Media Capital disponível para estudar plataforma de streaming liderada pela RTP, revela CEO
O presidente executivo (CEO) da Media Capital admite, em entrevista à Lusa, estar disponível para estudar a proposta da RTP se esta quiser liderar uma plataforma de ‘streaming’, desde que a Plural produza “de forma relevante” para a mesma.
“A Plural, obviamente, tem interesse em trabalhar para todas as plataformas de ‘streaming’. Portanto, se a pergunta for [se] gostaríamos que a Plural participasse, contribuísse para uma plataforma de ‘streaming nacional, a resposta é sim”, afirma Pedro Morais Leitão, que cumpre um ano na liderança executiva da Media Capital em julho.
Em 09 de maio, durante o congresso da APDC, o presidente da RTP, Nicolau Santos, disse que se a estação pública, a SIC e a TVI estivessem juntos a produzir conteúdos para o ‘streaming’ teriam outra capacidade, ao que o CEO da Impresa, Francisco Pedro Balsemão, respondeu: “A Opto está disponível para falar convosco”.
Portanto, “se a RTP quiser liderar uma plataforma de ‘streaming’, estamos dispostos a estudar na condição de que a Plural vá produzir de forma relevante para essa plataforma”, diz Pedro Morais Leitão, que insiste na importância do telemóvel no negócio das televisões.
“Talvez mais importante do que isso, um esforço mais importante e que me parece mais produtivo” é o que diz respeito ao móvel, acrescenta, admitindo que é “mais fácil falar de ‘streaming'” porque a Netflix está presente na casa dos consumidores de conteúdos televisivos.
A inovação “de que eu estou a falar sobre o móvel não nos entrou em casa por nenhuma plataforma internacional, mas é por isso mesmo que tem mais viabilidade. O negócio móvel, onde neste momento está o maior tempo de atenção dos nossos espetadores, é um negócio ainda local”, aponta o CEO da dona da TVI e da CNN Portugal.
Isto porque não se entra no negócio do móvel a partir de Nova Iorque ou Pequim, sendo que “a atividade é regulada e é gerida por plataformas locais”.
Referindo-se à “dita luta entre o global e o local”, Pedro Morais Leitão considera que “guerra neste momento em Portugal está no telemóvel”.
O país foi pioneiro “em muitas coisas” e as operações de telecomunicações “migraram muito rapidamente para televisão paga, portanto, aquilo que há 30 anos era totalmente rentabilizado através da voz fixa, hoje em dia é rentabilizado pela Internet, o acesso à Internet e pela televisão paga”, argumenta o gestor.
Mas, agora, “a voz fixa desapareceu e a voz móvel também – diria – só não desapareceu porque ainda há pessoas que não gostam de usar as aplicações para falar”, prossegue.
“Há 20 anos que a voz, do ponto de vista tecnológico, já devia estar a ser feita como se fosse apenas um negócio de acesso à Internet, como se fosse uma plataforma sobre a Internet”, aponta.
O ‘streaming’ é “muito interessante” e tem valor, mas “queremos considerar seriamente o contexto em que estamos, a evolução que tivemos recentemente, falemos seriamente sobre a utilização de conteúdos no móvel”, desafia Pedro Morais Leitão.
Atualmente, “o telemóvel é o maior meio de comunicação social e continua a ser legislado, continua a ser tratado, do ponto de vista de negócio, continua a ser visto por nós próprios – que usamos diariamente – como uma plataforma de telecomunicações”, considera.
O gestor refere que no serviço prestado pelos operadores “há uma multiplicidade de serviços” que têm influência “direta” na maneira como se vive como sociedade.
Em Portugal, diz, “há três plataformas físicas [operadores] e duas plataformas virtuais”, uma relação de “um para um”, enquanto a nível europeu “há 100 plataformas físicas, 600 virtuais”, ou seja, “um para seis”, portanto, “devia haver 16” plataformas virtuais.
O modelo de negócio das telecomunicações “foi transferido para a televisão paga e, portanto, de repente, tivemos três gigantes de infraestrutura a entrar-nos pela porta adentro no setor da televisão ao longo dos últimos 20 anos”, constata.
Depois, “com o beneplácito de toda a gente (…) do lado do setor dos media, pela natureza precária do setor, dissemos que sim senhor, ainda bem que vem dinheiro das infraestruturas aqui para dentro, mas agora de repente eles estão cá dentro e (…) são grandes”, salienta Pedro Morais Leitão.
“O telemóvel é o meio de comunicação social em si e, portanto, gostávamos que nos ouvissem, gostava que também aí, tal como na televisão digital terrestre [TDT], que alguém nos ouvisse e parece que vamos fazendo o ‘business as usual’, a continuidade do dia-a-dia, e isso mais tarde paga-se”, avisa.
Estas “alterações estruturais” envolvem a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), os ministérios da Cultura e das Infraestruturas.
“Isto são tantas peças envolvidas, depois temos os operadores por outro lado, depois tudo isto está dividido em setores e de repente temos 20 capelinhas que têm que se alinhar para haver uma mudança que já aconteceu”, comentou.
Mas tal como no caso da TDT, “são processos que demoram muito tempo”.
Por isso, “é preciso também começarmos a criar a sensibilidade do regulador que há aqui coisas a passarem-se que afetam o negócio e que há oportunidades que se não são um bocadinho consentidas, mesmo que não encaixem exatamente no figurino da lei, (daqui) a 20 anos vamos novamente estar a pagar”, avisa o gestor.
“Repito, estamos em 2023, temos um problema na televisão terrestre”, o qual começou a ser discutido em 1999, há 25 anos, exemplifica o CEO.