“Myopia”, de Agnes Obel: para não ouvir acompanhado
A dinamarquesa Agnes Obel traz-nos, no seu quarto álbum Myopia, uma melancolia inabalável que tem caracterizado todo o seu trabalho, mas que decide exacerbar neste último. Neste conjunto de 10 músicas temos uma fusão fantasmagórica do piano com cordas esparsas e a sua voz manipulada, que acaba por nos apresentar um álbum sinistro e cinematográfico, que será melhor ouvido sozinho. Myopia foi criado na sua totalidade no estúdio caseiro da artista, em Berlim, e é permeado por um ambiente sombrio e taciturno. O álbum conta com a participação de John Corban, no violino, e de Kristina Koropecki e Charlotte Danhier, no violoncelo.
O álbum inicia-se com “Camera’s Rolling”, fazendo lembrar uma marcha e dando o mote que nos irá acompanhar ao longo de todo este trabalho, que facilmente figuraria numa banda sonora de um filme de terror. Ao ouvir este trabalho, é inegável que existiu bastante experimentação envolvida na sua produção, nomeadamente na tentativa de juntar num só os diferentes instrumentos — desde as cordas e teclas, à voz da própria cantora. É esta tentativa de fusão que distingue Myopia de trabalhos prévios da artista.
Em “Broken Sleep”, é-nos pedido para sonharmos por ela numa faixa que a própria diz ter composto enquanto passava por momentos de insónia. “Island of Doom”, uma faixa sobre pesar com a voz da cantora em fusão permanente com o instrumental minimalista que a acompanha, é um dos pontos altos deste trabalho, em que os cerca de cinco minutos dão tempo para o crescendo instrumental que é pretendido.
Segue-se o instrumental de piano “Roscian”, que conserva o espírito sorumbático pretendido. Especial destaque para “Parliament of Owls”, com o início gentil ao piano que quase nos convencia de que esta seria uma faixa alegre. “Promise Keeper” é uma experiência cinematográfica, com o piano permanentemente em repetição e as vocalizações incessantes da cantora que inquietam quem as ouve. A faixa que dá o álbum por terminado, “Won’t You Call Me”, destaca a voz da cantora, provando que serve para mais do que apenas ser usada na criação do ambiente sombrio que se encontrou nas nove faixas anteriores.
Este quarto álbum de Agnes Obel não é de todo animador. Estamos longe da sobejamente conhecida “Riverside”, do seu primeiro álbum Philarmonics, evidentemente mais clássico. A evolução é, contudo, bem-vinda, e Myopia acaba por ocupar um lugar original e necessário no repertório contemporâneo da artista.