Não há jornais de esquerda
Todas as sondagens indicam que a esquerda tem a maioria das intenções de voto. Se forem concretizadas as intenções de voto dos portugueses é possível que a esquerda tenha a mais extraordinária votação (em percentagem) da sua história. Alguns chegam a apontar (hipótese em que não acredito) a possibilidade de dois terços dos deputados poderem estar sentados à esquerda.
Isso reforça o paradoxo de a comunicação social, ao arrepio da tendência do país, estar conotada maioritariamente à direita. Os principais e mais influentes órgãos de comunicação são dirigidos por jornalistas com um pensamento ideológico alinhado mais à direita. Senão vejamos…
O Expresso, com a saída de Pedro Santos Guerreiro, é dirigido por João Vieira Pereira que assume, sem qualquer complexo, uma opinião de contrapoder à do PS de António Costa. Aliás, o jornal fundado por Pinto Balsemão tem estado na primeira linha do combate contra um crescente poder da esquerda – é como se o Expresso representasse hoje uma “ala liberal” em democracia.
O Observador foi fundado por liberais. Nasceu durante a ascensão ao poder de Pedro Passos Coelho. A sua opinião é fortemente ideológica. E o seu líder editorial é José Manuel Fernandes, porventura o mais influente jornalista de direita em Portugal.
Mesmo o Público, ideologicamente o mais equilibrado entre todos os jornais nacionais, assumiu com Manuel Carvalho (em comparação com Bárbara Reis) um papel muito mais de contrapoder à experiência governativa que ficará para a história com o (injusto) nome de “geringonça”.
Quanto ao Correio da Manhã, o projeto de maior sucesso, tem uma raiz (e uma essência) popular. E jogando a sério na proximidade com o público, dando às pessoas o que elas querem, mas fazendo-o com eficácia. Se um projeto político populista tivesse metade da eficácia do Correio da Manhã talvez as contas eleitorais se fizessem com outras máquinas de calcular. Ainda bem que isso não acontece.
Restam o Sol (de direita), o i (agora conservador) e o Diário de Notícias que deixámos de poder entender o que é – apesar de ter um diretor, Ferreira Fernandes, marcadamente de esquerda.
É apenas uma constatação. Que traz agregadas três conclusões: os jornais não têm grande influência no voto das pessoas, os donos do dinheiro investido apostam em projetos de direita e existe uma crise de pluralidade no jornalismo em Portugal.
– Para evitar alguns comentários previsíveis escrevo este texto sem qualquer ambição de regressar ao jornalismo. Recusei nos últimos três anos dois convites para dirigir jornais.