Ministro da Cultura considera que a arte jamais deve ser vista como inimiga do planeta
O ministro da Cultura disse hoje que a arte não pode ser encarada como um “inimigo da preservação do planeta”, em reação às ações de ativistas que pintaram um quadro de Picasso, em Lisboa, sem o danificar.
“Quero aproveitar para lembrar que o património artístico é a expressão mais alta da liberdade criativa de que uma comunidade dispõe e que, portanto, em circunstância alguma a arte deve ser encarada como um inimigo da preservação do planeta e da vida”, disse o ministro Pedro Adão e Silva, numa mensagem publicada nas redes sociais do Ministério da Cultura na qual é realçado que a obra não sofreu estragos.
Dois ativistas ambientais do grupo Climáximo atiraram hoje tinta vermelha sobre um quadro de Picasso no Museu de Arte Contemporânea – Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), em Lisboa, sem causar danos, disse à agência Lusa fonte da administração.
Cerca das 12:00, dois jovens do grupo ambientalista cobriram de tinta a obra “Femme dans un fauteuil (métamorphose)” (1929), de Pablo Picasso, em exibição no museu do CCB, em Belém, peça da Coleção Berardo na exposição permanente, e colaram-se à parede, segundo um comunicado do grupo.
“A obra não sofreu danos porque estava totalmente protegida com um acrílico”, assegurou Delfim Sardo, vogal do conselho de administração do CCB, contactado pela agência Lusa sobre a ação, que também não deixou estragos no museu, a não ser a tinta derramada.
No comunicado, os ativistas escreveram: “Quando soldados alemães entraram no estúdio de Picasso em Paris, onde vivia durante a II Guerra Mundial, e viram o ‘Guernica’ (a famosa obra-prima que retrata os horrores da guerra), perguntaram-lhe ‘fizeste isto?’. Ele respondeu ‘não, tu fizeste isto’. As instituições culpadas pelo colapso climático declararam guerra às pessoas e ao planeta. Temos de parar de aceitar esta normalidade”.
De acordo com Delfim Sardo, os jovens, que aproveitaram um momento em que a sala se encontrava sem visitantes, foram detidos pela PSP.
As ações de ativistas que pretendem alertar para o estado do planeta e do impacto dos seres humanos e dos combustíveis fósseis nas alterações climáticas têm-se multiplicado pelo mundo, tendo havido também vários protestos em alguns dos principais museus da Europa.
De acordo com uma comunicação publicada este ano na revista académica npj Climate Action, da Nature, foram registadas ações de vandalismo em 11 países, nove dos quais na Europa, entre maio e dezembro de 2022. Perto de dois terços dos atos aconteceram em três países: Alemanha, Itália e Reino Unido.
No artigo, da autoria de três investigadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, era referido que ainda não era possível concluir se as ações dos ativistas estavam a ter resultados junto dos governos: “Continua-se a perfurar por petróleo e gás, a Coca-Cola não abandonou o patrocínio à [cimeira] COP27 e o governo alemão não impôs limites de velocidade nas autoestradas”.
O texto lembra ainda as palavras de um ativista do movimento Just Stop Oil, depois de se colar a um quadro de Vermeer, em Haia, nos Países Baixos: “Como é que te sentes quando vês algo belo e sem preço ser aparentemente destruído perante os teus olhos? Sentes-te indignado? Ainda bem. Onde está esse sentimento quando vês o planeta a ser destruído?”