Legado do diplomata Aristides de Sousa Mendes celebrado em Nova Iorque em abril

por Lusa,    30 Março, 2024
Legado do diplomata Aristides de Sousa Mendes celebrado em Nova Iorque em abril
Aristides de Sousa Mendes / DR

O legado do diplomata português Aristides de Sousa Mendes será celebrado a 07 de abril em Nova Iorque, num evento que reunirá várias representações diplomáticas e institucionais e que homenageará também o humanista brasileiro Luiz Martins de Souza Dantas.

À Lusa, o impulsionador de projetos em memória de Aristides de Sousa Mendes, João Crisóstomo, explicou que o motivo de juntar Sousa Mendes e Souza Dantas na mesma celebração partiu das similaridades entre ambos: “Ambos de língua portuguesa, ambos diplomatas, encontravam-se ambos em França no início da Segunda Guerra Mundial, ambos resolveram desobedecer às diretrizes dos seus Governos e deram vistos aos refugiados que desesperados os procuravam para fugir aos nazis e campos de concentração onde a maioria acabava asfixiada e logo incinerada”.

“Mais tarde ambos foram condenados em tribunais pelo que fizeram. E, nas suas defesas, em anos e locais diferentes, sem saberem um do outro, ambos declararam ter agido assim porque assim lhes mandava a sua consciência de cristãos. Os dois vieram a ser reconhecidos e honrados pelo Yad Vashem [memorial oficial de Israel às vítimas do Holocausto]. E, como que com carimbo de comum destino, vieram a morrer no mesmo mês e no mesmo ano, a escassos dias um do outro: Aristides a 03 de abril e Souza Dantas a 16 de abril de 1954. Portanto, fazia sentido falar dos dois”, explicou João Crisóstomo.

O evento, que assinalará os 70 anos da morte dos diplomatas, decorrerá na Igreja Eslovena de São Cirilo, em Manhattan, e contará com uma missa católica presidida pelo arcebispo Gabriele Giordano Caccia, o observador permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas.

É esperada ainda uma intervenção da embaixadora de Portugal junto das Nações Unidas, Ana Paula Zacarias, à qual se seguirá a exibição do filme “O Cônsul de Bordéus”.

João Crisóstomo, que com os restantes membros do Comité do “Dia da Consciência” promoveu esta homenagem, espera ainda a presença de várias representações diplomáticas e institucionais, como de Portugal e de Timor Leste, da Federação Sefardita Americana, da Fundação Sousa Mendes, da Fundação Internacional Raoul Wallenberg, do autarca de Mineola, o luso-americano Paulo Pereira, do senador luso-americano Jack Martins, de representantes das comunidades portuguesas nos EUA, entre outros.

Crisóstomo passou anos a insistir no apoio do Vaticano e das instituições portuguesas à causa do Dia da Consciência, um projeto de celebrações anuais em diversos países, que, a 17 de junho, assinala o dia em que o cônsul português em Bordéus Aristides de Sousa Mendes deu prioridade à sua consciência em vez das regras administrativas e ajudou a salvar dezenas de milhares de pessoas do Holocausto, com autorização de vistos e passaportes.

O ativista português deu especial destaque ao 17 de junho de 2020, ocasião em que o Papa Francisco evocou Aristides de Sousa Mendes num discurso.

“Celebra-se hoje o ‘Dia da Consciência’, inspirado no testemunho do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, que, há 80 anos, decidiu seguir a voz da consciência e salvou a vida de milhares de judeus e outros perseguidos”, referiu o Papa na ocasião, durante uma Audiência Geral.

Antigo mordomo de Jacqueline Onassis Kennedy, ex-primeira-dama dos Estados Unidos, em Nova Iorque, João Crisóstomo serviu-se dos contactos que fez durante a sua vida toda para lutar, entre outras causas, pela memória de Aristides de Sousa Mendes.

“Devemos relembrar Aristides de Sousa Mendes para não ser esquecido. Mas a razão primeira é que, ao lembrá-lo, lembramos a sua coragem em ajudar os outros. Devemos relembrá-lo para nos lembrarmos de que, tal como ele, hoje também temos de ter coragem para fazer o que está certo e precisa de ser feito, mesmo que isso exija esforço e mesmo sacrifício da nossa parte, sobretudo para ajudar os que, sem culpa, são pobres e precisam da nossa ajuda”, defendeu o português.

Por ocasião dos 70 anos da morte dos dois diplomatas, o Comité do “Dia da Consciência” pretende, com este evento em Nova Iorque, “manter vivo o legado destes dois humanistas,  para que a coragem destes dois grandes seres humanos continue a ser inspiração e força motivadora de semelhante procedimento nos nossos dias”, sustentou ainda João Crisóstomo.

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