melhorar o equilíbrio entre vida e trabalho e explorar novos caminhos pessoais e profissionais. Embora tenha raízes em locais específicos, como os EUA, a PA está aberta a médicos de todo o mundo, promovendo uma rede global de apoio. A PA foi cofundada por Dominic Corrigan, motivado pelas suas próprias experiências de superação de uma crise mental e pela perceção de que o sistema de saúde muitas vezes não oferece suporte adequado para médicos em dificuldade. O objetivo primordial é que seja um refúgio para aqueles que sentem que não podem abrir-se com colegas ou procurar ajuda de forma convencional.

Após uma luta pessoal com pensamentos suicidas, Corrigan reconstruiu a sua vida fora da prática clínica. “Não acreditava que poderia ter uma vida satisfatória fora da medicina, mas descobri que isso é possível“, deixa claro. Hoje, dedica o seu tempo a ajudar outros médicos a encontrar novos caminhos. “Os médicos precisam de entender que procurar ajuda é um sinal de força, não de fraqueza”, enfatiza. Acredita que iniciativas como a Lei dos Heróis Lorna Breen nos EUA, que aborda o suicídio de profissionais de saúde, são um passo na direção certa.

A Lei dos Heróis Lorna Breen (Lorna Breen Health Care Provider Protection Act) é norte-americana e foi criada para abordar o bem-estar e a saúde mental dos profissionais de saúde. Aprovada em 2022, homenageia Lorna Breen, uma médica que morreu por suicídio em 2020 após enfrentar um esgotamento extremo durante a pandemia de COVID-19. A lei procura combater os desafios enfrentados por médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, particularmente no que se refere ao stress, burnout e problemas de saúde mental.

Alguns dos seus principais propósitos visam incentivar mudanças em políticas e práticas que desestimulem os profissionais em procurar ajuda, tais como as perguntas invasivas sobre saúde mental em licenciamento médico; financiar iniciativas que ofereçam assistência emocional e psicológica aos profissionais de saúde; fornecer recursos para treinos sobre como reconhecer e abordar sinais de stress, burnout e outras questões de saúde mental entre profissionais de saúde e apoiar estudos sobre o impacto do esgotamento e do suicídio entre esta classe, identificando fatores de risco e estratégias eficazes de prevenção.

A lei reflete um reconhecimento crescente da importância de cuidar da saúde mental dos profissionais de saúde, especialmente após os desafios sem precedentes trazidos pela pandemia. É vista como um primeiro passo crítico para criar ambientes mais compassivos e sustentáveis para quem trabalha na linha da frente da medicina. Ao facilitar o acesso a recursos de saúde mental e reduzir barreiras, como o medo de represálias profissionais, a Lei dos Heróis Lorna Breen procura salvar vidas e garantir que os profissionais possam continuar a cuidar dos outros sem comprometer o próprio bem-estar. A legislação é amplamente apoiada por associações médicas e grupos de defesa da saúde mental nos EUA, sendo considerada um marco no enfrentamento dos desafios sistémicos da profissão médica.

A mensagem de Corrigan para médicos em dificuldade é clara: “Não estás sozinho. Por favor, procura ajuda. Estamos aqui para ti”. Com base na sua experiência e no crescente movimento por reformas, Corrigan visualiza um futuro mais compassivo para a medicina. “Devemos celebrar os médicos que procuram ajuda cedo, em vez de puni-los”, conclui. “O bem-estar dos médicos não é apenas uma questão pessoal – é uma prioridade para salvar vidas”.

Médicos em risco: o silêncio mortal sobre o suicídio na profissão médica

A saúde mental dos médicos tem ganhado destaque em debates globais, mas o problema ainda está longe de ser totalmente compreendido ou enfrentado. Dados disponíveis mostram que os médicos enfrentam taxas alarmantes de suicídio, um problema agravado pela falta de dados amplos e pela hesitação em procurar ajuda. Apesar de avanços em alguns países, como a Noruega, a questão continua cercada por estigmas e desafios institucionais. Uma das maiores barreiras para lidar com o suicídio entre médicos é a escassez de dados globais. “Embora haja pesquisas nos países anglo-saxões, os dados na União Europeia são limitados, e em países como a Hungria e outros da Europa Oriental, são praticamente inexistentes”, explica à CCA Kata Kostyál, psicóloga e doutorada pela Albert Szent-Györgyi Medical School da Universidade de Szeged, na Hungria. Adianta igualmente que estudos amplos indicam que 1% dos médicos já tentou suicídio e 9% teve pensamentos suicidas. Um estudo internacional recente encontrou uma proporção ainda mais alta, de 17%.

