No Tom de Festa, e na música, a tradição já não é só o que era
A musica É reflexo das transformações do país e, por isso, a música portuguesa tem evoluído ao longo dos anos. Na 32ª edição do Tom de Festa – Festival de Músicas do Mundo, artistas como Ana Lua Caiano, Expresso Transatlântico e Criatura, mostram como é possível inovar e respeitar a tradição, misturando os sons da tradição com influências contemporâneas
A música é uma das mais ricas e diversificadas expressões culturais de um país, e em Portugal as raízes da música tradicional ficou muitas vezes fora dos discos e grandes salas de espetáculo. Uma tendência que tem vindo a mudar através do trabalho de muitos artistas nacionais que olham para o que temos guardado no baú para projetar o futuro. Já dizia José Mário Branco, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e, por isso, questionamo-nos, neste munto em mudança: como é que os artistas contemporâneos podem inovar e respeitar essa tradição, utilizando tanto instrumentos tradicionais como novos objetos musicais?
Para entender melhor este processo, e aproveitando a 32ª edição do Tom de Festa, onde artistas como Ana Lua Caiano, Expresso Transatlântico e Criatura irão atuar, fomos em busca das suas perspetivas sobre a evolução da música tradicional e a intersecção entre passado e futuro, agora mesmo, no presente.
A banda Expresso Transatlântico, que têm a guitarra portuguesa como personagem principal, destacam que atualmente há uma mudança significativa na abordagem à tradição musical portuguesa. “Sentimos que há uma vontade de mexer com a tradição na música, e isso é positivo. A melhor maneira de fazer isso é desafiando as barreiras que impedem o crescimento de algo novo dentro da tradição”, afirmam. Para os músicos, o respeito pela tradição está em brincar com ela sem pudor, e os instrumentos utilizados são menos importantes do que a origem e o destino da música.
O trio também observa que o público está ansioso por ver essas mudanças. “Vivemos tempos desafiantes e a melhor maneira de avançar é desafiar o que nos dizem que está certo”, acrescentam, sugerindo que a inovação é uma resposta às expectativas e necessidades do público contemporâneo.
A cantora Ana Lua Caiano, uma one-woman band que concilia vários géneros musicais e instrumentos, oferece uma visão histórica sobre a música tradicional portuguesa, enfatizando que antigamente ela evoluía de maneira oral e muitas vezes sem registo. “Muitos músicos começaram a registar [as músicas] como Zeca Afonso, por exemplo, na canção ‘Milho Verde’, e muitas dessas canções tradicionais que antes existiam apenas na memória das pessoas começaram a ser registadas e passou a haver uma maior perceção das diferenças que existem em Portugal dentro da música tradicional portuguesa”, conta. “A música tradicional evoluiu e hoje em dia é possível gravar e utilizar uma variedade de instrumentos, o que permite uma continuação e evolução mais estudada e vigiada”, acrescenta.
Para a artista, é difícil falar pelo público, mas reconhece a diversidade nas interpretações da música tradicional. “Existem muitas variações desta música. Temos os Expresso Transatlântico que misturam fado com rock, os Bandua que combinam música tradicional com eletrónica, Rita Vian que une fado e hip-hop, entre outros. Para mim, que aprecio essa tradição, é algo que recebo com muito carinho”, partilha.
A banda Criatura oferece uma outra visão sobre como a música tradicional pode evoluir através de uma abordagem coletiva e experimental. O projeto começou com a intenção de reinventar a identidade da música portuguesa, unindo o tradicional e o eletrónico. Uma fusão de estilos que se evidencia na diversidade de influências e instrumentos utilizados pela banda, que assume a sua vontade de usar a música e a sua poesia para romper com padrões culturais saturados.
A música tradicional portuguesa está, sem dúvida, a caminho da contemporaneidade, desbravando novos territórios e ganhando novos significados num mundo em constante mudança. Esta fusão de estilos não só preserva a riqueza cultural da música tradicional portuguesa, mas também a revitaliza, tornando-a relevante para as novas gerações.
No ano em que o Tom de Festa realiza a sua 32ª edição, o palco será também destes artistas, que preservam na música o que fomos pensado em tudo o que ainda sonhamos ser. Ana Lua Caiano sobe ao palco na quarta-feira, dia 10, às 22h45, trazendo a sua abordagem única que mistura tradição e contemporaneidade através de ritmos etnográficos e poesia do quotidiano.
Os Expresso Transatlântico, atuam na quinta-feira, dia 11, às 22h45, e prometem uma viagem musical que combina a melancolia portuguesa com influências globais contemporâneas, tendo a guitarra portuguesa como protagonista.
A Criatura levará o público numa viagem pela memória musical popular na sexta-feira, dia 12, às 21h30.
Para além destes concertos, a programação fica completa com artistas de 10 países ao longo de quatro dias de festival, já na próxima semana. A programação completa do festival e os bilhetes estão disponíveis aqui.
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