Não há cá pão para malucos, mas há vacinas!

por Cronista convidado,    30 Agosto, 2021
Não há cá pão para malucos, mas há vacinas!
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Na obscura noite de 14 de Agosto, pouco depois das 22h, hora local, — digo-o desta forma para confundir os terraplanistas, visto que a iluminação da terra é relacionada com a sua forma curvilínea, mas pronto, é deixá-los decifrar esta —, à entrada da favorita danceteria e centro de vacinação de Odivelas, o Vice-Almirante Gouveia e Melo foi recebido por uma claque de energúmenos, que o apuparam e insultaram vilmente. Um deles ressoou mais alto: “Assassino!”.  O que matou mais o ambiente do que a própria Covid. 

Diga-se de passagem que, quando vi o meu Vice-Almirante — e sim, é MEU porque o vi primeiro! —, cercado, só e frágil nos seus quase dois metros de altura, boa largura de ombros, olhar  perfurante e camuflado militar… quase larguei tudo para buscar o meu e apresentar-me ao local gritando: “Sr. Almirante, conte comigo! Não há cá pão para malucos, mas há vacinas!”. 

A verdade é que ele estava bem munido de caráter e uma coluna vertebral impar, e isso tranquilizou-me um bocadinho. Então, rasgou aquele mar de energúmenos, como Moisés separou o Mar Vermelho, sendo que nesta ocasião tratava-se de um oceano de ignorância e obscurantismo… e real desta vez, vá. O que é muito pior, se formos a ver bem. Porque o obscurantismo, e os seus respetivos adeptos, raramente conseguem ver à luz da razão. Eu disse  “raramente” porque sou um optimista por natureza, ambos sabemos que, — eu e a ilustre leitora  ou leitor, que gabo-lhe a paciência para me ler, caso tenha chegado aqui —, o cenário é bem mais  tenebroso.  

É que vivemos numa incrível era do Iluminismo surrealista, onde os factos são cada vez mais maleáveis e diluídos de significado ou evidência às mãos do raciocínio que os encontrar. Servem  o propósito que se deseja, não necessariamente o que tem. Vivemos um período de excesso de  literalidade ou subjetividade, juízo precoce — a forma mais grave precocidade, em boa verdade — ou juízo inexistente, arruinaram-se as construções sobre o conhecimento erguidas pelos  maiores filósofos. Chegámos ao ponto em que, com enorme vontade e com uma boa dose de  martelada semântica, é possível verificar correlações entre quilómetros de estrada alcatroada no Wyoming com a natalidade no Nepal — se tiver tempo no fim-de-semana, vou averiguar isto. Há  aqui qualquer coisa que a OMS não quer que se saiba, cheira-me! O que não faltam são factos, dados e informações para todos os gostos e feitios, eis a génese problema. É que, se antigamente havia quem não soubesse ler, hoje parece que são poucos os que sabem refletir. Enfim, divago. Se a leitora ou leitor chegou até aqui, os meus parabéns. É que até eu já estou cansado de me ler. 

Em segunda análise, temo confessar-lhe que concordo com o infame insulto ao Almirante do meu  coração, esse “Assassino!”. É que, desde que ele tomou as rédeas do processo vi “o Homem” matar: a falta de organização e a falta de liderança do processo. Vi, sobretudo, aquela besta  estraçalhar as típicas práticas de compadrio e favoritismo partidário, ou o simples “amiguismo”. Esquartejou-os completamente com as suas armas de eficácia e competência, mostrando que um homem, apurado e selecionado meramente pela sua natureza de qualidades, faz toda a diferença. Ainda se faz de humilde e cândido, o desavergonhado! Tenho tanta fé neste homem  que, muito provavelmente, (muito mesmo) será o único com a habilidade de resolver a minha vida — para quem me conhece, sabe que isto é uma tarefa hercúlea.  

Acho bem que o chamem de “assassino”, devíamos todos fazê-lo, aliás, continuem! Sou capaz  até de me juntar ao vil coro de vozes para a próxima. Mas só se for este o significado: o Sr. Almirante veio “assassinar” a forma como se fazem as coisas neste país, o status quo. Talvez esta seja a grande “injeção” que realmente estávamos todos a precisar. Um bem-haja.  

Sr. Vice-Almirante Gouveia e Melo, se, por algum acidente ou falta de outro material de leitura mais interessante, der com isto, convido-o para um copo.

Crónica de Ricardo Lopes
Criativo de profissão, licenciado e pós-graduado em Gestão, mas sem saber gerir a vida.

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