Além disso, atitudes culturais em relação à saúde mental influenciam a disposição dos médicos em procurar ajuda. “Os médicos muitas vezes acreditam que devem ser ‘invencíveis’ e temem discriminação ou consequências para as suas carreiras caso procurem apoio psicológico”, observa a especialista. Este fenómeno é amplamente agravado por questões como confidencialidade e limitações de tempo. Alguns países estão a progredir. Na Noruega, onde iniciativas de longo prazo para reduzir o estigma têm sido implementadas, uma investigação mostrou que as taxas de suicídio entre médicos diminuíram gradualmente nos últimos anos. “Isso demonstra que é essencial abordar essa questão não apenas a nível individual, mas também organizacional”, comenta.

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Os especialistas sugerem que soluções eficazes têm de começar na formação médica, com foco em estratégias de enfrentamento, autoconsciência e normalização do pedido de ajuda. No nível organizacional, medidas como suporte ao trabalho em equipa, redução de tarefas administrativas desnecessárias e flexibilização de horários podem ser eficazes na redução do burnout. Enquanto enfermeiros frequentemente passam por triagens de burnout em determinados pontos do globo, os médicos não têm sistemas equivalentes. O burnout é uma das principais causas de sofrimento entre os médicos, mas há outra questão preocupante: a “lesão moral”. Este termo descreve o sentimento de incapacidade de ir ao encontro das obrigações morais do trabalho, mesmo dando o melhor de si. “Estamos a investigar o burnout e a lesão moral utilizando questionários validados e recolhendo dados demográficos, psicológicos e comportamentais”, revela Kata Kostyál.

Certas especialidades médicas, como anestesiologia, psiquiatria e cirurgia geral, apresentam maiores taxas de suicídio. “Tal pode estar relacionado com o acesso a substâncias letais e ao conhecimento necessário para usá-las”, alerta a especialista. Além disso, fatores como género, idade e estado civil agravam os riscos. “As médicas são particularmente vulneráveis e há uma correlação entre divórcio ou problemas de relacionamento e o aumento dos riscos”, acrescenta. Nos países onde não existem programas específicos de prevenção, acredita que são necessárias iniciativas para colmatar essa lacuna. A criação de linhas diretas de apoio, por exemplo, poderia ser um passo significativo. “Com linhas de apoio, o anonimato é garantido, o estigma pode ser reduzido e os médicos podem receber alívio imediato para a sua angústia. No entanto, precisamos de mais evidências de alta qualidade para provar a sua eficácia”, pondera.

Outra solução é a criação de bases de dados nacionais para monitorizar riscos de saúde mental e suicídio entre profissionais de saúde. “Precisamos de registos como os da Noruega e Dinamarca, que fornecem informações demográficas e causas de morte. Isso não só atrairia mais atenção para o problema, como também facilitaria o desenvolvimento de soluções globais ou europeias”. A saúde mental dos médicos não é apenas um problema deles, mas de toda a sociedade. “Uma força de trabalho saudável e funcional é um dos pilares fundamentais de qualquer sistema de saúde. A saúde mental dos profissionais afeta diretamente a qualidade do cuidado que recebem os doentes”, conclui a especialista.

O caminho para enfrentar o suicídio entre médicos é complexo e exige esforços coordenados entre governos, instituições de saúde e a sociedade. Mas uma coisa é clara: abordar este problema não é apenas uma questão de saúde pública, mas também um imperativo ético. No início de abril, foi divulgado um estudo apresentado no Congresso da Associação Europeia de Psiquiatria (EPA) 2024 que revelou a escassez de dados e programas de prevenção voltados para o suicídio entre médicos em muitos países. Este foi liderado, precisamente, por Kata Kostyál, sendo que analisou bancos de dados de suicídio, estratégias de prevenção e intervenções em sistemas de saúde nacionais.

Nenhum dos 12 países que responderam ao questionário tinha dados públicos sobre suicídios de médicos nos últimos três anos. Apenas alguns países possuíam ferramentas ou grupos de apoio voltados especificamente para médicos. Linhas telefónicas dedicadas estavam disponíveis em apenas três países (México, Catar e Cazaquistão), sendo este último o único a realizar avaliações regulares de burnout, depressão e ansiedade entre médicos. Nos EUA, os médicos apresentam taxas de suicídio mais altas do que a população geral, com médicos de Medicina Geral e Familiar, de Medicina Interna e Psiquiatria a serem os mais vulneráveis. Noutros países, a falta de dados torna o problema ainda mais difícil de abordar.

Na Noruega, os esforços para combater o estigma sobre saúde mental dos médicos resultaram numa redução das taxas de suicídio masculino de 46,4 por 100.000 (1980-1999) para 17,0 por 100.000 (2010-2021). Contudo, as taxas entre enfermeiros aumentaram no mesmo período. Além disso, os médicos acima dos 60 anos têm um risco duas vezes superior ao de veteranos de outras profissões, enquanto jovens médicos (<40 anos) são menos afetados. Neste mesmo país, o aumento de serviços de aconselhamento para médicos, aliado a campanhas contra o estigma, tem ajudado a reduzir as barreiras para procurar ajuda. No entanto, os investigadores alertam que a prevenção deve focar-se nos estágios iniciais de problemas de saúde mental para evitar que estes se agravem. O estudo destaca a necessidade urgente de estratégias globais e iniciativas específicas para enfrentar o suicídio entre médicos.

Clare Gerada e a luta contra o suicídio na medicina

Clare Gerada, uma das maiores referências em saúde mental para médicos e fundadora da organização Doctors in Distress, tem uma missão ambiciosa: lutar para que o número de suicídios entre profissionais de saúde chegue a zero até ao próximo ano. Em entrevista à CCA, a médica partilhou a sua experiência, insights e reflexões sobre o impacto da saúde mental no setor médico, oferecendo uma visão ampla sobre os desafios e as possíveis soluções. A Doctors in Distress foca-se na prevenção de suicídios e no apoio emocional aos profissionais de saúde. Para Gerada, o objetivo é tão audacioso quanto necessário. “É muito difícil prevenir o suicídio. Tem de ser algo feito em vários níveis, desde criar o ambiente certo para evitar o esgotamento até oferecer suporte individual para desenvolver resiliência”, explica.

A estratégia central da organização é criar espaços reflexivos para médicos e outros profissionais de saúde. “Acredito que se conseguirmos oferecer um espaço para que todos falem sobre o impacto emocional do trabalho, conseguimos normalizar problemas e reduzir o sofrimento”, afirma. Gerada cita o caso de dois médicos cuja morte marcou profundamente o seu trabalho. Um deles foi o de Jagdip Singh Sidhu, cuja pressão no ambiente de trabalho resultou em suicídio. “Ele sentiu-se um fracasso ao ter baixa médica e acabou por tirar a própria vida”, conta. Outro caso emblemático foi o de uma psiquiatra que tirou a própria vida e a da sua filha de apenas três meses. “Ela exemplifica como os médicos mentalmente doentes são tratados de maneira diferente, muitas vezes caindo nas lacunas do sistema e não recebendo o tratamento adequado”, frisa Clare.

Apesar da crescente consciencialização, os médicos ainda enfrentam barreiras para procurar ajuda. Gerada detalha no livro Beneath the White Coat: Doctors, their Minds and Mental Health os principais obstáculos, como a dificuldade em encontrar tempo e espaço para consultas e a crença de que os médicos não devem adoecer. “O estigma tem dois lados: o externo, em que a sociedade estigmatiza a doença mental, e o interno, em que os médicos têm medo de se comportar como doentes”, explicita.

