Nunca tanta gente viu o Sol brilhar na Caparica

por Magda Cruz,    20 Agosto, 2019
Nunca tanta gente viu o Sol brilhar na Caparica
Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA
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O Sol da Caparica, o festival que se realiza na Margem Sul, chega ao terceiro dia e recebe 31 mil pessoas – o dia mais lotado da história do festival. Desta vez, no dia 17 de agosto, vêm ouvir Capitão Fausto, Plutónio, Ludmilla, Richie Cambell, Guilherme Duarte e muitos mais artistas e humoristas.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Quem quis aproveitar tudo o que o Sol dava veio às cinco da tarde. Já havia música no palco secundário, com Truekey. Pouco depois, no palco comédia, Ricardo Cardoso apresenta-se ao serviço. O comediante que, juntamente com Guilherme Duarte, criou a série de sketches “Falta de Chá” está a dar os primeiros passos no stand-up. Para além de colegas são amigos e nota-se que têm um estilo de humor semelhante. Depois de umas quantas divagações, um momento insólito – é um heckler, ou seja, um membro do público que tenta interromper no espetáculo. Mas este não é um heckler qualquer, nada disso. É alguém que está fora do recinto d’O Sol da Caparica, mas suficientemente encostado à vedação para conseguir ouvir e tentar intrometer-se.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

A Ricardo Cardoso segue-se Vasco Correia. Ao contrário de Ricardo Cardoso, já anda nisto da comédia há muito tempo. Nota-se que está à vontade, apesar de estar a jogar fora de casa – a cidade do Porto. O público segue ao ritmo de Vasco e, por entre piadas, aborda a polémica Team Strada, um tópico recorrente em várias atuações dos comediantes que por aqui passaram.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Para fechar o Palco Comédia vem Guilherme Duarte, o tal BFF de Ricardo Cardoso, mas que nisto do stand-up já leva mais experiência. Este ano, mostrou ao país “Só de Passagem”, o seu segundo espetáculo a solo, que esgotou inúmeras salas por todo o país. À Caparica trouxe alguns dos melhores momentos desse espetáculo, mas não só. Abriu as hostilidades com uma “espécie de poema” dedicado ao festival que tem “boa música, mas também os DAMA.” Com o recinto bem composto, Guilherme termina a atuação interpretando uma “espécie de rap“- e quem aparece em palco? O amigo Ricardo Cardoso, que fica lá atrás a fazer de hype man. Encerrou-se a comédia n’O Sol da Caparica, mas a elevada assistência deixou água na boca para a próxima edição.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

No palco principal estão os Capitão Fausto e “Lentamente” põem-se à vontade e dizem “Faço as vontades” – à mãe e ao público. Dia 16, a banda esteve em Paredes de Coura e brilharam. Dia 17, n’O Sol da Caparica, são os primeiros a pisar o palco. Depois de algumas músicas, Tomás, o vocalista não consegue deixar de dizer que os Capitão se sentem em casa “quando a malta da frente está a cantar todas as músicas”, ao que Domingos, o guitarrista, acrescenta: “e os de trás também!”. Ninguém fica de fora da aura de paz descontrolada dos Capitão Fausto.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Estamos mesmo junto à praia e os músicos queixam-se do calor que faz. Domingos pergunta mesmo: “É para tirar outro botão?” É o tipo de interação engraçada que vai ganhando o público. “Vão é ver a minha barriga de quase pai…” Lá desaperta o botão da camisa, com a guitarra pendurada ao pescoço. Estes são os rapazes que estão “Sempre bem” e não será o sol que os vai incomodar. O foco de luz vira para Tomás quando chega a altura de um instrumental curto, mas muito melodioso, e essa luz não sai do vocalista até ao fim da “Amor, a nossa vida”.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

“Até aqui foi o aquecimento”, brinca Domingos depois de mais umas músicas. E que música veio a seguir? “Teresa”. Aqui dá-se o clic a um grupo de raparigas, que estavam em silêncio e batiam palmas de vez em quando. Agora saltam e cantam descontroladamente, apesar de a música mandar pôr “os pés no chão”. Talvez uma delas tenha o nome da canção.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Os meninos de Alvalade que têm amigos com “Boa Memória” tocaram a última nota da atuação mesmo na borda do palco. O público estava a adorar. “Meus queridos amigos, a nossa estadia foi curta, um grande beijo porque sem vocês não existimos!”, diz Tomás. Os Capitão confessam levar o Sol no coração e, ao som de “Here Comes the Sun”, dos The Beatles, acenam aos festivaleiros.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

No chamado palco secundário sobe a palco um artista que não é, de todo, secundário. Se fosse um espaço com lugares contados, o espaço à frente do palco estaria sobrelotado. Plutónio obrigou o público a tomar uma decisão difícil: ir ver Boss AC ou ficar a acompanhar o ritmo contagiante que levava. Muitos foram os fiéis que mostraram não ter ido apenas ver os hits “Cafeína” e “Meu Deus”. Ficaram por lá até ao fim e sem nunca duvidar da decisão que tinham tomado.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

