MUVI 2016: ‘Hired Gun’, a ode aos músicos que ninguém vê

por Gabriel Margarido Pais,    4 Dezembro, 2016
MUVI 2016: ‘Hired Gun’, a ode aos músicos que ninguém vê

Decorreu esta quarta-feira mais uma das sessões semanais do MUVI 2016, o Festival Internacional de Música no Cinema, em Lisboa, onde tivemos a oportunidade de ver Hired Gun.

Este documentário, realizado por Fran Strine, prometeu garantir os 15 minutos de fama mais que merecidos aos músicos que ninguém vê, aqueles que trabalham mais do que todos os outros para garantir um álbum ou uma tournée de sucesso, e que muitas vezes nem ressalvados são. Tratam-se dos músicos contratados, aquele guitarrista ou baixista extra que não conhecemos quando vamos ver a nossa banda favorita.

Sendo o mais recente de uma série de documentários que, apesar de não relacionados entre si, tentam dignificar estes obstinados músicos, Hired Gun chega após filmes como The Wrecking Crew, que acompanha um grupo pequeno de músicos de estúdio que criaram alguns dos maiores hits dos anos 60 e 70. Este trabalho chega também na sequência de 20 Feet from Stardom, documentário que salientou a importância dos coristas (este filme viria a ganhar o Óscar para melhor documentário, no ano de 2012).

Para quem não está a par do conceito de hired gun, ou músico de estúdio, o filme tira as teimas bem no início: «um músico de estúdio é um assassino, o melhor músico disponível que é contratado para participar na tour e tocar para o artista. Ninguém saberá quem ele é, mas ele assegurará o concerto porque é um músico de elite». E se nomes como Liberty Devitto, Rudy Sarzo, John 5, Justin Derrico, Paul Bushnell, Phil X ou Brian Tichy podem ser desconhecidos, as suas obras certamente não o são. Afinal de contas, foram figuras como estas que que gravaram instrumentais (e por vezes vozes) para os álbuns de maior sucesso de artistas e grupos como P!NK, Phil Collins, Alanis Morissette, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Frank Zappa, Billy Idol e muitos, muitos mais.

????????????????????????????????????

Hired Gun leva-nos aos bastidores das pessoas que apesar de se ouvirem na rádio numa base diária, não têm em si os holofotes, reconhecimento ou dinheiro normalmente a essa vida associados, e ficamos a par de algumas das histórias mais peculiares deste estilo de vida. Aprendemos que no meio, os músicos escolhidos por Alice Cooper para com ele irem em digressão têm um selo de qualidade inigualável na indústria, e que de todos os tiranos que não dão o devido reconhecimento aos virtuosos a quem mal pagam, Billy Joel é o mais detestável de todos.

Em Hired Gun acompanhamos também algumas histórias mais complicadas dos músicos de estúdio, os momentos em que estes ganham um lugar de mais destaque que muitas vezes não são apreciados pelo público. Neste universo, os casos mais extremos foram os de Jason Newsted e Brad Gillis, que substituíram os falecidos Cliff Burton e Randy Rhoads em Metallica e Ozzy Osbourne, respetivamente. No filme, os artistas falam do peso que tem substituir músicos que para além de terem reinventado a maneira de tocar o seu instrumento, tinham um carinho muito grande por parte dos aficionados.

E se alguns músicos de estúdio chegam a ganhar algum renome, quer por se debruçarem sobre um projeto onde deixam de o ser – como é o caso de Jason Hook, dos Five Finger Death Punch, que saíu da banda de Alice Cooper para se dedicar exclusivamente à que agora é uma das bandas de metal em atividade com mais fãs do mundo – quer por serem tão virtuosos e sólidos no que fazem que se envolvem num misticismo difícil de alcançar, como o «Padrinho» dos bateristas de estúdio, Kenny Aranoff ou o lendário Buckethead (que teve uma pequena passagem pela banda Guns n’ Roses, aquando da gravação e lançamento do último álbum de estúdio da banda, Chinese Democracy).

Hired Gun é ultimamente uma ode aos músicos que não dão que falar, mas que todos idolatramos sem sequer nos apercebermos. É um grito do Ipiranga por parte de pessoas que sentem que fizeram muito para merecer um pouco mais do que aquilo que têm, sem nunca ter pedido para ter as suas caras em capas de álbuns ou os seus nomes nas páginas da Wikipedia. É um documentário tocante e íntimo sobre uma indústria onde nem todos são tratados de maneira igual e onde por vezes os mais virtuosos caem no esquecimento.

bom

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados