Marcelo considera que em Portugal “é raríssimo encontrar mecenas” das artes e da música
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou ontem que em Portugal “é raríssimo encontrar mecenas” das artes e da música, sendo mais habitual o mecenato social, e destacou o exemplo do conde do Farrobo.
“É raríssimo encontrar mecenas no domínio das artes e nomeadamente da música. Não somos um país com mecenato cultural, como é público e notório”, considerou o chefe de Estado, apontando que em Portugal é mais habitual o mecenato social.
Marcelo Rebelo de Sousa falava depois de ter visitado, juntamente com a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, a exposição “Il Fanatico per la musica: O conde do Farrobo e o Teatro das Laranjeiras”.
Patente no Teatro Thalia, em Lisboa, a exposição retrata a vida de Joaquim Pedro Quintela do Farrobo.
“Pois ele foi, além de tudo o resto, um mecenas cultural”, indicou o Presidente da República, apontando que “fazia-o por gosto, por vocação, como instrumentista, cantava, tocava, cultivava a proximidade desse meio”.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que Joaquim Pedro Quintela do Farrobo, que viveu no século XIX e ao qual está ligada a expressão “forrobodó”, “era verdadeiramente excecional” pois “não houve área de atividade em que não estivesse presente”.
Apontando que Portugal é “um país que não é dado a lideranças empresariais” e que “há inúmeros ótimos empresários, mas em cada período histórico encontram-se muito poucos que marquem inovatoriamente aquilo que é o avanço da economia portuguesa”, o chefe de Estado considerou que “foi o caso do conde de Farrobo”.
“Num país onde o liberalismo chegou tarde e durou pouco, e onde quer a direita quer a esquerda são predominantemente não liberais, desde quase os seus primórdios, encontrar um liberal que o era nas convicções mas que o foi também enquanto privilegiado daquilo que lançou, naquilo que promoveu, é raríssimo”, acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou também que é nos tempos de instabilidade que emergem, quando emergem, personalidades e iniciativas que mais dificilmente se afirmam, ironicamente, em tempos institucionalmente mais estáveis.
“E também nisso esta exposição é fascinante. Podemos ver o que é, através da vida de um homem excecional, a mudança de um país”, declarou.
E apontou que “é universal quem sobe e se afirma ter milhões à sua volta e quem entra em relativa desgraça passar a ter dezenas junto de si, mas isso é uma lição universal vivida mais intensamente quando se trata de um período de transição”.
“Estamos a reabilitar um homem que não precisa, vale por si, mas estamos também a perceber o que foi a afirmação do liberalismo, o que foi um período único de transformação mental, económica e social e, portanto, cultural, e como isso é tão próximo de nós, parecendo tão distante, isto é, estamos a contribuir para a história do nosso país”, salientou o Presidente da República.
Antes, a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior indicou que esta exposição começou a ser organizada antes da pandemia de covid-19 e assinalou que “revela as várias facetas do homem que concebeu e percorreu este teatro e que viveu nos salões nos corredores do palácio” no qual trabalha, no Palácio das Laranjeiras.
“A vida de alguém tão importante para Lisboa e para o país recebe finalmente o destaque merecido. Foi essencial para a economia, política e cultura portuguesas”, defendeu Elvira Fortunato, concordando que foi “uma figura inesquecível das artes em Portugal“.
A exposição, organizada pela Secretaria-geral da Educação e Ciência, pode ser visitada até 31 de março do próximo ano e tem entrada livre, no Teatro Thalia, na Estrada das Laranjeiras, em Lisboa.