Makoto Shinkai, o novo poeta visual do cinema de animação japonês
Há mais no Japão do que apenas o Studio Ghibli (My Neighbour Totoro, Grave of the Fireflies, Princess Mononoke, Spirited Away, Princess Kaguya), Rintaro (Metropolis), Satoshi Kon (Perfect Blue, Tokyo Godfathers, Paprika) e Mamoru Oshii (Angel’s Egg, Ghost in The Shell). O Japão afirmou-se nos últimos mais de 50 anos como o país da animação. É óbvio que países como Estados Unidos, Rússia e França também têm contribuído com grande qualidade para o género, mas o Japão tem simplesmente talento e diversidade em abundância.
Makoto Shinkai é mais um dos filhos do país do sol nascente. Se olhamos para Hayao Miyazaki como um dos pais da animação tradicional japonesa, temos que olhar para Shinkai como o filho dessa criação, aliando o melhor do tradicional com o digital.
Os cenários de Shinkai são dotados de uma beleza inigualável, que não encontramos em mais nenhum filme. Tal como pinceladas num belo quadro, tudo é enquadrado e criado para dar uma ilusão de criação artística tradicional. A fusão mínima com o digital é notória, mas apenas para salientar certos detalhes que apenas o digital consegue alcançar.
A beleza de Shinkai não é apenas a sua forte criação visual, mas também a forma como cria uma narrativa sólida, repleta de sentimento, com elementos fantasiosos e, ao mesmo tempo, actuais. É necessário não só o dom da sabedoria, mas também do bom senso para se criar algo de tamanha qualidade.
Makoto Shinkai iniciou a sua carreira em 1994, numa empresa de videojogos onde permaneceu durante 5 anos. Foi em 1999 que se lançou na animação, mais propriamente com a curta metragem She and Her Cat, que ganhou inúmeros prémios. Este foi o empurrão necessário para uma carreira ainda breve, mas repleta de sucessos. Em 2002 lança a sua primeira longa metragem baseada numa light-novel escrita pelo próprio. Voices of a Distant Star atingiu rapidamente o sucesso, recebendo elogios internacionais muito graças à especial atenção dada aos personagens principais, à forma como o drama se entrelaça com a narrativa e como os visuais criam uma espécie de poesia estética. Aliás, este é uma das características de Shinkai, o facto de ser um poeta visual que lhe permite criar narrativas complexas dotadas de uma qualidade visual única e própria, como se fosse um pintor.
Chegamos até 2016, ano em que lança internacionalmente Your Name, o filme que o consagra finalmente como mestre do cinema de animação. Para trás ficam filmes inesquecíveis, como o drama 5 Centimeters Per Second ou o incrível filme de fantasia Children Who Chase Lost Voices, um filme que mistura os melhores elementos de Miyazaki com o drama narrativo de Shinkai.
Com Your Name, Shinkai chegou finalmente ao cinema comercial exterior ao seu Japão. O sucesso tem sido estrondoso e o futuro aparenta ser ainda melhor. Miyazaki pode estar a ameaçar o final de carreira há mais de 20 anos mas, quando isso acontecer, o seu legado ficará sem dúvida bem entregue a Makoto Shinkai.
https://www.youtube.com/watch?v=hRfHcp2GjVI
Texto de João Miguel Fernandes