Manel Cruz, o regresso às origens

por Linda Formiga,    20 Abril, 2018
Manel Cruz, o regresso às origens
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Manel Cruz, nascido em São João da Madeira, criado no Porto, procurava, há pouco mais de 25 anos, um vocalista para a banda que tinha criado com os amigos da Soares dos Reis. As prospecções haveriam de fracassar e Manel Cruz, habituado a cantar com a mãe, torna-se o vocalista/letrista/aprendiz de guitarra daquela que foi a maior banda portuguesa no final do milénio, os Ornatos Violeta.

A banda lança então os álbuns Cão (1997) e O Monstro Precisa de Amigos (1999), participa em várias compilações e corre Portugal de lés a lés, com um considerável grupo de seguidores. A braços com a popularidade crescente e com as pressões externas inerentes, os elementos da banda chegam à conclusão de que amizade que os unia era mais importante do que tudo o resto, e decidem celebrar o final da banda.

Para a história ficaram estórias. Estórias de amor, de estados de alma, de frustrações, de pessoas, contadas como se fossem desenhos. Ficaram composições, sons de um colectivo que cresceu artisticamente em todas as frentes. A banda voltaria a reunir-se em 2012, em concertos rapidamente esgotados em Lisboa, Porto e Açores.

Depois dos Ornatos Violeta, e do rodopio de emoções com o final de uma banda de 11 anos, Manel Cruz decide não ter mais banda alguma. Mas, uma semana depois do fim daquele projecto, tinha já duas bandas: os Pluto e os Supernada.

Ornatos Violeta: Elísio Donas, Kinorm, Peixe, Nuno Prata e Manel Cruz, início dos anos 90

Os Pluto pegaram nos “escombros” dos Ornatos e reúnem Manel Cruz e Peixe, aos quais se juntaram Ruca e Eduardo. Com um rock mais pesado, lançam o álbum Bom Dia em 2004. Os Pluto mostraram também que os elementos da banda criada nos corredores da Soares dos Reis não iriam sair de cena (Nuno Prata entretanto também iniciava a sua carreira a solo).

Já os Supernada vão sendo conhecidos aqui e ali, em concertos que quase não saíram da zona do grande Porto, com interregnos prolongados e que pareciam não ter fim, até lançarem Nada é possível em 2012.

Entre o Bom Dia dos Pluto e o Nada é possível, Manel Cruz apresenta o seu projecto Foge Foge Bandido, sob a forma de concertos inicialmente estranhos e de um CD-livro composto por 2 discos, O Amor dá-me Tesão/Não fui eu que estraguei. Este trabalho é rico em excertos, fragmentos, desvios, sons, experimentações, perguntas, mas acima de tudo, honestidade. Com a participação de quase todos os elementos dos Ornatos, do PacMan (agora Carlão) e da Casal Boss do vizinho, as 78 faixas que compõem este trabalho levam-nos a viajar pelo imaginário de Manel Cruz e pelo nosso, num sopro mundano e humilde. Não é um projecto fácil, mas quem teve a oportunidade de o ver em alturas diferentes percebe o aperfeiçoamento e o crescimento de todas as suas composições. Este projecto findou em 2011.

Foge Foge Bandido

Manel Cruz volta intermitentemente aos palcos a partir de 2015, com a Estação de Serviço. E mais uma vez se comprova que a turbulenta serenidade da sua música é admirada e seguida por centenas e centenas de pessoas, que encheram, por exemplo, o anfiteatro natural do palco secundário do NOS Primavera Sound às 5 da tarde, para espanto (em todos os sentidos) das publicações estrangeiras que ali se encontravam. Em 2017 dá início à sua nova ronda, desta feita com a chancela Extensão de Serviço, com concertos em festivais como o Mimo (Amarante e Brasil) ou Vodafone Mexefest, e com o lançamento de dois singles, “Beija-Flor” e “Ainda não acabei”, que irão integrar o álbum a ser editado em Maio.

A nós chega-nos; precisamos da humildade que Manel Cruz irradia na sua música e alegra-nos sobejamente que o seu fluxo criativo ainda não tenha acabado.

Agora, Manel Cruz regressa a São João da Madeira já amanhã, no âmbito do PARTY SLEEP REPEAT, um festival feito de amizade, de humildade e solidariedade e onde nos sentiremos, indubitavelmente, em casa.

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