Este livro constitui uma obra essencial para compreender os desafios enfrentados pelos médicos em relação à saúde mental e ao bem-estar. Foi publicado em 2020 e este pormenor acaba por ter uma grande importância. Durante a pandemia de COVID-19, a procura por apoio mental cresceu exponencialmente. “Atendemos mais doentes num ano do que nos dez primeiros anos do serviço. A principal queixa era ansiedade, especialmente entre mulheres, que representavam 80% dos doentes”, salienta. Esta obra combina a análise académica com experiências pessoais da autora, trazendo à tona questões frequentemente negligenciadas no campo da medicina. Gerada, médica de família e uma das figuras mais influentes na liderança médica do Reino Unido, utiliza a sua trajetória no Practitioner Health Programme para discutir o impacto emocional e psicológico de uma profissão marcada pelo cuidar do outro.

Capa do livro / DR

A obra está organizada em quatro secções principais, cada uma abordando um aspecto específico da vida médica. Gerada investiga como a identidade profissional dos médicos se forma, os desafios que enfrentam como doentes, as dificuldades impostas por falhas éticas ou profissionais e as doenças que afetam particularmente a classe. A primeira secção explora como o ‘eu médico’ se forma. Gerada argumenta que, para muitos, ser médico não é apenas uma ocupação, mas uma questão identitária. Tal pode levar à negação da vulnerabilidade pessoal, criando barreiras emocionais que dificultam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. A autora reflete sobre a rigidez dessa identidade e como tal impede o crescimento pessoal dos profissionais.

Na segunda secção, Gerada discute as condições de saúde mental mais comuns entre médicos, incluindo esgotamento, depressão, suicídio e abuso de substâncias. Explora como fatores externos — como exigências institucionais, pressões regulatórias e o impacto da pandemia de COVID-19 — exacerbam esses problemas. A autora destaca também como certas características de personalidade, comuns entre médicos, dificultam a procura por ajuda, perpetuando o sofrimento em silêncio. A terceira parte aborda a experiência de médicos que precisam de cuidados, destacando o estigma envolvido e a dificuldade de se verem como doentes. Gerada enfatiza a importância de estratégias de resiliência e tratamentos em grupo, fornecendo ferramentas práticas para que os médicos enfrentem melhor os seus problemas emocionais e psicológicos. Esta secção é um convite à reflexão sobre como a comunidade médica pode apoiar os seus próprios membros.

A secção final foca-se nos momentos de crise, como denúncias, erros clínicos ou falhas éticas. Gerada oferece um guia empático, na sua ótica, para médicos que enfrentam processos regulatórios e ajuda a entender os impactos emocionais dessas situações. Fornece, igualmente, conselhos sobre como reconstruir a carreira e a saúde mental após eventos críticos. Gerada intercala dados académicos com relatos pessoais e histórias de doentes que são médicos. A sua escrita é acessível e reflete uma profunda compreensão dos desafios da profissão médica. A autora também aborda o papel das instituições e da sociedade em criar um ambiente de trabalho que reconheça e suporte a saúde mental dos médicos.

O impacto da obra parece ser significativo, especialmente num momento em que as discussões sobre saúde mental estão a ganhar destaque, impulsionadas pela pandemia de COVID-19. A médica desafia o estigma em torno do sofrimento emocional no campo médico e oferece uma visão otimista sobre como os médicos podem cuidar de si mesmos e dos seus colegas. Gerada explica que o livro é essencial não apenas para médicos, mas para todos os interessados nos desafios de profissões que exigem o cuidar do outro.

Já o livro Handbook of Physician Mental Health, publicado no ano passado, constitui um guia abrangente sobre a saúde mental dos médicos, com foco prático e académico. A obra reúne 15 anos de experiência da autora no atendimento de mais de 30.000 médicos com problemas de saúde mental e serve como referência para profissionais da saúde e gestores que atuam na regulação, avaliação, formação e suporte a esses trabalhadores. Este manual foi estruturado para abordar os desafios únicos enfrentados por médicos e outros profissionais regulamentados em relação à saúde mental, oferecendo uma perspectiva detalhada sobre diagnóstico, gestão e prevenção de distúrbios psicológicos no contexto da prática médica.

