NOS Alive 2022 (dias 3 e 4): a lealdade fica para sempre
Os últimos dois dias do NOS Alive 2022 prometiam dias esgotados para ver bandas que continuam a marcar gerações. Metallica e Da Weasel foram as grandes responsáveis pelas maiores enchentes da edição deste ano.
As t-shirts de Metallica preencheram o recinto num dia em que o palco principal se pautava pelo rock. O rapper britânico AJ Tracey – que até veio substituir Stormzy no cartaz – estava meio deslocado. Grande parte do público assistiu ao concerto com a serenidade de quem esperava pelos cabeça de cartaz. Ainda assim, uma fatia do público estava empenhada em aproveitar os sons do artista londrino, que depressa se apercebeu de que era naquele grupo que tinha de focar a sua energia. Ofereceu-lhes o espetáculo que queriam ver. Prometeu terminar o concerto com a música “Thiago Silva” se continuassem a apoiá-lo. Cumpriu e o público que veio ao NOS Alive para o ver saiu satisfeito com o sucesso que compôs em colaboração com o rapper Dave.
Com Royal Blood a conversa foi outra. O duo britânico já sabia que o público português não se acanhava nas suas atuações: os concertos que deram há uns anos no Coliseu de Lisboa e no palco Heineken do NOS Alive deixaram isso bem claro. O baixo do também vocalista Mike Kerr e a bateria de Ben Thatcher estão em perfeita harmonia desde o álbum de estreia, “Royal Blood”, lançado em 2014. É a impressão digital perfeita da banda, que continua a adicionar outros elementos às suas músicas. Nesta tour são acompanhados por Darren James nas teclas. Passando pelos vários e muitos sucessos do primeiro álbum, como a ritmada “Figure It Out” e a poderosa “Out of the Black”, também foram a “Lights Out”, do segundo álbum, e a “Trouble’s Coming” do terceiro. Com o público alinhado totalmente com a banda, foi um excelente aquecimento para os senhores que se seguiram.
A legião de fãs que se deslocou ao Passeio Marítimo de Algés conseguiu finalmente o que queria. Os Metallica já estão no topo há muitos anos, e começaram com “It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll)” dos AC/DC para nos garantir que estávamos prestes a ver um espetáculo digno de uma das maiores bandas de sempre. Não deixando nenhum dos grandes sucessos por visitar, o espetáculo teve direito a fogo de artifício, chamas e um jogo de luzes que atingia com força o público que, devido ao mar de gente, teve de assistir ao concerto bem longe do palco. Durante as cerca de duas horas de concerto quase ninguém arredou pé do palco principal.
No WTF Clubbing o dia foi dedicado ao hip-hop, com T-Rex e Holly a fecharem a noite. Mas coube a Lon3r Johny o difícil papel de tentar concorrer com Metallica. No palco Heineken os Três Tristes Tigres sentiram o mesmo. Acabaram por ser concertos para um público reduzido, mas certamente muito fiel.
Já perto das três da manhã, Pedro da Linha e Riot juntaram-se no palco Heineken para uma festa em que nem se percebia de onde vinha tanta energia a uma hora daquelas.
No último dia só se pensava na doninha que estava finalmente pronta para voltar. Depois de anunciarem o regresso no último dia de NOS Alive 2019, e após duas edições adiadas devido à pandemia, chegava o momento dos Da Weasel.
No entanto foi com as irmãs Haim que se sentiu o primeiro pico do dia. Este, Alana e Danielle entraram aos saltos, empolgantes, com o público a saber acompanhar em alguns momentos. Ficou a sensação de que podia a audiência podia ter dado mais. As irmãs bem tentaram: “Hoje é sábado em Lisboa, não há razão to ‘not go fucking crazy'” Ainda assim o seu pop rock bem americano conseguiu momentos de glória como em “Want You Back”. Quem sabe se não vão querer mesmo voltar.
À semelhança do que tinha acontecido com Metallica, também eram muitas as t-shirts dos Da Weasel que vagueavam pelo recinto. Provavelmente não em tanta quantidade, mas suficientes para se destacarem. Antes de subir a palco, a banda passou pela sala de imprensa. Equipados com camisolas da seleção nacional de futebol, sempre que os jornalistas arranjavam uma diferente formulação para perguntar se iam dar mais concertos ou lançar novos músicas, responderam que era “jogo a jogo”. E a tática para a partida que estava a começar foi complicada de montar. “O alinhamento foi difícil. É andar à porrada um bocadinho, os seis”, disse Virgul a rir. Mas tinham a certeza de que o plano era o certo e de que ia ser “um concerto brutal”. Seguiram para os bastidores após anunciarem que vai existir em breve uma biografia autorizada da banda.
