‘Music From Before the Storm’ suspende os nossos sonhos
“Music From Before the Storm” é o primeiro EP que a banda inglesa de indie folk lança, como banda sonora para um videojogo chamado “Life is Strange”. Chega-nos em 2017, um ano após o lançamento do álbum anterior “Not to Disappear” de 2016.
“Life is Strange” é um videojogo, que é conhecido por ter um caráter bastante emotivo, para além da grande narrativa que carrega. A banda sonora transporta grande parte das emoções que são trazidas para dentro do videojogo, complementando-se e interagindo entre si.
A banda, liderada por Elena Tonra, e composta também por Igor Haefeli e Remi Aguilella, aceitaram este grande desafio, já que a narrativa do jogo está muito bem construída, e envolve personagens tão fortes e bem desenvolvidas, que as personagens em si é que inspiraram a criação das musicas que as caracterizam. Cada traço de personalidade envolve diferentes paisagens sonoras, que se mostram ou se escondem, consoante a narrativa. Daughter é uma banda conhecida, exactamente, pelo seu historial sentimental que integra nas suas músicas. Foi também escolhida por este exacto motivo, já que se encaixa perfeitamente dentro das directrizes do jogo.
Este tem uma personagem feminina no papel principal, que lida com infinitas crises, tocando em temáticas como bullying, rebeldia, auto-mutilação, baixa auto-estima, gravidez, e diversos outros assuntos. Elena Tonra, de certa forma, foi buscar alguns das suas vivências para poder compor algumas das letras que fizessem reflectir, também, sentimentos da vida de Chloe Price.
Este álbum arranca com a música “Glass”, que parece uma introdução sonora a algo mais por esperar. Segue-se “Burn it Down”, uma música mais obscura, mais estranha e distante, cria uma certa distopia, fria, mas, ao mesmo tempo, acolhedora. O engraçado nestas treze músicas que compõem o álbum, é a diferença atmosférica entre elas, há ritmos mais vivos, melodias mais depressivas, harmonias mais distantes, existindo um pouco de tudo. De certa forma, é a banda sonora da vida de alguém que atravessa diferentes fases, em diferentes proporções. Ao criarem a banda sonora para um jogo, parece que o trabalho da banda ficou mais concentrado, mais conciso, e que se relaciona todo entre si. A saída da sua típica zona de conforto fez com que a banda amadurecesse musicalmente, e funcionasse muito melhor na criação de algo concreto do que algo abstracto. A música “Flaws” é que marca mais esta atmosfera de baixa-auto estima, e de esperança longínqua que se vai desvanecendo nota a nota, como uma caminhada na noite vazia.
Maioritariamente, cria-se esta atmosfera sonhadora, típica de Daugther , levando toda a esperança que ela nos transporta, que também se encontra neste álbum. De uma forma geral, pode-se dizer que é um álbum vulnerável, com uma dinâmica jovem e inocente, mesmo que se oiça, por vezes, notas entrelaçadas, confusas, habituais para uma vida com diferentes crises existenciais.
Cada vez é mais comum esta ideia de a música fazer parte de um todo, e introduzir novos dados a uma narrativa. Este é um bom exemplo entre a simbiose de diferentes artes, que se juntam numa só, como um todo.