Capa do livro / DR

Relativamente ao impacto da profissão na saúde mental, examina como as pressões do trabalho afetam os médicos, incluindo o risco de burnout e problemas associados ao stress e especialidade escolhida. Em relação à regulação e confidencialidade, discute os aspectos éticos e legais que envolvem a abordagem de profissionais da saúde em sofrimento, incluindo confidencialidade e partilha de informações. Naquilo que diz respeito à prevenção e intervenção prática, apresenta estratégias para identificar médicos em risco, abordá-los e criar ambientes de trabalho que promovam bem-estar e reduzam o impacto do stress e da exaustão.

Naquilo que concerne os aspectos clínicos e gestão de saúde mental, oferece orientações baseadas em evidências para o tratamento de condições como depressão, ansiedade e risco de suicídio em profissionais da saúde. E, acerca das fases de recuperação, discute o regresso ao trabalho, a relação com a saúde ocupacional e as terapias recomendadas para ajudar os médicos a recuperarem o equilíbrio pessoal e profissional. Gerada indica que “o livro também complementa os temas discutidos em Beneath the White Coat, funcionando como um guia de ‘como fazer’, focado em intervenções práticas e estratégias baseadas em evidências para lidar com problemas complexos como queixas formais e erros clínicos”.

Para Gerada, tanto as escolas de medicina quanto as instituições de saúde têm um papel crucial em preparar médicos para lidar com o stress e cuidar da sua saúde mental. Defende a criação de grupos de apoio e equipas robustas, para que os profissionais não trabalhem isolados. “Intervenções como grupos de apoio são fundamentais. Os jovens médicos devem ter apoio constante porque, na maioria das vezes, são muito resilientes, mas precisam de suporte em momentos de dificuldade”, sugere. Quanto à sociedade, Clare alerta para a necessidade de se encarar os médicos como humanos. “Os doentes têm de entender que os médicos não são deuses. Não devem esperar milagres e têm de reconhecer as pressões que enfrentamos”, frisa.

Gerada também reflete sobre as diferenças nos sistemas internacionais de saúde mental para médicos. “O sistema catalão é um dos melhores, baseado em suporte, enquanto muitos outros, como os da América do Norte, são mais punitivos do que terapêuticos”, comenta. Apesar dos desafios, mantém a visão otimista para o futuro da Doctors in Distress e da saúde mental na medicina. “Queremos segurança financeira para expandir o nosso trabalho. Ajudar médicos e prevenir o sofrimento ainda é o foco principal”, conclui.

O peso do cuidado e o silêncio do sofrimento

Quem vai ao encontro da perspetiva de Gerada é Carlos Braz Saraiva, psiquiatra e professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Numa conversa franca e direta, reflete sobre os desafios da saúde mental dos médicos. A partir das suas experiências e observações clínicas, aborda um tema ainda cercado de tabus. E parte do princípio basilar de que os médicos enfrentam desafios únicos, que os colocam em maior risco de exaustão física e emocional. “Os mesmos da população geral, a que acrescem as especificidades de serem cuidadores com maior risco de exaustão física e emocional. Tal facto pode elevar a sensação de incapacidade em certas alturas e originar a derrocada da omnipotência, comum nestes profissionais. Leia-se, quadro depressivo grave”, começa por explicar.

Porém, procurar ajuda não é algo comum entre médicos. “Procurar ajuda é sinónimo de fraqueza. De uma ‘brecha’ intolerável no narcisismo. E é também cultural. Um ‘homem não chora’; um ‘médico nunca pode estar doente’. São arquétipos que não se diluem facilmente”. O psiquiatra chama à atenção para os sinais de sofrimento mental entre os médicos, que muitas vezes passam despercebidos ou são negligenciados. “Os mesmos da população geral. Alterações do comportamento, do sono, do humor. Irritabilidade estranha. Isolamento sofrido. Alcoolismo. Auto e heteroagressividade. Referências à morte”, avança. Outra agravante é o acesso facilitado a medicamentos. “O acesso facilitado a fármacos, associado ao conhecimento do seu potencial de letalidade, agrava o risco de passagem ao ato”, acautela.

