Melhores filmes e séries de 2019 (até agora)

por Comunidade Cultura e Arte,    5 Julho, 2019
Melhores filmes e séries de 2019 (até agora)
“A Portuguesa”, de Rita Azevedo Gomes

Escolhas da redacção da Comunidade Cultura e Arte.

Volvidos que estão 6 meses do presente ano importa fazer um balanço do que de melhor temos tido em termos de cinema e televisão. Num segundo semestre de ano sempre pródigo em grandes lançamentos, urge consolidar aquilo que até agora mais nos impressionou na grande ou na pequena tela. Foram consideradas para a lista de filmes todas as estreias comerciais em sala ou em festivais e nos vários serviços de streaming. Para a lista de séries foram contabilizadas todas aquelas que estão disponíveis ou em canais nacionais ou também em streaming, no ano de 2019.

Filmes

9.º Lugar (ex aequo) “A Portuguesa“, de Rita Azevedo Gomes

“A Portuguesa não se constrói somente de oposições: as cenas com ambos os membros do casal são de uma sensualidade vibrante, em particular a extraordinária cena do banho, onde a cortês dança de sedução enche a tela de uma tal vivacidade que se derrama sobre a sala de cinema. Nestes momentos vemos no amor e no desejo o poder do devir. A portuguesa é, pois, uma personagem sem quaisquer preconceitos, perspicaz e progressista, como é possível julgar pela forma como defende as suas criadas. Não passando a religião de uma forma de controlo, na dicotomia gerada no filme, esta encontra-se na margem oposta da portuguesa, sendo ela apelidada de herege – trata-se de uma mulher que vê “o mundo sem os olhos do mundo”, como a própria o diz. Como ela, Rita Azevedo Gomes propõe-nos aqui outras maneiras de ver.” Diogo Lucena e Vale

9.º Lugar (ex aequo) “The Mule“, de Clint Eastwood

“Numa altura em que o eterno mestre do cinema americano celebra o seu octogésimo oitavo aniversário, o estatuto de Clint Eastwood de lenda encontra-se plenamente solidificado. O seu corpo – leia-se a sua presença cénica – traz consigo uma carga simbólica, não muito distante de um certo ideal americano, cujo peso a ausência do realizador do outro lado da câmara nos últimos anos só tem vindo a aumentar. Tal como Jean-Pierre Léaud, que se afigura condenado a desempenhar o papel de corpo fantasmagórico até que efetivamente se torne num fantasma (La Mort de Louis XIV (2016); Le Lion est Mort Ce Soir (2017)), Eastwood, o ator, é irredutível a uma materialização das personagens que encarna.” Diogo Lucena e Vale

“The Mule”, de Clint Eastwood

8.º Lugar “In My Room“, de Ulrich Köhler

“A vitalidade do conceito narrativo do desaparecimento da humanidade e a razão pela qual sempre há alguém disposto a reinventar o mito reside na sua flexibilidade. A metáfora é ambígua e Köhler joga precisamente com isso, pontuando a narrativa com alguns elementos de evidente carga simbólica, sem, contudo, orientar demasiadamente a leitura do espetador. Segundo esta visão de certa forma fria das relações humanas, desde a política, a economia, a ecologia ou a espiritualidade, uma coisa é certa: o que quer que a utopia seja, parece ser incompatível com a sociedade.” Diogo Lucena e Vale

7.º Lugar “Ash Is Purest White“, de Jia Zhangke

“O cinema de Jia Zhang-ke é feito de um eterno retorno, frequentemente pontuado por uma revisitação regular às suas geografias, sejam elas terrenas, musicais ou cinematográficas. Pelo menos a um certo cinema de perfil realista e social, em que não é alheia a presença obrigatória da sua actriz fetiche – e também sua esposa – Zhao Tao. É como se criasse novos e deliciosos significados para o déja vu.” Paulo Portugal

