Não é o que lhes dizes, mas como as fazes sentir.
As pessoas, e permitam que eu generalize, tendem a diluir nas suas memórias ocupadas, o que lhes dizes, ainda que seja um elogio ou algo de carácter importante para ti mas nunca se esquecem de como as fazemos sentir. A comunicação contemporânea e boémia tornou-se tão plástica e descartável, grande parte ouve meramente com o desígnio de responder.
Sei que sempre foi assim, mas a humilhação não devia deixar mais marca que o enaltecimento. Por outro lado, o peso das palavras deveria ser definido por nós, porque é que nos deixamos afetar por mentiras que não ditam a nossa verdade? Sim o paisagismo perfeito seria sermos auto suficientes, confiantes e sólidos ao ponto de nenhuma opinião mexer com a nossa estrutura, mas deixemos de floreados. Em proporções diferentes todos nos importarmos, por pouco que seja, com alguma da opinião dos outros, são as sequelas de sermos uma espécie social.
Até que ponto o discurso mais polido é o mais correto, se não somos honestos com nós próprios? A escolha de palavras tira-nos o verdadeiro objectivo da expressão. Se por um lado temos o jornalismo que tem a responsabilidade de abordar a verdade a vários spectrums ou a ciência com o intuito de roçar as verdades absolutas, o nosso único código etnológico é expressar o que aqui vai, nestas inquietas mentes desarrumadas. Não deixa de ser necessário termos algum pulso firme com a nossa espontaneidade, a liberdade dos outros não deixa de começar onde a nossa termina. É muito fácil julgar, ofender ou desmotivar o outro, quando tens o conhecimento do que o afecta, e é nesse cruzamento que muitas vezes confundimos ou baralhamos a informação e o objectivo de uma conversa. Por vezes sinto que descarregamos demasiadas palavras mas comprimimos um tanto ou mais, do que sentimos. Seria também mais fácil se hoje em dia toda a gente não se ofendesse com tudo. Pode ser só um humor mais ácido ou uma resposta torta por ingenuidade, nem sempre é sobre nós, às vezes as pessoas não estão bem.
Temos sempre tanto a dizer que nem refletimos se podemos não estar a responder na minha altura, com o estado de espírito mais adequado. Glorificamos tanto a nossa pseudo sinceridade que pouco nos arrependemos do que dizemos a mais. Amor-próprio não significa que toda nossa informação é útil ou assertiva para os outros, mas sim orientativa e complementar para nós. É talvez por isso que a música é a linguagem mais poderosa e universal, por nos fazer sentir as palavras de um jeito nosso, intenso e introspectivo. Bob Marley escreveu a célebre frase “Uma coisa boa sobre a música, é que quando nos atinge não sentimos dor”.
As pessoas atrapalham-se e interrompem-se constantemente, não digo que seja propositadamente, mas poucas pessoas respeitam os tempos de antena de cada um, o “dedo no ar” para falar talvez se tenha tornado em mais um para apontar! Tende-se a calcular mais o que se mostra ao invés de pensar no que se diz. Ainda que os assuntos sejam tantos hoje em dia, e o tempo tão pouco para partilhar, poderíamos ser mais responsáveis no que toca a comunicar. Claro, existem padrões discriminatórios enraizados que também não facilitam o discurso nem uma expressão fluida mas não respondemos na mesma falta de conhecimento, podemos escolher deixar-nos consumir, ou de uma vez por todas quebrar a linguagem do ódio.
Não é o que lhes dizes, mas como as fazes sentir. É a forma como te pronúncias, as palavras que não gastas, o silêncio consegue manifestar mais que muito ruído. Não é sobre se concordas ou se a razão é tua, a conversa é um exercício a dois sobre dois pontos de vista. Nunca sabes quando o outro está num limbo e as tuas palavras se tornam as suas últimas, atirando-a borda fora, há quem já não precise de muito para saltar. É demasiado barato falar caro. Ouve com empatia, não escutes só por simpatia. Aceita um elogio e oferece outro, a vida é uma reciprocidade. Basta conversar, não é preciso condizer!
Crónica de João Sequeira Grilo.