Mudanças sustentáveis
As alterações climáticas são um tema com pano para mangas. O impacto que o ser humano tem vindo a ter no ambiente — de forma irreversível — tem sido estudado ao pormenor. Todas as semanas, saem novos estudos e novos artigos. As consequências estão mais do que exploradas, as medidas de prevenção divulgadas e, ultrapassada a linha da prevenção, as maneiras de como não piorar a situação expostas.
No entanto, o mundo parece continuar a fechar os olhos. Tirando uma minoria da população mundial, que dedica a sua vida a tentar preservar a única casa que temos — e que depois ainda é insultada e acusada de segundos interesses — o mundo continua a ignorar o seu futuro. Pior ainda, é haver quem, em 2019, continue a negar as alterações climáticas. Como se os efeitos da nossa civilização no ambiente já não fossem visíveis e sentidos todos os dias. Afinal, só vemos mesmo o que queremos ver.
É como se os cerca de 7,7 mil milhões de seres humanos que preenchem o planeta neste momento estivessem num veículo que se dirige a grande velocidade por uma estrada de montanha, com apenas uns simples railes a separar do abismo. E ainda há quem queira cortar os travões de vez, por achar que não são necessários. Devem acreditar, talvez, que as nuvens são feitas de esponja e os salvarão da morte certa.
O capitalismo não é o culpado. Coitado, nem sequer concreto é. O capitalismo é uma construção nossa, uma teia de conceitos e práticas. Fomos nós que o criamos, apenas nós o podemos mudar. A culpa não é do capitalismo, não. A culpa é da maneira como o praticamos atualmente. Da forma como os grandes senhores do mundo se recusam a mexer um dedo, a alterar o que quer que seja na sua forma de vida ou de produção, se isso baixar uns números nas suas contas bancárias.
A culpa é de todos nós; não se enganem, o planeta é de todos nós. Todos beneficiamos da revolução industrial, todos continuamos a recorrer aos combustíveis fósseis, todos repetimos os mesmos erros dia após dia. Que diferença faz usar um copo de plástico em vez de vidro? Faz toda a diferença, meus caros. O Pacífico está a boiar no lixo, não o contrário.
Os governos fazem pouco ou nada em relação ao assunto, é verdade. Mas, também é verdade que, se, apesar de revolucionário, um Obama não conseguiu mudar a mentalidade da América – um dos países que mais contribui para o aquecimento global — como é que um indivíduo como o que lhe sucedeu haverá de conseguir? Isto, assumindo que, algum dia, teria tal intenção — o que, previsivelmente, não irá acontecer.
Em Portugal, continuamos com a filosofia de que somos um país pequeno, de que pouco podemos fazer para mudar o destino do planeta. Os governos continuam impotentes — ou em estado de negação face à realidade (quase sempre). Sim, também é verdade que somos dos países menos poluidores da Europa. Sim, os EUA e a China emitem sozinhos quase metade dos gases com efeito de estufa produzidos. Mas podíamos fazer mais. Muito mais. As crianças e os jovens têm que crescer a saber o que se está a passar com a nossa casa. Não para os assustar, mas para os fazer abrir os olhos e dedicar o seu tempo a algo que não as preocupações fúteis das redes sociais.
O planeta precisa que paremos completamente com os combustíveis fósseis; no entanto, ainda se prevê o aumento da circulação de veículos movidos a estes combustíveis nos próximos anos. A democracia está a entrar em colapso. Os países ditos “civilizados” queixam-se das migrações de refugiados, de fugitivos das guerras, dos regimes autoritários e da pobreza. Mas: e quando começarem as migrações de milhões de pessoas, por as suas cidades já não serem territórios habitáveis? Por as suas casas estarem imersas em água salgada ou as suas plantações terem virado deserto?
Quando era miúda, a definição de desenvolvimento sustentável ficou-me gravada na cabeça. “Utilização dos recursos naturais de forma a que estes possam ser utilizados pelas gerações futuras”. Algumas pessoas precisavam de ter esta frase gravada na mão. As gerações futuras não vão ter os mesmos recursos naturais que temos, porque os estamos a esgotar. Pior ainda, estamos a esgotá-los de uma forma tão exagerada, que estamos a destruir o ambiente no processo. Mas não vão ter que se preocupar com não ter recursos, porque também não vão ter planeta.
Há uns meses, foi noticiado que o aquecimento global pode levar ao fim da cerveja no mundo. Com esta informação, pode ser que as pessoas acordem.