“Ash Is Purest White”, de Jia Zhangke

6.º Lugar “Border“, de Ali Abassi

“Border é, antes de mais, uma história de amor, de sentimento. Ali Abbasi é daquelas pessoas que ousa estar à chuva, isto é, quer liberdade, e essa liberdade criativa reflecte-se em todos os poros dos seus trabalhos. Depois de Shelley (de Mary Shelley), o fervor pela diferença e pelo impacto na indiferença volta a ser o motor de uma obra de Abbasi. Vencedor da secção Un Certain Regard em Cannes, e nomeado para um Óscar pela Melhor Caracterização, Border foi também o indicado sueco para a lista de Melhor Filme Estrangeiro, acabando por não constar na lista final.” João Estróia Vieira

5.º Lugar “The House That Jack Built“, de Lars Von Trier

“Malevolente e desalmado — é assim The House That Jack Built. Desalmado não por não ter alma como filme, pois certamente a tem, mas por querer ser assim. Consegue-o no mais macabro dos espetáculos. De traço psicológico carregado e chocante, é um filme que aumenta a gravidade na sala; ao mesmo tempo contém humor e põe a plateia a rir, numa façanha que ocorre com mérito. O ambiente é único: uma mescla de arte renascentista, metáforas autobiográficas (que nunca se decidem se são a mensagem central ou um mero piscar de olho), humor negro seco e sério, suspense inconvenientemente ritmado, música alegre, referências subtis e uma ubíqua brutalidade desconcertante que não é gratuita, muito menos barata, tudo isto ofertado como se não fosse o filme que é.” João Diogo Nunes

“The House That Jack Built”, de Lars Von Trier

4.º Lugar “Glass“, de M. Night Shyamalan

“As últimas duas décadas marcaram um crescimento e popularização dos super-heróis no cinema como nunca antes se tinha visto. Para isso contribui a facilidade com que se repete a fórmula para diferentes personagens da banda-desenhada. Fugir deste padrão implica riscos que poucos estão dispostos a correr, mas é precisamente nesse ponto que toca o mais recente filme de M. Night Shyamalan. “Glass” encerra uma trilogia que já nos apresentou antes os seus próprios protagonistas e convida-nos a reflectir um pouco acerca de quais as implicações de ser um super-herói.” Sandro Cantante

3.º Lugar “High Life“, de Claire Denis

“A maneira como a realizadora isola estes corpos no espaço relembra um tubo de ensaio, uma experiência científica/cinematográfica de limite. Condenados a penas de morte ou prisão perpétua, um grupo de criminosos é lançado no espaço, em nome da ciência, com destino à morte certa. Liderados pela Doutora Dibs (a sempre excelente Juliette Binoche), os tripulantes são submetidos a uma vivência orientada para as experiências reprodutoras protagonizadas pela própria. Mais livres, mas ao mesmo tempo mais presos do que alguma vez estiveram em qualquer prisão, as tensões vão crescendo entre as personagens do filme, criando as condições ideais para que a violência entre corpos possa ebulir.” Bruno Victorino

“High Life”, de Claire Denis

2.º Lugar “John Wick 3“, de Chad Stahelski

“Dir-se-ia que a grande capacidade de “John Wick 3” é a de manter a qualidade perante os seus antecessores, mas Stahelski insiste que é sempre possível aumentar a fasquia e isso reflecte-se na tela. Não se trata apenas de excelentes coreografias de acção, qual bailado clássico com o qual é feito paralelismo a determinada altura quando a veterana Anjelica Huston nos agracia com a sua presença no ecrã. Stahelski insiste em criar e expandir o seu próprio mundo cinematográfico, agarrando e torcendo todos os clichés que isso possa significar, quer no que diz respeito ao género de acção, quer no que toca ao próprio conceito de mundo cinematográfico que hoje em dia está tanto na moda.” David Bernardino

