‘Mandy’: Nicolas Cage passado dos carretos num registo de terror retro
“Like a bat out of hell I’ll be gone when the morning comes”. Sim, recordamos Meat Loaf e o disco mítico de 1977 para introduzir o estilo de “Mandy”.
O novo filme do italiano Panos Cosmatos é um verdadeiro cometa vindo do inferno que se despenhou em Janeiro passado nos EUA no festival de cinema Sundance. Depois disso acontecer já provocou sucessivas reverberações em diversos festivais um pouco por todo o mundo na crescente corrente do fenómeno de culto do género do horror retro.
Cosmatos mostra que navega bem no registo retro. Desde logo, pelo exemplo do filme de estreia Beyond the Black Rainbow, em ambiente muito anos 80, e confirmado aqui ao empurrar Nicolas Cage para uma das suas maiores prestações neste maldito papel de vingança que lhe dará também aquele veículo que precisava para regressar das chamas como uma verdadeira fénix! Neste caso, não na mota de Ghost Rider porque supera largamente esse registo.
“Mandy” ganha sobretudo pela fortíssima carga de veneração dos grandes clássicos do género, como de “The Texas Chainsaw Massacre” e até mesmo ao estilo musical “Rocky Horror Picture Show”. Se calhar, este flipado “Mandy”, com a sua pequena horda de motoqueiros a destilar um ácido demasiado concentrado em rituais do além onde o lenhador Red Miller (Cage) acaba por perder a sua “Mandy”, com uma Andrea Riseborough versão heavy metal, num ritual macabro onde Jeremiah, o líder dessa suposta seita religiosa, interpretado por Linus Roach, acabará mesmo por proferir a mais surpreendente sentença “gostas dos The Carpenters?” Assim principia esse desfecho macabro que irá investir Cage numa inimaginável torrente de energia vingativa que ocupará perto de metade do filme.
Percebe-se que Pan Cosmatos digeriu bem a herança deixada pelo pai cinéfilo George P. Cosmatos, que trabalhou com Preminger mas também recebeu o Razzie pelo seu trabalho em “Rambo: First Blood Part II”, e só bem mais tarde, em 1993, receberia o devido reconhecimento no western “Tombstone” sobre a história de Wyatt Earp, o tal homem que matou Liberty Vallance, e dos seus irmãos.
É claro que “Mandy”aponta para um público nicho, que adere a este registo algures entre o pesadelo e a realidade. Ou seja, trata-se mais de um filme de sessões de meia noite em grupos dispostos a celebrar a hiper-violência brindada até com um acrobático combate de motosserras e decapitações.Artigo de Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt