MoMA, em Nova Iorque, exibe ciclo dedicado ao espírito revolucionário do cinema português

por Lusa,    21 Agosto, 2024
MoMA, em Nova Iorque, exibe ciclo dedicado ao espírito revolucionário do cinema português
João César Monteiro / DR

Um ciclo dedicado ao cinema português que percorre 50 anos de história, do realizador Manoel de Oliveira a Miguel Gomes, vai decorrer entre outubro e novembro no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, segundo a programação.

Intitulado “The Ongoing Revolution of Portuguese Cinema” (“A revolução em curso no cinema português”, em tradução livre), o ciclo vai decorrer entre 17 de outubro e 19 de novembro, partindo dos 50 anos da Revolução dos Cravos que “pôs fim a quatro décadas de fascismo em Portugal”, recorda um texto sobre o evento divulgado na página do museu na Internet.

A organização do ciclo é da responsabilidade de Francisco Valente, crítico de cinema, realizador e programador, assistente de curadoria do Departamento de Cinema do MoMA, que contou com a colaboração do Arquivo Nacional de Imagens em Movimento e da Cinemateca Portuguesa.

“Sob a influência de Manoel de Oliveira – que questionava continuamente as linhas entre a vida e a sua representação – a geração do ‘Cinema Novo’ expandiu as inovações da ‘nova vaga’ internacional dos anos 60, no meio de um ambiente social sufocante no país e de uma guerra colonial brutal em África”, refere um texto de apresentação do ciclo.

Inspirado na Nova Vaga do cinema francês e no neorrealismo italiano, o Novo Cinema português surgiu na década de 1960, ainda durante o regime do Estado Novo e, com uma linguagem inovadora, rompeu com os cânones do cinema tradicional.

Este ciclo – ainda sem programação concreta divulgada – “traz à luz uma tradição estética em que fazer filmes – e vê-los – se torna um gesto político e existencial e cria um espaço de resistência às forças homogéneas e opressivas que nos constrangem na nossa vida – uma busca, numa palavra, de liberdade”, indica o MoMA.

O mesmo texto contextualiza que, em 1974, “estava também em curso uma outra revolução: uma vaga de filmes que, sob o peso da censura, quebrou as distinções entre realidade e ficção no ecrã”.

“Antes que a noção de ´cinema híbrido´ ganhasse força em todo o mundo, o cinema português utilizava ferramentas do documentário para criar ficção (e vice-versa) e oferecer um novo domínio para os sentidos; tal como um processo revolucionário, estabelecia uma ligação entre a vida quotidiana e as confluências políticas que afetam o seu curso”, acrescenta.

O museu recorda ainda que, após a revolução, o movimento por ela desencadeado “centrou-se nas comunidades operárias com uma dignidade renovada e atraiu cineastas estrangeiros, como Robert Kramer e Thomas Harlan, para captar a atmosfera política febril de Portugal”.

“O espírito independente do cinema português continuaria a desbravar novos caminhos com as obras de João César Monteiro, inspiradas em fábulas, e com os documentários de António Reis e Margarida Cordeiro, Manuela Serra e António Campos, que redefiniram a arte do real e influenciaram cineastas como João Pedro Rodrigues, Pedro Costa e Miguel Gomes”, aponta ainda.

Além da programação de exposições, o MoMA – que possui uma coleção de arte moderna com mais de 150 mil peças e um arquivo sobre cerca de 70 mil artistas – organiza atividades paralelas culturais e educativas.

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