Manifesto pela língua portuguesa na ciência foi lançado hoje no Folio em Óbidos, por um grupo de investigadores
Um Manifesto de Óbidos pela Língua Portuguesa foi hoje lançado no Folio – Festival Literário, por um grupo de investigadores que defende a utilização do português como língua de culturas e também das ciências.
Considerando que a língua portuguesa “se afirmou e se consolidou nos últimos 500 anos como uma das línguas globais (é a sexta língua mais falada do mundo e a mais falada no hemisfério sul), com o contributo de materiais lexicais provenientes das várias línguas do mundo com que interagiu”, os autores do manifesto defendem que “a valorização da diversidade linguística global passa pela defesa da língua portuguesa, não apenas como língua de culturas e de pensamento, mas também como língua de ciência”.
O documento surgiu de uma conversa entre investigadores e docentes que participaram na anterior edição Fólio Educa, entre os quais Luísa Paolinelli, José Eduardo Franco e Regina Brito, acabando por se juntar, na co-autoria do manifesto lançado hoje em Óbidos, Carlos Fiolhais, Moisés Martins, Paulo Santos e Roque Rodrigues.
Segundo o manifesto a valorização da língua portuguesa “é hoje uma necessidade que se deve opor à uniformização de todas as dimensões da existência humana imposta pela hegemonia da língua inglesa”.
O texto sublinha que “a subalternização científica de uma língua significa igual subalternização de povos, culturas e identidades que nela se exprimem e comunicam”, e defende que “pensar e publicar ciência em várias línguas enriquece a complexidade das expressões humanas”.
Por isso os subscritores apelam às entidades dos estados que utilizam a língua portuguesa nos vários continentes, que “tomem medidas políticas de salvaguarda e de promoção da língua portuguesa como língua de culturas e de pensamento e, sobretudo, como língua produtora de conhecimento”.
As medidas propostas passam por promover uma política de ciência em língua portuguesa, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), em Portugal, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Brasil, e de outras agências semelhantes que “de forma adequada, valorizem, nas prioridades e na avaliação de centros de estudo e de projetos de investigação, o financiamento da produção científica de qualidade em língua portuguesa, seja de revistas, artigos, livros, atas de conferências e congressos, seja pela incorporação dessas publicações nos catálogos internacionais”.
O documento propõe ainda ações como o reconhecimento da divulgação da produção técnico-científica veiculada em português e produzida por investigadores lusófonos; o fomento da produção de estudos científicos por pesquisadores dos espaços lusófonos e das suas diásporas e a promoção de políticas de divulgação de produtos culturais, designadamente artísticos, comunicados em língua portuguesa.
O grupo de investigadores defende que seja fomentado o financiamento reforçado para a tradução e publicação de obras de autores clássicos e contemporâneos, escritas de raiz em língua portuguesa, além da produção científica de relevo, desenvolvida em português; o reforço da digitalização de documentos em português, “num esforço conjunto das Bibliotecas Nacionais dos vários países da CPLP”, e o desenvolvimento de uma “Wikipédia em língua portuguesa, designadamente no que respeita a figuras da cultura e da ciência dos países de língua oficial portuguesa”, entre outras medidas.
O manifesto foi, simbolicamente, lançado junto do Padrão Camoniano, em Óbidos, no distrito de Leiria, onde até ao dia 22 decorre o Folio, e está disponível em vários locais para o público que o pretenda assinar.
O programa do festival, que teve início na quinta-feira e decorre até ao próximo dia 22, integra 14 mesas de autores, 108 conversas e tertúlias, 40 apresentações e lançamentos de livros, 40 espetáculos e concertos, 21 exposições e 18 sessões de leitura e poesia na vila.