“John Wick 3”, de Chad Stahelski

1.º Lugar “Transit“, de Christian Petzold

“Lamentavelmente, as semelhanças entre a atualidade e 1942 – ano em que foi escrito o romance em que o filme se baseia – são de tal forma profundas que na tapeçaria anacrónica de Petzold é por vezes difícil destrinçar as linhas de cada tempo. Conquanto isto seja desde logo evidente nos espaços em que ação se desenrola e nalgumas referências culturais que vão surgindo – Dawn of the Dead (1978) e a canção “Abendlied” de Hanns Dieter Hüsch –, é nas modificações levadas a cabo sobre alguns elementos históricos que o paralelismo é materializado com toda a sua urgência. Não mais são os judeus o grupo mais perseguido, mas os imigrantes; da mesma forma, a opressão do exército nazi dá lugar às forças policiais do próprio país. Estas, por sua vez, não aparecem senão por breves momentos fugidios e as conversas sobre as forças por detrás da ocupação estão marcadamente ausentes. Transit não é um filme sobre a História, que representa o poder, é um filme sobre pessoas, as suas vítimas, aquelas perante as quais a “história sobrevém (…) como um fator estranho que [elas] não quiseram” (Debord).”  Diogo Lucena e Vale

Séries

10.º Lugar “Doom Patrol”

“A par de Legion, Doom Patrol é uma das melhores séries de super heróis dos últimos anos. E qual é a razão? Identidade e marca de autor. Doom Patrol tem acção, mas também tem surrealismo, personagens complexos, uma narrativa cativante e misteriosa com um tom cómico suficiente para nos deixar a questionar o que é que estamos realmente a ver, no bom sentido. Sob a alçada da DC Comics, Doom Patrol retrata a vida de um conjunto de pessoas comuns, que sofreram terríveis acidentes e que tiveram assim as suas vidas transformadas em algo fora do comum, com poderes que são vistos como maldições. Sim, já vemos isto em X-Men, mas aqui a diferença é a forma como os personagens transformam poderes que não fazem nada de positivo do ponto de vista prático, em algo funcional e que os pode ajudar a sarar as feridas que cada um tem nas suas vidas.” João Miguel Fernandes

“Doom Patrol”

9.º Lugar “Rilakkuma to Kaorusan”

“É impossível não ficar apaixonado pelos peluches de Rilakkuma to Kaorusan e pela forma amorosa como a história se desenrola, explorando pequenos estereótipos da sociedade e costumes japoneses, bem como momentos completamente aleatórios que tanto agradam a adultos como a crianças. No fundo, todos nós temos alguém como Rilakkuma e todos nós somos um bocado “Kaoru”.” João Miguel Fernandes

8.º Lugar “She’s Gotta Have It” 

“She’s Gotta Have It é o regresso de Spike Lee a uma história que o mesmo desenvolveu em 1986 para o seu filme de estreia. A diferença? Bem, além dos personagens e da adaptação ao século XXI, Spike Lee reconstrói da melhor forma possível os estereótipos de vários moradores de Brooklyn, sendo um hino a este bairro de nova iorque. Com uma banda sonora incrível, realização soberba (com o seu estilo bem característico) e personagens cartoonescos e apaixonantes, She’s Gotta Have It oferece um olhar cuidado sobre diversos debates artísticos, galeria vs instagram, arte “verdadeira” vs arte “falsa”, transpondo todas essas questões para os seus personagens.” João Miguel Fernandes

“She’s Gotta Have It”

7.º Lugar “Years and Years”

“Years and Years é um estudo rigoroso da sociedade moderna dos últimos anos e uma grande possibilidade para um futuro muito próximo, controlado por todos, menos por nós próprios, onde no final de contas só nos podemos culpar a cada um de nós. Esta série britânica que conta com várias interpretações de luxo desenrola-se ao longo de vários anos, acompanhando uma família comum, com problemas comuns e uma sociedade cada vez mais controladora, mas adaptada a um mundo futurístico que pode bem já ter chegado às nossas vidas, nós é que ainda não nos apercebemos.” João Miguel Fernandes

5.º Lugar (ex aequo) “The Handmaid’s Tale”

