Motelx 2020. “Malasanã 32”: terror genérico eficaz, mas infelizmente sem ideias
Apesar das regras de distanciamento social e de segurança que obrigaram à redução da lotação do cinema São Jorge a metade, foi noite de lotação esgotada para a sessão de abertura do Motelx 2020. É de louvar a forma como um público fiel resistiu ao vírus e decidiu aderir a mais uma edição deste muito acarinhado festival. Mais uma vez serão exibidas mais de 70 longas metragens, com competição para atribuição do prémio de melhor longa de terror europeia e melhor curta portuguesa de terror. Pela primeira vez teremos ainda a competição de microcurtas filmadas com telemóvel ou tablet. Foi de máscara posta e distanciamento 360º dentro da sala Manoel de Oliveira que assistimos a Malasaña 32.
Foi o prato principal para a abertura do Motel 2020. Malasaña 32 é o novo filme do realizador espanhol Albert Pintó, que coloca uma família de uma zona rural de Espanha a mudar-se para um apartamento amaldiçoado, na rua Malasaña, em Madrid. Distribuído pela NOS para o circuito de cinema comercial em Portugal, já seria de esperar que o filme escolhido para abrir o festival oferecesse um género de terror stricto sensu, do medo pelo medo, do agarrar à cadeira, fechar os olhos e tapar os ouvidos. E foi isso que aconteceu, para o bem e para o mal.
Com um enredo que de original nada tem (nem teria que ter), Malasaña 32 limita-se a cumprir o caderno de encargos de um certo cinema de terror americano jump scare que enche salas de cinema e está mais preocupado em levar grupos de amigos ao cinema para saltarem com as pipocas da cadeira, do que em ser criativo. Nisso Malasaña 32 é e será eficaz. O tal caderno de encargos é seguido à risca e com mácula, à medida que acompanhamos os 6 elementos que compõe este agregado familiar perante os fenómenos paranormais que acontecem no seu novo apartamento, com especial foco na filha Amparo, interpretada por uma sólida Begoña Vargas.
Ainda que tente oferecer algum subtexto social, colocado apenas e só devido aos grandes temas fracturantes dos dias de hoje, e procure através de pequenos detalhes chamar a atenção do espectador mais atento ao “viste ali atrás?”, o novo filme de Albert Pintó mais não é do que uma sucessão de sustos, ainda que eficazes, sem grande sustentação além dos truques técnicos de som e imagem. É pouco. Malasaña 32 falha na construção de imaginário, de mistério, de desenvolvimento de personagem (não se pedia muito), tornando os seus sustos pífios e não mais que uma mera reacção ao jump scare que, claro como água, sabemos que vem aí.
No seu último terço, o filme de Pintó desmascara o terror que lhe deu origem, tornado-se por isso desinteressante por muito mérito que tenha a estética da sua “criatura”. Malasanã 32 é um filme de terror genérico eficaz, mas infelizmente sem ideias, num género com inúmeras possibilidades onde se pedia mais. Todavia na verdade, não será precisamente este o tipo de filme que o público alvo do terror jump scare pretende ver?