Nina Kraviz: a dentista que cura com boas gigs
Se escrevermos “de saltos altos” no Google os resultados da pesquisa não são muito diversos. Entre os blogs de moda, os artigos com dicas para os aguentar nos pés e as lojas de sapatos, não se encontram referências à mulher que põe música com eles calçados. E ainda dança do início ao fim da festa.
Nascida e criada em Irkustsk, na Sibéria, Nina Kraviz encontrou nos Led Zeppelin e Pink Floyd os primeiros elementos eletrónicos que despertaram em si um gosto pela música, outrora cultivado pelo pai – não só através do rock e do pop, mas também do jazz. Nos anos 90 o drum&bass, o IDM e o acid já dominavam a sua playlist, ao mesmo tempo que estudava medicina dentária; e foi nessa fase que conseguiu o seu primeiro emprego, como jornalista na revista de música russa Ptuch.
O que começou por ser um trabalho de DJ em festas de funk e que mais tarde evoluiu com a composição e co-produção na banda My Space Rockets, acabou por se tornar sério em 2006 quando foi convidada para participar na Red Bull Music Academy, em Melbourne. Esse foi, como disse em entrevista ao blog Fabric London, o seu verdadeiro ponto de viragem.
Ao mesmo tempo dentista e DJ residente na Rússia, Kraviz corria do Hospital dos Veteranos da Guerra para as gigs no Propaganda, em Moscovo. Sem uma intenção estabelecida, ia cuidando do corpo e da mente dos outros, como se tivesse nascido com essa missão. O caminho não é fácil quando se é uma mulher num mundo maioritariamente habitado por homens; o da música eletrónica. Quem o diz é a própria DJ no documentário Between The Beats: Nina Kraviz.
É no irregular que encontra a perfeição. Não lhe interessam sons limpos e mecanizados; é a única forma que tem de relembrar que é uma pessoa real que está por trás de um determinado mix. Também a sua voz humaniza a música que cria; na verdade, este é o único instrumento que Nina considera infalível, que sabe que poderá continuar a usar para lá de qualquer problema técnico.
“Ghetto Kraviz”, “I’m Gonna Get You” e “I’m Week” já fizeram abanar o chão um pouco por todo o Mundo. Dessa experiência nos clubs retira o espírito de família que sente com quem está lá para a ouvir, numa conexão que a consegue fazer esquecer, por momentos, que grande parte do tempo que está em tour é passado sozinha. O que resta depois de cada festa? Memórias.
Nina não precisa de mencionar o seu apelido para que saibam quem ela é. O trabalho de produtora e DJ fala por si, e não precisa de gritar que é mulher para ter mérito. É já neste sábado, dia 2, que vai estar no LISB-ON Jardim Sonoro no Parque Eduardo VII para trazer boas energias a Portugal. Com ou sem saltos altos.