Já não queima, mas ainda deita fumo
Agora que a poeira assentou, podemos voltar a falar da Queima, mas focando-nos em assuntos mais giros. Para lá de polémicas e situações que põem em causa o modo de vida coletivo, a Queima das Fitas do Porto tem imensos aspetos positivos – os únicos que haveria para falar, numa situação ideal.
A Semana Académica começa com a Monumental Serenata. Com início à meia noite de 5 de maio, este ano regressou à Avenida dos Aliados. É a noite em que os caloiros trajam e traçam as capas pela primeira vez e é noite de muita emoção para os finalistas. No Queimódromo, os 100Aura, vencedores do Concurso de Bandas de Garagem, deram início às festividades, seguidos pelo senhor do rock nacional, Rui Veloso. De manhã decorreu a Missa da Bênção das Pastas, à tarde a Imposição das Insígnias. Nessa noite, foi a vez de Deejay Telio e de David Carreira animarem os universitários.
Segunda feira foi a vez dos senhores do hip-hop fazerem a festa. Mundo Segundo e Sam The Kid aturaram para um público que sabia as letras da primeira à última palavra. Os mestres da palavra percorreram os maiores êxitos de cada um, chegando, até, a cantar Dealema. “Sendo Assim”, “Bate Palmas”, “Tu Não Sabes” e “Gaia Chelas” foram músicas que garantiram a esta atuação um lugar no pódio da semana. A dez minutos da meia noite entrou em cena Richie Campbell. Munido do álbum de 2017, “Lisboa”, e acompanhado dos amigos Plutónio e Mishlawi, conseguiu por o recinto inteiro a dançar. A sua adaptação de reggae deixou tudo e todos alegre e livre de preocupações. Mais para o fim da atuação, os primeiras filas até já angolano falavam.
Terça feira é dia de Cortejo na Invicta. As ruas da baixa enchem-se de cor e som. Cartolas são atiradas ao ar, bengalas são empunhadas com orgulho, os cânticos de cada faculdade fundem-se até de um só se tratar. Os Insert Coin atuaram para um recinto ainda bastante vazio, fruto da hora tardia a que acaba o Cortejo. Já Quim Barreiros garantiu a enchente do recinto. Os jovens dançaram ao som do rei do pimba para esquecer a tempestade que se avizinhava. A chuva que caía não foi suficiente para afoguentar a multidão, que apenas dispersou bem depois da cabritinha ir dormir.
David Fonseca e Wet Bed Gang atuaram numa quarta feira que era estranha por natureza. Às atuações de universos opostos dentro do mundo da música – ou música e (des)música – juntou-se uma noite de chuva torrencial que nunca chegou. A noite do techno também se esperava chuvosa, mas o tempo aguentou-se melhor do que os universitários, que venderam bilhetes em massa. Os Dirty Sound Boys passaram música para um Queimódromo maioritariamente vazio, mas a sua boa disposição e energia foram suficientes para conquistar os presentes. A estes vencedores do Concurso de DJ’s seguiu-se Mastiksoul, que muito tinha a aprender com estes miúdos. Lost Frequencies atuou já perto das duas da manhã. O belga de 25 anos espalhou todas as frequências perdidas no espectro por Matosinhos, mostrando aos presentes a verdadeira essência da música eletrónica por entre chamas, fumos e retângulos de papel – lá se vai a política ecológica da FAP.
Jimmy P abriu para Gabriel, o Pensador na penúltima noite da semana. Os jovens pareceram gostar do concerto do lisboeta, fazendo coro em músicas como “Ano Novo” e “Contigo”. A vinte minutos da uma, Gabriel – que poderia ser apelidado de o Tornado, a par de o Pensador – entrou em palco. Numa atuação carregada de raiva, crítica política e social, desilusão e pedidos por mudança, o brasileiro conquistou todos os presentes. Passa de músicas explosivas – como “Tô feliz (Matei o Presidente) 2” – para canções calmas – “Astronauta” – numa harmonia e consistência quase perfeitas. A festa de encerramento destas Noites da Queima 2019 ficou ao cargo de Waze, dos lisboetas Dead Combo e da holandesa Eva Simons.