O psiquiatra que se tem dedicado à área dos comportamentos suicidários mais ou menos desde o início da década de 80 e foi exatamente esta temática que explorou no seu Doutoramento em 1998 e na sua Agregação em 2007, acredita que a pandemia trouxe maior visibilidade para a saúde mental, mas também agravou os problemas preexistentes. “A pandemia remeteu a saúde mental para uma visibilidade que não tinha. Pôs a nu e agravou as patologias psiquiátricas, mormente de ansiedade e do humor”, continua. E cita um estudo preocupante: “Convirá recordar que um estudo epidemiológico da Universidade Nova de Lisboa, em 2013 revelaria 23% de insanidade mental dos portugueses, uma das cifras mais preocupantes da Europa”.

Refletindo sobre os jovens médicos, aponta diferenças em relação à sua geração. “Por vezes, é o brio, uma certa forma de estoicismo e sentido de responsabilidade que mantêm os médicos à tona. E já nem falo do espírito de missão. A minha geração estava impregnada desses valores. Hoje em dia, é diferente. Os jovens médicos valorizam mais os aspectos materiais. É compreensível que assim seja. Não querem ter vencimentos miseráveis nos hospitais ou nos centros de saúde, o dobro da senhora da limpeza. Isto é apenas uma faceta da falta de rasgo. Também viajam mais. Querem mais mundo”, diz. Para o médico, a maneira como os médicos são tratados nos serviços de saúde reflete um problema de gestão: “Quando os médicos (e outros profissionais de saúde) são tratados como operários de uma fábrica, isso só pode significar ignorância, incompetência, quiçá, perversidade, de quem tem responsabilidades de gestão destas atividades, das mais complexas e exigentes da sociedade. Estamos a falar de intervenientes que têm a vida das pessoas nas mãos”.

O especialista ressalta a necessidade de suporte estruturado para os médicos em sofrimento. “Muito úteis. Espaço para ajuda. Há muitos trabalhos internacionais sobre o tema. Existe competitividade excessiva nos serviços em vez de cooperação. Perdeu-se a coesão grupal e o espírito de família que os médicos da minha geração tinham”, constata. Além disso, defende uma abordagem mais empática e holística na formação médica. “Os médicos são pessoas vulneráveis e isso tem que ser enfatizado na formação. Quando estive no papel de doente (cuidados intensivos coronários) apercebi-me melhor da nossa pequenez. Pela primeira vez, aos 60 anos, ‘percebi’ que não era imortal”, aponta.

Apesar de ter participado em iniciativas de prevenção ao suicídio, lamenta a falta de implementação das estratégias. “Participei, em 2013, no Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, com outros colegas. Dos nove, oito eram da Sociedade Portuguesa de Suicidologia. Fui várias vezes a Lisboa à Direção Geral de Saúde. Pagava transportes e almoço do meu bolso. O mesmo aconteceu com os outros membros da comissão. Mas disto ninguém fala…”, realça. Para além disto, deixa claro: “Fiz parte há cerca de 20 anos do PAIM (Programa Integrado de Apoio ao Médico) em Coimbra, inspirado no modelo de Barcelona: dois psiquiatras, um internista e uma neurologista. Os médicos doentes eram consultados ao final da tarde na Ordem dos Médicos, em regime ‘semissecreto’”, narra. “O alcoolismo era frequente. A ideia era boa (tal como em Lisboa, se bem me lembro) porque preservava o recato e a discrição. Mas não vingaria, por diversas razões. Os médicos dos serviços de pessoal dos hospitais ou de ‘burnout’ poderão ter mais essa valência acrescida de lidar com a ideação suicida, desde que tenham formação adequada, ainda que tal capacidade altamente especializada deva ser cometida a psiquiatras que dominem a área da suicidologia”.

Contactos de apoio e prevenção do suicídio:

SNS 24 – 808242424
SOS Voz Amiga – 213544545, 912802669, 963524660
Conversa Amiga – 808237327, 210027159
SOS Estudante – 915246060, 969554545, 239484020

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