Quando se sentiu que a qualquer momento o árbitro podia apitar para o início do jogo, o coração palpitava, todos tinham a consciência do que estava prestes a acontecer e da possível finitude do momento. Entram em campo, começa e a partir daí ninguém falhou uma sílaba. O público tinhas todas as letras em dia. Hits de 1997 despertaram as memórias de um tempo em que Carlão tinha o cabelo ligeiramente mais comprido. Os Da Weasel, uma das bandas portuguesas mais icónicas, estava mesmo de volta e continuava a partir tudo. “Re-Tratamento” levou a uma enchente de telemóveis a filmar. Tudo a cantar a uma só voz, como já tinha acontecido com outras tantas. Carlão, ou neste caso Pacman, até se engana no início de “Toque-Toque”, e tenta que recomecem. Mas ninguém ali quer saber se há falhas. Em momentos destes, de completa comunhão, as falhas não são falhas. Vá, a única falha que – talvez – alguém no público ousa apontar é o tempo que demoraram a regressar.
Apesar de só aparecer em vídeo no concerto de Da Weasel, Manel Cruz esteve mesmo de carne e osso no palco Heineken. Enquanto grande parte do público esperava por Imagine Dragons no palco principal, um pequeno grupo de pessoas juntava-se para Manel Cruz. O vocalista dos Ornatos Violeta apresenta-se em palco sozinho, numa plataforma com rodas, com um microfone, uma harmónica e três instrumentos de cordas. “Passaram dois anos desde que o concerto foi agendado, entretanto todos os outros elementos da banda já morreram”, brinca o cantor para um riso geral de quem já o esperava e dos muitos que se iam aproximando. Ao fim da primeira música, já com o espaço bem composto, simula tirar uma fotografia ao público e diz: “muito obrigado, até à próxima”. E seguiu até ao fim com interações entre músicas, algumas dignas do palco Comédia.
A meio de uma música falha, por segundos, a guitarra, mas o público mantém o ritmo com palmas e Manel Cruz não esmorece. O concerto prossegue ainda mais intimista, como se aquilo fosse a sala de estar ou o jardim do artista. “Ainda Não Acabei” e “O Navio Dela” surgem seguidas, cantadas com força e em uníssono. As músicas completamente despidas não retraem o público que quer mais quando tudo acaba. Não há tempo, que estão quase aí os Parcels. Manel Cruz sai de palco, o público dirige-se para outras paragens, só que de repente surge para um encore improvisado: “Disseram-me que tenho mais uns quatro minutos.” Todos os que pensavam sair voltam aos seus lugares. Com a guitarra nos braços, volta a sorrir o azar de uma falha técnica, desta vez prolongada. É com muito prazer que o público volta a manter o ritmo com palmas, sem perder a energia, e Manel Cruz recompensa terminando a canção com a ajuda do público e com uns acordes finais da guitarra que decidiu renascer. A cumplicidade foi bonita de se ver.
Antes de Two Door Cinema Club fechar o palco NOS para férias, Parcels começam o concerto no palco Heineken com uma enchente louca, e uma jam session de quinze minutos sem respirar. Sem hesitações de som, de luz, e de alguns copos a voar. Após um quarto de hora de concerto sem interrupções lá se dirigem ao público, que nunca deixou de estar ao rubro. Quando se tenta sair para chegar a tempo ao outro lado do recinto, a dificuldade não foi só conseguir sair fisicamente, mas também por saber que se estava a deixar para trás um dos concertos do festival. Esperando que do outro lado do recinto estivesse um equivalente.
Quando Two Door Cinema Club começa, sentia-se ainda o efeito Parcels, que prenderam o público no palco Heineken como poucas bandas conseguiram. Na primeira música surgem alguns problemas técnicos, superados novamente com a ajuda do público, que nunca desistiu de nenhum artista. O concerto em crescendo terminou com o efusivo “What You Know”, com os confetti deixados pelos Imagine Dragons a sobrevoarem o palco e já com bem menos espaço para saltar.
De acordo com Álvaro Covões, promotor do festival, estiveram nesta edição 210 mil pessoas, das quais 25 mil estrangeiros, de 98 países diferentes. O NOS Alive vai regressar no próximo ano, voltando ao formato de três dias. A 6, 7 e 8 de julho o Passeio Marítimo de Algés recebe a décima quinta edição do festival.