Impacto da guerra na Ucrânia atirou mais de um milhão de pessoas para a pobreza extrema em Moçambique, alerta ONU
Mais de um milhão de pessoas caíram em situação de pobreza extrema em Moçambique, em 2022, devido aos impactos da invasão da Ucrânia pela Rússia, de acordo com um estudo do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD).
“A nossa análise sugere que mais um milhão de pessoas caíram em pobreza extrema em Moçambique devido à subida da inflação dos alimentos, energia e transportes em 2022”, escrevem os autores, associando diretamente este aumento de preços às consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, no início de 2022.
Num estudo sobre como o impacto da inflação induzida pela guerra na Ucrânia afetou o rendimento e os gastos das famílias moçambicanas até dezembro de 2022, os economistas do PNUD escrevem que devido a estes efeitos, o número de famílias com menos de 2,15 dólares por dia aumentou em Moçambique, que é apresentado como um exemplo do que aconteceu noutros países pobres um pouco por todo o mundo.
“Isto representa um aumento de 3,6% na taxa de pobreza extrema em Moçambique neste período, para 71% no final de 2022; desses novos extremamente pobres, quase 60%, representando 550 mil pessoas, vivem em áreas urbanas, onde a pobreza extrema aumentou 12,2%, colocando a incidência de pobreza nos 52,2%, acima dos 46,9% em 2021”, lê-se no estudo disponível no site do PNUD.
A pobreza extrema em Moçambique “tinha estado a aumentar na última década, mas foi agravada pela crise do aumento do custo de vida induzida pelo início da guerra na Ucrânia, em 2022”, acrescentam os economistas, lembrando que nesse ano os preços dos alimentos aumentaram 14,6%, os da energia 6,3% e os dos transportes 19,3%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas de Moçambique.
O preço das matérias-primas a nível global atingiu o pico em junho de 2022, descendo a partir daí, mas, lê-se no estudo, “pelo contrário, a inflação alimentar, da energia doméstica e dos transportes continuou a aumentar mesmo com a descida dos preços das matérias-primas, o que mostra que apesar de os mercados globais terem abrandado a subida nos preços depois dos primeiros meses da guerra na Ucrânia, as pressões inflacionistas continuaram a impactar as finanças das famílias durante todo o ano de 2022”.
No estudo, o PNUD considera que a redução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), implementada em dezembro de 2022, teve um impacto limitado, já que “mitigou apenas 3,8% do aumento da pobreza extrema, tendo um elevado custo mensal de cerca de 8,3% do orçamento da Proteção Social para 2021”.
Defendendo a eficácia de outras medidas, como transferências diretas para as famílias mais vulneráveis nas cinco províncias mais pobres, que seria três vezes mais eficaz, podendo impedir 11% das pessoas que caíram em pobreza extrema, o PNUD diz que mais de metade (60%) dos novos extremamente pobres estão concentrados nas áreas urbanas, já que a agricultura de subsistência praticada nas províncias mitigou o impacto do aumento dos preços.
“Além de transferências monetárias direcionadas, investimentos públicos no aumento da capacidade produtiva nas áreas dos combustíveis, alimentos e fertilizantes, podia aumentar a sustentabilidade do modelo das transferências monetárias, reduzindo a dependência de Moçambique das importações”, escrevem ainda os economistas.
Os especialistas concluem que “estes investimentos na capacidade produtiva doméstica tornariam Moçambique mais resiliente a futuros choques externos, reduzindo as pressões inflacionistas externas e acelerando o crescimento do PIB, o que reduziria a pobreza e os preços a curto e longo prazo”.