Mais de 500 artistas brasileiros unem-se em repúdio a Regina Duarte
Caetano Veloso, Chico Buarque e Fafá de Belém fazem parte de um total de 512 artistas, jornalistas, produtores culturais e intelectuais que assinaram um manifesto de repúdio a Regina Duarte, secretária especial da Cultura do Brasil. A conhecida atriz causou polémica ao desvalorizar a censura e tortura durante a ditadura.
As declarações de Regina Duarte, secretária especial do governo de Jair Bolsonaro, continuam a gerar uma onda de críticas por parte do setor da Cultura. Numa entrevista à CNN Brasil, a atriz desvalorizou a censura e tortura durante a ditadura militar brasileira e relativizou o impacto do novo coronavírus. Regina Duarte recebe agora duras críticas por parte de um setor que, segundo a mesma, a “ama”.
“Fazemos parte da maioria que não aceita os ataques reiterados à arte, à ciência e à imprensa, e que não admite a destruição do setor cultural ou qualquer ameaça à liberdade de expressão. Ela não nos representa”, diz a carta que foi ainda assinada por nomes como Fernando Meirelles, Malu Mader, Luís Fernando Veríssimo, Paulo Betti, Renata Sorrah, Miguel Falabella, Cauã Reymond e António Prata.
Os representantes culturais, que anteriormente haviam criticado Regina Duarte por esta ter aceite fazer parte do governo de Bolsonaro, acusam ainda a atriz de não defender os valores democráticos daquele país. “Somos artistas brasileiros e fazemos parte da maioria de cidadãs e cidadãos que defende a democracia e apoia a independência das instituições para fazer valer a Constituição de 1988“, continuam.
“Pedimos respeito aos mortos”
No centro de toda esta polémica estão as declarações de Regina Duarte para com a ditadura militar. No princípio da entrevista com a CNN Brasil, a atriz cantou uma “marchinha” associada ao regime desse tempo e questionou ainda o jornalista Daniel Adjuto: “Não era gostoso cantar isso?”. Depois de também desvalorizar o número de mortes que este e outros regimes ditatoriais causaram, a secretária especial da Cultura relativizou a gravidade da Covid-19.
Como resposta, o setor pediu um maior respeito para com os milhares de mortos e infetados que hoje fazem deste país o sexto com mais vítimas mortais mundialmente.“Fazemos parte da maioria que entende a gravidade do momento que estamos vivendo e pedimos respeito aos mortos e àqueles que lutam pela própria sobrevivência no país devastado pela pandemia e pela nefasta ineficiência do poder público”, diz o texto.
No Brasil já morreram mais de 10 mil pessoas por causa do novo coronavírus. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro continua a desvalorizar o vírus, os seus apoiantes continuam a manifestar-se contra as medidas de contenção.
Artigo escrito por Paulo Ricardo Pereira e originalmente publicado em Espalha Factos.