Jean-Luc Godard já trabalha em novo filme e lamenta sucesso do streaming

por Comunidade Cultura e Arte,    16 Abril, 2019
Jean-Luc Godard já trabalha em novo filme e lamenta sucesso do streaming
Jean-Luc Godard
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Godard fez uma aparição extremamente rara para receber o Prémio FIAF 2019, numa cerimónia realizada na Cinemateca Suíça, no âmbito do 75.º Congresso da entidade que congrega as cinematecas de todo o mundo — a Federação Internacional dos Arquivos de Filmes.
Este prémio consagra personalidades que, através da sua criatividade, contribuem para a evolução da história do cinema e, em particular, para a defesa e preservação do património.

O realizador de 88 anos fez assim uma aparição pessoal para receber o prémio e Frédéric Maire, presidente da FIAF e director da Cinemateca Suíça, foi quem o entregou dizendo sentir-se “inseguro e emocional” por estar ao lado de Godard.

Numa entrevista à televisão suíça RTS, por ocasião do lançamento do seu “Le Livre d’Image, o cineasta mostrou-se feliz pelo facto dos jovens hoje em dia assistirem a um filme comoLe Mépris” (1963) e gostarem: “Os jovens dizem: ele é velho, mas fala como nós“.

Para além de receber o Prémio FIAF 2019, Godard falou do seu mais recente filme, “Le Livre d’Image” (ler crítica), uma meditação caleidoscópica sobre a natureza do cinema construída com excertos de filmes, textos literários e música clássica. O filme recebeu uma Palma d’Ouro Especial no Festival de Cannes.

Jean-Luc Godard
à entrada da Cinemateca Suíça / Fotografia de Carine Roth

Conto esta história [“Le Livre d’Image”] tanto com imagens como com palavras para o cinema falar por si. O meu último filme, por exemplo, é feito exclusivamente de filmes”, disse o realizador. “Tento alcançar algo da linguagem que a pintura teve, que a música teve, que o cinema também teve um pouco durante a Era do silêncio e que perdeu. Perdeu em favor do que chamamos de fotos faladas”, acrescentou Godard.

“Só resto eu e o Jacques Rozier”, disse Jean-Luc Godard sobre a Nouvelle Vague em entrevista à televisão suíça RTS.

No entanto, o assunto do cinema mudo surgiu ainda mais cedo na conversa quando Maire perguntou a Godard sobre o seu trabalho com a Federação Internacional dos Arquivos de Filmes, desde 1979, e aquando da organização quando esta o ajudou a encontrar imagens de arquivo dos anos 1940. Godard fez questão de mencionar uma fotografia do primeiro congresso da FIAF em 1929, com Jean George Auriol, fundador da Revue du Cinéma, a revista de cinema francesa que se tornou na icónica Cahiers du Cinéma e que depois deu origem à Nouvelle Vague francesa.

Para mim, essa fotografia no congresso de La Sarraz é uma foto do fim do cinema que veio do cinema mudo e dos irmãos Lumière. É um arquivo nesse sentido. … aquilo que foi em grande parte perdido”, disse Jean-Luc Godard que ainda foi mais longe no tema dizendo que “Hoje, outra perda, na minha opinião, será o fim dos DVDs de uma certa maneira. Com o novo, como é chamado, Netflix … as pessoas usam isso para verem um filme da forma que querem, e não vão mais aos cinemas.

Outras revelações surpreendes do histórico cineasta, e em entrevista ao France Culture, cadeia de rádio cultural francesa pertencente ao grupo Radio France, foram o facto de ter feito psicanálise durante 15 anos e de já estar a trabalhar num novo filme de seu nome “Scenario”.

 

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