Médicos, enfermeiros e profissionais de saúde – quem os protege?
O combate é de todos, mas nas guerras (mesmo as benignas) há sempre quem esteja na primeira linha. Há sempre quem ofereça o corpo às balas, quem se sacrifique pelo bem comum, quem trabalhe de sol a sol para que as coisas funcionem. No final, poucos são os que os recordam. E até ao final, dependendo dos humores e da pressão, são insultados, enxovalhados e colocados em causa.
O governo decretou, e muito bem, o Estado de Alerta. Uma parte substancial do país protegeu-se. E os que não se querem proteger, como ainda agora numa praia de Matosinhos, serão obrigados a isso. Mas médicos e enfermeiros – entre outros profissionais de saúde, não o poderão fazer. São eles que receberão os que precisarem de ajuda, são eles que arriscarão apanhar o vírus por não poderem dar-se ao luxo de ficar em casa, são eles que farão tudo para salvar vidas arriscando a sua. São eles que em Itália – esperamos que não seja necessário em Portugal – têm de escolher entre quem vive e quem morre porque não há ventiladores para todos. São eles que têm de dar a cara às famílias, são eles que têm de encarar a raiva e incredulidade, os as lágrimas.
Penso neles por esta altura. Aqui sossegado e quieto, no conforto do meu escritório vazio de outras pessoas, penso nos que estão nos hospitais a trabalhar e desprotegidos. Os que terão de fazer o melhor sem as condições ideais, os primeiros soldados no terreno, os que agora nós procuraremos se estivermos numa situação difícil – um bocadinho como quando procuramos Deus em dias de aperto.
Este postal é apenas para lhes agradecer.
É que… sabem… um dia conheci um homem que era apreciado por ajudar os outros, quem precisasse de um abraço sabia que poderia ser abraçado sem condições ou juízos de valor. Um dia soube que entrara num processo de depressão e percebi que estava sozinho, completamente sozinho. A vida é injusta, muito. Quem abraça os que abraçam? Quem os abraça quando precisam de um abraço?
Era mesmo só isso, um abraço na esperança que me abracem se eu precisar.