“Uma série criada a partir do romance de Margaret Atwood, uma distopia perturbadora, em que existe um sistema que oprime as mulheres e que não as deixa viver em plena liberdade de expressão. Gillead é um pais pesadelo, e é nesta atmosfera que encontramos temáticas como a perda dos direitos básicos da mulher enquanto ser humano. Este debate do papel da mulher na sociedade é um tema em voga e que deixa muito que pensar, em relação ao patriarcado, ou a qualquer poder de hierarquia vivido na sociedade, do presente e do futuro.  É um drama muito denso que a personagem principal June Osborne (interpretada por Elisabeth Moss) vive, uma personagem bastante obscura, mas completamente obcecada pela luta dos seus direitos sentimentais e mentais. Uma série bastante icónica, que se concentra na perda de identidade, mesmo quando tudo parece tão identificável. As vestes, brancas e vermelhas, sincronizadas como se a vida também fosse uma coreografia fingida de perfeição. Para além da narrativa aprimorada, e as grandes questões reflexivas, a estética e cinematografia da série tornam-a cada vez mais perfeita.” Sara Camilo

“The Handmaid’s Tale”

5.º Lugar (ex aequo) “Russian Doll”

Natasha Lyonne surge como protagonista e criadora desta série. Conta-nos a historia de Nadia Vulvokov que se encontra presa eternamente no seu 36º aniversário, depois de morrer vezes sem conta, volta novamente à noite do seu aniversário. A série apresenta um toque de sarcasmo, é cómica, mas ao mesmo tempo consegue ser misteriosa . É absolutamente existencialista, todas as crises que pensamos ter sobre a significância da vida, Nádia também as têm.  Passamos pelo mundo da depressão, pelas questões de saúde mental, e ficamos na expressão  da dúvida.” Sara Camilo

4.º Lugar “Dark”

“É uma série de ficção alemã apresentada pela Netflix. A segunda temporada prova a sua consistência técnica e magnifico trabalho de toda a produção e elenco alemão. Conta a história de quatro famílias e a forma como cada uma das personagens tenta mudar os seus actos, seja no passado, presente ou futuro. Efectivamente, giramos à volta de um super mistério sobre a existência e reflexão sobre o tempo. Durante cada episódio da série, parece que vivemos as emoções em slow-motion, andamos em panorâmica com o ritmo das personagens, colidimos com os obstáculos como se fossem nossos. A linguagem ’fílmica’ é o grande destaque desta série, a narrativa prende o espectador, e a estética encontra-se tão bem fundada ,apesar do universo pesado, que tudo se torna absolutamente belo.” Sara Camilo

“Dark”

3.º Lugar “Too Old to Die Young”

“Violência, sexo, drogas e mais violência. É este o ponto de partida e de chegada da série criada pelo realizador Nicolas Widing Refn, que traz toda a sua estética colorida e lenta para uma série que poderia ser muito mais banal se não tivesse o cunho pessoal do realizador. Ao longo de 10 episódios assistimos, muito lentamente, ao desenvolvimento violento de vários personagens, enquanto grande parte das cenas fazem mais lembrar quadros digitais de um futuro distante, no qual Refn manipula a luz como se tratasse de Deus.” João Miguel Fernandes

2.º Lugar “Fleabag”

“O argumento aprimorado coloca a segunda temporada de Fleabag no topo das melhores séries de sempre, assim como Phoebe Waller-Bridge (criadora e actriz principal) num dos nomes a seguir no futuro. As “piadas” são cronometradas ao microssegundo, numa precisão incrível que torna todo o ritmo da série uma constante delícia para as nossas mentes. Interpretações soberbas e convincentes e um argumento de génio elevam Fleabag ao topo que tanto merece.” João Miguel Fernandes

1.º Lugar “Chernobyl”

“É uma série que parte de um pressuposto muito forte, neste caso um argumento baseado em factos reais. A 26 de Abril de 1986, em Chernobyl,  houve a maior explosão nuclear de sempre, tornando-se numa das maiores catástrofes provocada pelo Homem. Mais que uma série , é um ‘filme’ dividido em cinco episódios tão densos e escuros, que nos deixam habituados a toda aquela falta de luminescência. Conta-nos a história de todos aqueles homens e mulheres que perderam todo uma construção de mundo que tinham formado até então. Vemos a vida a mudar, de forma profunda e drástica. Ninguém fica indiferente à narrativa, à estética da cor, e aos movimentos da vida e da câmara que também os sente.” Sara Camilo

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