NFT (non-fungible tokens)

por Davide Pinheiro,    12 Março, 2021
NFT (non-fungible tokens)
“Everydays: The First 5,000 Days, do artista Beeple / Christie’s
PUB

Há uma sigla nova para descodificar. Com três letrinhas apenas se escreve NFT, ou seja non-fungible tokens. Quê!? Pode ainda não ter ouvido falar mas há gente a fazer muito dinheiro com estes activos digitais que, por contraste com a lógica disseminadora e democratizadora da cultura de Internet, são únicos e por isso não podem ser trocados.

Na prática, os NFT são peças digitais que, por serem únicas, podem valorizar milhões. Por 33 NFT, entre os quais acesso à música inédita no site oficial e uma canção personalizada, o produtor de EDM 3lau facturou a módica quantia de 9,7 milhões de euros. Grimes, a excêntrica artista pop e conhecida namorada de Elon Musk, o patrão da Tesla, recebeu cinco milhões de euros por um conjunto de obras de arte digital. Os Kings of Leon facturaram 1,7 milhões com NFT do novo álbum When You See Yourself. E os aderentes a este plano milionário não param de aumentar, de Shawn Mendes a Tory Lanez, e até sites como a XLR8R a anunciarem a entrada neste mercado. Igual a si mesma, Azealia Banks leiloou o NFT de uma gravação áudio de uma cena de sexo por pouco mais de 14 mil euros. Agora, está a valer mais de 250 orgásticos milhões.

Na prática, o NFT é uma tecnologia que grava informação diferente em cada activo. Um registo NFT transforma qualquer criação digital (uma canção, uma imagem ou até uma publicação) num ativo único, exclusivo e com autenticidade certificada por uma rede blockchain imutável, tal como as criptomoedas. Depois, há que olhar para as consequências deste leilão.

Uma canção pode salvar uma vida, mas um NFT só pode ser comprado por 1% da população. Aquela que detém a fatia de leão da riqueza mundial e se relaciona com o arte, sobretudo como um investimento e um sinal de… riqueza. Se um NFT servir para financiar o próximo EP ou o primeiro álbum de um novo artista, esplêndido, mas a probabilidade de acontecer é ínfima.

A grande conquista da cultura de Internet foi a de tornar a música mais acessível a todos, em todos os seus processos, desde a criação à difusão, mas a história das coisas é feita de reactividade e a lógica dos NFT é de exclusividade. E de valorização exponencial como uma obra de Francis Bacon ou…Banksy.

Este primeiro surto pode explicar-se por ser uma tecnologia nova e coleccionável, um factor raro no mundo digital. No tecnomundo, acredita-se que os NFT podem resolver parte do problema da monetização digital da arte mas para já, o dinheiro está a circular entre os mesmos. Será sempre assim?

Nos últimos vinte e cinco anos, o debate tecnológico dominou os painéis musicais de discussão, desde o Napster ao Tik Tok. Bem-vindos ao novo capítulo.

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Tags:

Artigos Relacionados