Michael Haneke: #MeToo é uma “caça às bruxas, um novo puritanismo, que prejudica a criação e o debate”
O conceituado realizador Michael Haneke, vencedor de duas Palmas de Ouro em Cannes, e autor de filmes como Amour, Caché ou O Laço Branco, deu uma entrevista ao jornal austríaco Kurier e na sua opinião vive-se uma caça às bruxas, um novo puritanismo, que prejudica a criação e que torna cada vez mais difícil um debate “sobre este tema [o abuso sexual] e que é tão importante“.
Na opinião de Michael Haneke, O império dos sentidos (que vai ser exibido na RTP2 a 13 de Fevereiro), do cineasta japonês Nagisa Ōshima, é um dos filmes mais profundos sobre sexualidade e hoje “não poderia ser filmado“. “Preocupa-me este novo puritanismo, impregnado de ódio aos homens, que nos chega no seguimento do movimento #MeToo“, disse o realizador que acrescentou ainda: “Enquanto artista, começamos a confrontar o medo perante esta cruzada contra qualquer forma de erotismo“, afirmou o Haneke.
“É claro que qualquer forma de violação, ou abuso sexual, deve ser punida. Mas esta histeria e as condenações sem julgamento a que assistimos hoje parecem-me repugnantes“, disse o cineasta de 75 anos ao jornal austríaco Kurier e acrescentou ainda: “cada ‘shitstorm’ (enxurrada de críticas) que essas ‘revelações’ geram, inclusivamente nos sites de jornais sérios, envenena o clima no seio da sociedade“.
Por fim, em Janeiro ficámos a saber que Haneke irá realizar uma série “Depois de 10 filmes para a televisão e 12 para o cinema, queria contar uma história mais longa desta vez“, revelou o cineasta num comunicado oficial sobre o tema. Segundo o IndieWire, a série terá 10 episódios e será falada em inglês. “Kelvin’s Book é uma história extraordinariamente rica, emocionante e ambiciosa. Com temas contemporâneos e um reflexo da era digital em que vivemos, não há melhor momento para este projecto“, disse Nico Hofmann, futuro produtor executivo da nova série do realizador austríaco.