O apocalipse online

por Rodrigo Coutinho,    7 Outubro, 2021
O apocalipse online
PUB

Estudante de Ciências da Comunicação, Youtuber, Podcaster e procrastinador nato. Mais conhecido por By Coutinho no Youtube onde cria vídeos semanais sobre a atualidade ou temas aleatórios, sempre com base no humor.

Parece que a civilização Maia acertou mesmo ao lado na sua famosa previsão, o fim do mundo não aconteceu em 2012, mas sim na passada segunda-feira, 4 de Outubro. Era uma segunda-feira como tantas outras, acordei com um sentimento de injustiça por não ter sido convidado para os Globos de Ouro, chorei em posição fetal durante um quarto de hora e segui com o meu dia.

Durante essa mesma tarde, o inesperado acontece por volta das 16:30, um apagão toma conta da internet, todas as empresas do Facebook que inclui o WhatsApp, Instagram, Messenger, caíram num estrondo silencioso. Tal é o meu espanto quando, a minha procrastinação no Instagram é interrompida por mensagens de erro! Claro que o primeiro pensamento que me vem à cabeça é o clássico “já experimentou desligar e voltar a ligar?”, é um truque que nunca me falhou, mesmo quando a minha avó estava internada no Hospital foi isso que a salvou, tinha atualizações em falta.

Ao início pensei que se tratasse de um pequeno erro, que facilmente a vida retornaria ao normal e eu não teria de conviver com pessoas, ou pior, ler um livro. Estava longe de ser assim, as redes sociais mais usadas do mundo ficaram fora de serviço durante várias horas. A única que estava de pé era o Twitter, o corajoso pássaro azul manteve-se forte e acolheu todos os refugiados online, as organizações humanitárias que metam os olhos nesta associação. Quem mais sofreu nestas horas de angústia foi a classe “Influencer”, impedidos de publicar fotos do jantar, foram obrigados a optar por um jejum intermitente até ás 23:00, quando tudo voltou ao normal.

No meu caso vi-me obrigado a comunicar por SMS, essa maravilha de 2005, que mais parece a Bic dos novos tempos. SMS, é o acrónimo para short message service, uma forma de comunicação offline que nós da idade da pedra usavamos para falar uns com os outros. Sei que não parece tão cativante como o WhatsApp, mas era isso ou enviar sinais de fumo. Aproveitei estas horas de aflição para fazer uma pequena introspecção sobre o impacto das redes na minha vida. Parece pouco saudável este vicío online que temos vindo a criar nos últimos anos, esta bola de neve que só tende a crescer a cada ano que passa. Acho que é óbvio que tanta partilha online, é resultado duma enorme necessidade de aprovação, o que é normal numa geração que se compara constantemente com os outros. Nas redes sociais a vida dos outros é sempre melhor, o que comem é sempre mais saboroso, o que vestem é sempre mais caro, o que dizem é sempre mais estúpido. Assim que ficamos umas horas sem essa aprovação de terceiros, é o fim do mundo! Então somos livres com estas redes ou seremos apenas prisioneiros delas. 

Bem, quer isto tudo dizer que eu penso que somos muito mais felizes fora da internet? Sim, mas sou hipócrita e vou continuar a ser mais um viciado como todos os outros, vou continuar a partilhar o meu robalo de domingo, mostrar que acordei às 7:00 só para ir ao ginásio e partilhar publicações de criancinhas desfavorecidas só para ganhar uns likes fáceis. Esta corrida online pela felicidade é um paradoxo, porque no fundo todos sabem que a verdadeira felicidade está longe dos ecrãs. Posto isto, vou partilhar esta crónica no Facebook pois preciso de comentários e partilhas, o meu ego está com larica. 

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.