Músico alemão pioneiro do free jazz Peter Brötzmann morre aos 82 anos

por Lusa,    23 Junho, 2023
Músico alemão pioneiro do free jazz Peter Brötzmann morre aos 82 anos
Fotografia de michael hoefner / http://www.zwo5.de (via Wikipédia)
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O músico alemão Peter Brötzmann, considerado um dos mais destacados saxofonistas do free jazz, morreu na quinta-feira, aos 82 anos, confirmou o agente à rádio Deutschlandfunk Kultur.

Em março, o saxofonista sofreu um colapso ao regressar de atuações em Varsóvia e Londres, que implicou reanimação e cuidados intensivos, o que o afastou dos palcos nesse momento, de acordo com uma publicação na rede social Facebook.

O músico passou por Portugal múltiplas vezes nas últimas décadas, tendo chegado a gravar um disco com os portugueses Black Bombaim, em 2016.

A discografia de Brötzmann é tão extensa como a lista de músicos com quem tocou, indo de Evan Parker a Anthony Braxton, Keiji Haino ou Ronald Shannon Jackson, Sonny Sharock e Bill Laswell, com quem formou o grupo Last Exit, para além do filho, o também músico Caspar Brötzmann.

Brötzmann nasceu em 1941 em Remscheid, onde cresceu, estudou pintura em Wuppertal e trabalhou como assistente de Nam June Paik, um dos maiores nomes do grupo de arte Fluxus, mas desencantou-se com o mundo da arte visual, como indicam várias biografias do músico.

“No entanto, não abandonou a sua formação artística. Brötzmann desenhou a maioria das capas dos seus discos. Aprendeu sozinho a tocar vários clarinetes e, mais tarde, saxofones”, pode ler-se num texto da rádio WKCR, da universidade nova-iorquina de Colúmbia, aquando da publicação de uma entrevista conjunta com Hamid Drake. 

Ainda no liceu em Remscheid, onde havia uma banda de ‘swing’, Brötzmann começou a experimentar o clarinete, como contou numa entrevista-palestra de 2018 na Red Bull Academy, em Berlim: “Estava a dar com os meus pais e vizinhos em malucos. Mas tudo começou em Remscheid porque tínhamos a banda de ‘swing’/bebop já com alguns estudantes avançados da escola Folkwang, em Essen. Então juntava-me a eles de quando em quando com o meu clarinete, e não me mandaram para casa. Comecei em digressão com eles e, depois, claro, um dia disseram: ‘OK, Brötzmann, precisas de um saxofone’”.

Nessa conversa, Brötzmann destaca a importância de Nam June Paik na sua vida, partindo daí para o conhecimento de artistas como Joseph Beuys, enquanto o compositor Karlheinz Stockhausen estava a estabelecer-se em Colónia.

Na década de 1960, em que lançou o marcante “Machine Gun”, ainda hoje classificado como um dos mais relevantes discos do género, Brötzmann tinha noção de que “ninguém gostava da [sua] música, só uma mão cheia de amigos”, mas havia pessoas como Paik que o encorajavam: “Brötzmann, vai em frente. Faz o que conseguires fazer”.

“Aprendi cedo a não querer saber das regras, a fazer as minhas próprias regras, e é o que ainda estou a tentar fazer”, afirmou, em 2018, num eco de declarações que vinha a repetir ao longo das décadas.

Nascido em plena Segunda Guerra Mundial, Brötzmann lembrava que a sua geração era filha de pais que não queriam falar dos acontecimentos que viveram: “O trauma da minha geração foi o que os nossos pais fizeram ao resto do mundo. Então dissemos ‘nunca mais’. E esse foi o principal ímpeto da minha vida, e ainda é. Olhando para 60 anos de fazer música e ver, neste momento, a fonte castanha nacionalista e o envenenamento da água por todo o mundo é muito triste, devo dizer”.

Muito criticado, desde então até hoje, como outros músicos do free jazz, Peter Brötzmann teve ‘lembretes’ ocasionais da perspetiva do ‘mainstream’ sobre a sua música, como quando, em 2021, o humorista norte-americano Jimmy Fallon escolheu o seu disco “Nipples” (1969) para enxovalhar numa rubrica intitulada “Lista para não tocar” (um trocadilho com ‘playlist’, em inglês).

Brötzmann riu-se perante o sucedido e, numa resposta à Rolling Stone, disse: “Ambos sabemos que o mundo está cheio de ignorantes e estúpidos, um mais ou menos, quem é que quer saber”.

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