Instituto do Cinema e Audiovisual apoiou cerca de 120 obras portuguesas de animação na última década
Numa década, cerca de 120 obras portuguesas de animação tiveram financiamento do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), das quais cinco foram longas-metragens e 19 séries de televisão, revelou ontem este organismo.
Os dados foram divulgados no Festival de Cinema de Animação de Annecy, que decorre em França, numa sessão sobre programas de financiamento de animação, em cinema e audiovisual, pelo ICA, e pelo mecanismo europeu Europa Criativa.
“Não sabemos ao certo quantos filmes de animação são produzidos em Portugal. Alguns não têm o nosso apoio financeiro e por isso não sabemos ao certo quantos são produzidos, porque não há controlo”, disse Nuno Fonseca, do ICA, na sessão de apresentação.
No entanto, sobre a produção que tem financiamento por via do ICA, os dados coligidos sobre a última década, entre 2014 e 2023, indicam que fora apoiados 121 projetos – excluindo coproduções minoritárias – e a maior parte das obras é no formato de curta-metragem.
Apenas cinco longas-metragens foram apoiadas, porque o programa de produção a este formato – no valor de um milhão de euros – foi atribuído pela primeira vez em 2014 e tem um caráter bienal; às quais se juntam 19 obras para televisão.
Nuno Fonseca lembrou ainda que em 2014, o programa de financiamento dedica 2,5 milhões de euros à animação, mas aquele valor representa menos de 10% do orçamento total de 29,6 milhões de euros de apoio ao setor do cinema e audiovisual.
Há ainda outras formas de financiamento geral com diferentes escalas de produção, por exemplo, através do ‘cash rebate’, com um orçamento total de 14 milhões de euros por via do Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema, e do mais recente mecanismo “cash refund”, com um orçamento de vinte milhões de euros.
No caso do “cash rebate”, alguns projetos de animação foram beneficiados, como as longas-metragens “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, e “Os demónios do meu avô”, de Nuno Beato.
Aqueles dados do ICA foram divulgados no mesmo dia em que várias produtoras apresentaram em Annecy alguns dos projetos que têm em curso, em busca de financiamento, coprodução ou distribuição, num inédito momento de visibilidade internacional, porque Portugal é este ano o país convidado do festival.
Entre os projetos apresentados está “Una”, a primeira longa-metragem de David Doutel e Vasco Sá, da cooperativa BAP Animation.
Na sessão, os dois realizadores e o produtor Rodrigo Areias explicaram que “Una” tem um orçamento de 3,5 milhões de euros, metade do qual está garantido com financiamento português. A pós-produção está calendarizada para 2027 e a produtora procura parceiros para completar a montagem financeira e assegurar vendas internacionais.
“Una” é uma longa-metragem dirigida a crianças e jovens e aborda questões atuais sobre sustentabilidade ambiental e eco-ansiedade, a partir de uma história que remete também para a exploração de lítio no interior norte português.
Outro projeto apresentado foi o da segunda longa-metragem de Nuno Beato, “Speransa”, uma história sobre escravatura, cuja produção da Sardinha em Lata, está ainda a dar os primeiros passos e sucede ao filme “Os demónios do meu avô”, que o realizador também já tinha mostrado em Annecy.
Destaque ainda para a “Limbo”, segunda curta-metragem de Patrícia Figueiredo, pela produtora Animais, num registo humorístico e introspetivo, em torno do conceito que dá nome à obra, envolvendo referências ao catolicismo.
José Miguel Ribeiro, depois da primeira longa-metragem, “Nayola”, está em Annecy com o projeto da curta-metragem “A flor e o peixe”, pela Praça Filmes, numa adaptação de uma história do escritor Afonso Cruz.
A recente produtora Fly Moustache, fundada há quatro anos pelo realizador João Carrilho, apresentou a curta-metragem para televisão “As sombras do bosque”, pensada para crianças e famílias, a partir de uma história infantil da escritora Estrela Lourenço.
O Festival de Cinema de Animação de Annecy, considerado o mais importante para o cinema de animação mundial, termina no sábado.