O sol já se escondeu. Boss AC está no palco principal e é a sua vez de cantar as palavras “Lisboa, levanta-te!”. Como já escrevemos, os dias do Sol da Caparica coincidem perfeitamente com os dias de Woodstock. O festival americano, que teve a sua primeira edição há 50 anos, foi apresentado como “3 Dias de Paz & Música”. Com Boss AC, lembramo-nos de novo desse icónico festival. Ele canta: “Ao Sol da Caparica, paz e amor” e vê o recinto a encher cada vez mais e mais para ouvir a sua música.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Boss AC relembra-nos do cartaz luxuoso que o Sol recebe e faz os festivaleiros gritar “O que é nacional é bom!” É uma “boa vibe” que envolve bem o público. Aliás, AC repetiu várias vezes “As vozes são vocês.” Quando chega o momento da “Tu és mais forte”, os festivaleiros não resistiram em cantar bem alto esta música fortalece todos e cada um. Depois disso, quem não se conteve foi Boss: “Levo muitos anos disto e ao fim desses anos ainda me consigo emocionar e acreditem que estou emocionado.” O artista disse não querer dar sermões a ninguém, mas pediu que cada um acreditasse em si mesmo. Depois de cantar as palavras “a festa é aqui”, Boss AC chama Supa Squad ao palco para cantar “Catchupa Sab”.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Substituição no palco principal. Sai Boss AC, entra Gabriel O Pensador, que canta para um recinto ainda mais cheio. Confessa-se com “Tô Feliz (Matei o Presidente)” – e mesmo na frontline uma rapariga grita bem alto “Fuck Bolsonaro”, assim que a música termina – e com essa vibe de pregador, que bem o caracteriza, continua. Filma o público e os elementos da banda com o telemóvel, solta um freestyle, um pouco de AC/DC e chega à música que o deu a conhecer a muitos dos fãs presentes: 2, 3, 4, 5, meia… vocês sabem o resto, não é?

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Ao mesmo tempo que Gabriel O Pensador, no palco secundário, surge Mishlawi, mais um artista com selo Bridgetown, tal como Plutónio. O público de Plutónio parece não lhe fugir. Encanta com o seu álbum “Solitaire” e confessa que esteve à espera deste concerto “o ano inteiro”. Lá pelo meio, inicia “Uber Driver”, provavelmente o seu maior hit, somente acompanhado por uma guitarra, até que a música explode na sua versão original e o público explode com ela.

Fotografia: O Sol da Caparica

Entretanto, no palco principal, ouvíamos cantar em brasileiro e assim continuamos. Ludmilla diz “Hello Mundo”, com o apoio de quatro dançarinas. Vestidas de florescente, brilharam “mais que flash” e o público relaxou porque a noite prometia. Ludmilla chegou mesmo a assumir o lugar do baterista, mostrando que quem manda é ela.

A esta hora, não se consegue andar pelo recinto de tão cheio que está. Tal como Woodstock, o Sol da Caparica está esgotadíssimo (a uma escala menor, claro). Ludmilla canta sobre liberdade da mulher, sem preconceitos: “Eu tenho 1,80m. Não dá para me colocar numa caixinha.” A festa continuou com muita dança programada. Mesmo com a falha no microfone de Ludmilla no final, o público endoideceu quando a artista desceu do palco e percorreu todo o corredor que divide os festivaleiros, como se de uma passerelle se tratasse.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

Já passa da meia noite, por isso, “When I say Richie, you say Campbell”. Richie! Campbell! Ele entra em grande. O público não tira os olhos dele nem da mala vermelha que traz e que contrasta com toda a roupa preta que veste. “Felizmente ou infelizmente não atuamos muito em Lisboa”, diz Richie, “mas ainda bem que o bilhete é barato para poderem estar aqui”. A música que faz sentido ouvir agora é “I Feel Amazing”. Richie parece estar num dia muito bom e a ligação com o público está muito forte. Ele põe um sorriso nas caras de todos com a música “Stress”. Na dele, o sorriso já lá estava.

O recinto está cada vez mais lotado. A CCA sabe que este foi o dia mais cheio desde que o Sol se realiza, desde 2016. “Já percebi que isso está apertado aí dentro. Alguém quer água?”, pergunta Richie, atirando uma garrafa de água para o público. A atuação continuou, calorosa, mexida, envolvente. Richie diz estar em casa de tanto apoio que está a ter. A surpresa para o público foi a subida a palco de Plutónio e (quase) de Mishlawi, que não conseguiu cantar “RAIN” por causa de uma falha no microfone.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

“Quanto tempo tenho?”, perguntou Richie. A resposta: quatro minutos. Richie queria aproveitar todo o tempo da sua hora (e um pouco mais) e levou o público ao rubro com uma versão cada vez mais rápida de “Slowly”. Richie agradeceu todo o apoio, pediu aplausos para a The 911 Band, que o acompanhou e prometeu continuar a trabalhar. Depois do verão há novas músicas.

Fotografia: Gustavo Carvalho/CCA

O final do terceiro dia estava a chegar. A seguir? Karetus. O grupo trajou a rigor e não esperou para dar início à chuva de confetis, chamas e fumo. O último dia d’O Sol da Caparica conta com Ruben da Cruz, Pete Tha Zouk e Diego Miranda. A parte da manhã tem um programa dedicado aos mais novos e o palco Dança também não para.

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