Loja de discos Louie Louie do Porto celebra 20 anos com concertos grátis
A loja de discos Louie Louie, no Porto, vai celebrar 20 anos com concertos ao vivo e DJ ‘sets’, para assinalar a resistência numa rua e numa cidade que mudou muito em duas décadas.
Espaço de referência para os amantes de música do Porto, a loja comemora 20 anos de história, em 23 de novembro, com concertos ao vivo e DJ ‘sets’, entre as 15:00 e as 20:00.
Estão alinhadas atuações de Black Bombaim, Marquise, O Triunfo dos Acéfalos e dos DJ Xico Ferrão & Rui Pimenta, numa festa com entrada grátis, que será “uma oportunidade para reviver memórias, criar novas e, sobretudo, celebrar a música, que continua a ser o fio condutor” do espaço. “Acho que está um cartaz equilibrado”, disse o proprietário da Louie Louie.
Em declarações à Lusa, Rui Quintela considerou que, durante estes 20 anos, a loja “tem sido mais do que um local onde se compram discos, é também um lugar de troca de ideias entre melómanos, artistas e clientes habituais ou ocasionais”.
Em 20 anos, “a cidade ficou mais cosmopolita, a rua está ocupadíssima, já não com as lojas de ferragens que a caracterizavam, mas com muitos negócios novos, graças, sobretudo, ao aumento do turismo que, para nós, tem sido benéfico”, disse Rui Quintela.
“Tem corrido bem, nós tivemos uma fase mais difícil, como todas as lojas de discos, que foi a altura em que o CD ‘quebrou’ completamente e os discos de vinil ainda não estavam a vender como hoje. Houve um hiato, de três ou quatro anos, que o negócio andou ‘tremido’, mas felizmente ultrapassou-se essa fase”, disse.
Modéstia à parte, diz Rui Quintela, a Louie Louie é hoje “uma loja de referência no Porto”, porque se aguentou. “O vinil, há 20 anos, era uma coisa marginal, era para meia dúzia de melómanos, colecionadores, pessoal mais velho. Quando começou o seu ressurgimento já estávamos cá e transformámo-nos numa loja de referência”, sustentou.
A loja foi uma das primeiras do Porto a vender discos usados em grande escala e, apesar de também ter trabalhos novos, hoje ainda é conhecida pelos álbuns em segunda mão, mas também por ser uma loja generalista.
“Há algum critério, mas aqui existe música de todos os géneros, do rock ao jazz, passando pela soul, hip-hop, heavy metal, música eletrónica, clássica, fado até à música brasileira, com preços a partir dos 2,5 euros até aos 35 euros, para os novos lançamentos”, contou.
Dizer que a venda de vinis é uma moda “não faz sentido” para Rui Quintela, porque “o ressurgimento já dura há uns oito ou nove anos e aumentou muito no período da pandemia”. “No início da pandemia foi um grande susto, ter de fechar a loja, mas, depois, ao longo dos tempos, notei que as vendas ‘online’ estavam a disparar”, salientou.
O que mudou ao longo dos 20 anos de existência na Rua do Almada “foi, de facto, o aumento do turismo, que para [a loja] foi fundamental”.
“Claro que a massificação do turismo tem o seu lado negativo, porque ficou impossível viver no Porto, o centro da cidade é um centro turístico e houve uma descaracterização do comércio, mas para nós, assim como para outros negócios, como a restauração, por exemplo, foi muito bom”, disse. “Posso-lhe dizer que para mim o período de maior faturação sempre foi o Natal e, desde há uns anos, passou a ser agosto”, frisou.
A Louie Louie já ocupou diversas lojas, mas nunca saiu da Rua do Almada.
“Esta é a nossa quarta loja, na Rua do Almada, começamos do número 501, passamos pelo 301, pelo 307 e voltámos a subir ao 536, de onde não pensamos sair tão cedo”, disse.
De início foi a degradação do espaço, depois foi o valor das rendas que motivaram as mudanças.
Porquê Louie Louie?, questionou a Lusa. Rui Quintela lembrou que se trata de uma canção original dos anos 1950, do compositor Richard Berry, “com inúmeras versões”, mas a escolha foi por ter achado “um nome interessante”.
Sobre os clientes da loja, disse notar-se um crescimento de estrangeiros, sobretudo americanos e brasileiros, muitos deles deixaram de ser turistas e passaram a residentes, mas mantêm-se “os clientes de sempre”.
“Temos clientes de há 15/20 anos que agora já vêm com os filhos, é também por isso que eu digo que o ressurgimento do vinil não é uma moda”, acrescentou.