Nick Cave recorda como PJ Harvey acabou com relação que unia os dois artistas e como se “curou”
O músico Nick Cave voltou a responder a cartas de dois dos seus fãs (Ramon e Tanya) através do seu site The Red Hand Files. Cave, que usou uma imagem sua com PJ Harvey para ilustrar as suas respostas, revelou várias informações sobre a relação dos dois artistas e colocou em destaque duas questões dos seus fãs: “Porque desististe da tua relação com com PJ Harvey nos anos 90? Amo a música dela. Acho que ela é uma pessoa incrível e que escreve músicas brilhantes.” e “Tive um tempo difícil com a tua música, o meu namorado era fã, até “The Boatman’s Call”. Este registo falou realmente comigo. Podes explicar?”
Nick Cave respondeu da seguinte forma:
“Não fui eu que desisti da PJ Harvey, foi a PJ Harvey que desistiu de mim. Ali estava eu, sentado no chão do meu apartamento em Notting Hill, com o sol a entrar pela janela (talvez), sentindo-me bem, com uma jovem cantora, bela e talentosa, como namorada, quando o telefone toca. Atendo e é a Polly.
– Olá, digo eu
– Quero acabar contigo.
– Porquê?!, pergunto eu
– Porque sim.”
“Fiquei tão espantado que quase deixava cair a seringa”, disse Nick Cave que ainda revelou que o consumo de drogas “poderá ter representado um problema” na relação com PJ Harvey e que “Ainda tinha que trabalhar no meu entendimento do conceito de monogamia e suspeito que a Polly também tivesse os seus problemas, mas ao fim e ao cabo penso que éramos ambos pessoas de uma criatividade feroz, demasiado egocêntricas para conseguirmos habitar o mesmo espaço de forma significativa. Éramos como duas malas iguais, mas perdidas, num carrossel para parte alguma”.
Na altura, Nick Cave dedicava-se de forma intensiva a escrever canções e disse que “a entrega da Polly ao seu trabalho era, provavelmente, tão narcisista e egocêntrica como a minha, embora eu estivesse tão embrenhado nas minhas tretas que nem posso dizer com certeza. Mas lembro-me do tempo que passámos juntos com muito carinho. Foram dias felizes e aquela chamada doeu; mas não ia desperdiçar uma boa crise e pus-me logo a terminar o “Boatman’s Call””.
Apesar disso, e segundo o artista, o álbum lançado em 1997 “curou-o” da relação que teve com PJ Harvey: “Também mudou a forma como faço música. O fim da nossa relação deixou-me com uma energia lunática que me deu coragem para escrever canções sobre experiências humanas comuns a todos, de forma aberta, audaz e com significado – um tipo de escrita da qual, até então, me tinha mantido afastado, porque sentia a necessidade de esconder as minhas experiências pessoais em histórias com outras personagens”.