‘Nothing Feels Natural’, dos Priests, é ecléctico e inesperado
Priests são um quarteto norte-americano formado em 2011, que, até ao presente ano haviam lançado duas cassetes e um EP. Este último, Bodies and Control and Money and Power, despertou os críticos para as suas potencialidades, com um punk pop rápido, por vezes gritado.
O seu primeiro LP, Nothing Feels Natural, caiu no início deste ano como uma bomba: Não só consegue preservar a diversão inerente ao EP de 2015, como também impor-se como uma força de irreverência pelas palavras entoadas por Katie Alice Greer.
Sonicamente, é um álbum de punk, tornando-se ecléctico na incorporação de elementos inesperados, nomeadamente pela recorrência aos sopros no tema de abertura Appropriate e em Suck, que, ainda que presentes em ambos os temas se manifestam de formas absolutamente diferentes – no primeiro o saxofone dá corpo ao crescendo de inquietação gerada pela distorção dos instrumentos, e no segundo, a par do cowbell, recria o ambiente de art punk que recorda Why Choose, álbum dos Shopping de 2015.
Uma grande influência visível neste lançamento é também a de Riot Grrrl, o movimento dos anos 90, em que se viu o crescimento do fenómeno das bandas de punk rock femininas, fronteado por Bratmobile ou mais notoriamente Sleater-Kinney. Esta última banda é de realçar em particular se tivermos em atenção as sobreposições vocais em No Big Bang, a única música do álbum escrita pela baterista Daniele Daniele, que, numa história metafórica, critica o ridículo do mundano. Liricamente, é essa prostração da apatia social que predomina – porque diariamente nos deixamos consumir por um estado de “matter over mind” – coisa que Greer tenta repelir e evitar, como entoado em Jj, Nikki ou Puff, em que ouvimos “Accept the triumph of the machine”.
Uma música que sobressai é Nothing Feels Natural, um hino de rock alternativo, que se destaca pelo modo mais calmo e taciturno com que é abordada face às restantes músicas do álbum. É assim tratada pois Greer canta para nos desiludir das mentiras que nos tentam consumir todos os dias.
Este é então um álbum que deve ser escutado e não só ouvido. Que 2017 se encha de álbuns com tanta qualidade de composição sonora e lírica.