Marco Paiva dirige “Ricardo III” em Madrid em Língua Gestual Portuguesa e Espanhola
A peça “Ricardo III”, com texto de Shakespeare e direção de Marco Paiva, vai estar em cena no Teatro Valle-Inclán, em Madrid, em outubro, com interpretação em Língua Gestual Portuguesa e Espanhola.
Em cena de 06 a 29 de outubro, trata-se da primeira vez que o Teatro Valle-Inclán acolhe uma peça em Língua Gestual, disse à Lusa Marco Paiva.
A peça nasce da continuidade do pensamento artístico que a estrutura Terra Amarela tem desenvolvido nos últimos tempos “em torno da presença da Língua Gestual”, já que, desde 2018, a companhia tem trabalhado com diversos artistas, nomeadamente com surdos, disse Marco Paiva.
Na última criação conjunta com o Teatro Nacional D. Maria II (TNDM), “Zoo story”, estreada em outubro de 2022 naquele teatro em Lisboa, Marco Paiva dirigiu, pela primeira vez, um espetáculo integral em Língua Gestual Portuguesa com dois intérpretes surdos.
“Ricardo III” é, nas palavras do encenador, “uma espécie de passo em frente”, com um elenco composto por três atores portugueses e outros tantos espanhóis, que vai trabalhar à volta da “coexistência das duas línguas gestuais”.
Além disso, o texto de Shakespeare “é profundamente poético na sua escrita, belíssimo quando é dito, mas [encontra-se] outro tipo de beleza quando esta poética é trabalhada em gesto”, frisou.
Por isso, o desafio de pôr este texto em cena nas duas línguas gestuais consiste em “redescobrir outros lugares da beleza e outros lugares da poesia”.
“A partir de um texto que é muito bonito, esteticamente muito forte, e que nos possibilita ter muitos lugares em torno da presença da Língua Gestual, este é o ponto principal”, observou Marco Paiva.
O pretexto da peça acaba por residir em “sublimar a Língua Gestual num texto poético”.
Há, porém, outras questões no texto de Shakespeare que o encenador pretende discutir, nomeadamente as questões políticas e de poder.
“Esta figura do Ricardo III é uma figura controversa, que ambiciona de forma voraz o poder e a possibilidade de ascender a esse poder e não olha a meios para poder alcançá-lo. E, hoje em dia, este paralelismo com o lugar do desejo exacerbado pelo poder ou do poder pelo próprio poder não olhando a meios é algo que nos interessa muito”, acrescentou.
Com adaptação de Magda Labarga, a peça sobe ao palco da Sala Grande do Teatro Valle-Inclán e será representada até 29 de outubro, com sessões de terça-feira a domingo.
No dia 17 de outubro, haverá um encontro com a equipa artística e nos dias 26 e 27 de outubro as récitas terão audiodescrição.
“Ricardo II” é uma coprodução da Terra Amarela com o TNDM, Teatro Nacional S. João (TNSJ) e Cineteatro Louletano.
A partir de 17 de janeiro de 2024, a peça pode ser vista no TNSJ, no Porto, enquanto em 02 de maio subirá ao palco do Cineteatro Louletano.
No início da temporada 2025, estará em cena no TNDM, adiantou Marco Paiva.
Cinco dos seis intérpretes da peça são surdos, mas todos representam em Língua Gestual.
Marco Paiva trabalha com o Centro Dramático Nacional de Madrid desde 2012, mas o triângulo entre aquele teatro espanhol, o TNDM e a Terra Amarela surgiu depois de aí terem apresentado “Calígula morreu ou não”.
Legendada em todas as récitas, a peça tem interpretação de David Blanco, Angela Ibáñez, María José López, Marta Sales, Vasco Seromenho e Tony Weaver.
A cenografia é de José Luis Raymond, a iluminação de Nuno Samora e os figurinos de Ikerne Jiménez.